29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-12C - GT 12 - Estudos de Mídias e Descolonização da Comunicação |
31041 - SAÚDE E POLÍTICA: A PRODUÇÃO DOS SENTIDOS ATRAVÉS DE CHARGES NOS CEM PRIMEIROS DIAS DO GOVERNO BOLSONARO JOÃO VERANI PROTASIO - UFF E FIOCRUZ, NILSON ALVES DE MORAES - UNIRIO
Apresentação/Introdução
Esse trabalho é de fruto de pesquisa em parceria entre o Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e o Observatório Saúde nas Mídias, projeto que consiste no monitoramento de diversos meios de comunicação, análise da produção midiática dos sentidos sobre a saúde e circulação de suas pesquisas, vinculado ao Laboratório de Pesquisa em Comunicação e Saúde (Laces), da Fundação Oswaldo Cruz. Cem primeiros dias, no campo político e da comunicação, é mais que um período do tempo, assume um sentido de fidelidade e compromisso com teses ou articulações que seriam próprios da etapa eleitoral e partidária, cercado de expectativas e/ou temores. O velho não foi totalmente superado e o novo ainda não esgotou ou aniquilou o tradicional. Um governo ao ser instalado e durante o percurso se preocupa em ser notícia ou produzir notícia que valorize seus feitos e intentos. A charge é, como parte da linguagem jornalística, um pouco linguagem escrita e um pouco uma construção imagética, em parte responsável pelo avanço da análise e da compreensão dos fatos cotidianos da sociedade e dos grupos sociais. Desde o início do século XX, as charges estão presentes nos jornais. As charges são modos de produção e ressignificação de sentidos que interferem na produção e compreensão dos fatos, processos e relações; é modo de apresentação dos atos, defeitos e virtudes; é modo de contextualização e estetização que descreve, reinterpreta e reinventa.
Objetivos
Analisamos, em nosso trabalho, o comportamento e direções das charges publicadas em três jornais impressos nos cem primeiros dias do governo Bolsonaro, objetivando compreender especificamente a produção de sentidos sobre a saúde. Interessam os principais temas, os personagens mais presentes, as situações e instituições referenciadas. A pesquisa pretende contribuir para a consolidação das discussões sobre o papel da mídia no processo de manutenção-reforço-legitimação ou contestação-crítica-deslegitimação do poder de grupos dirigentes, muitos deles de caráter oligárquico e explicitamente excludente, que detêm ou influencia o aparato comunicacional que - aparentemente - se servem da desconstrução midiática daqueles a que sucedem.
Metodologia
Foram analisadas as charges e seus co-textos em três jornais impressos de maior tiragem no país - Super Notícia (MG), O Globo (RJ) e Folha de S. Paulo (SP) – durante o período de 1 de janeiro a 10 abril de 2019. Entende-se aqui a comunicação como um mercado simbólico (ARAUJO, 2000), onde os sentidos sociais são produzidos, postos em circulação e consumidos. A imprensa, que a princípio teria o papel de quarto poder, fiscalizando os outros poderes, passa a atuar sobre eles (ALBUQUERQUE, 2000), tendo importância no poder de fazer ver e fazer crer (BOURDIEU, 1989) da sociedade. Cabe ao analista de discursos reconstituir os dispositivos de enunciação das matérias, identificando as vozes presentes e ausentes e seus processos de legitimação, relacionando com as suas condições de produção.
Resultados e discussão
A Folha de S. Paulo foi o veículo que mais publicou chamadas sobre saúde na capa (32) e que tinha o maior número de chargistas, mas apenas dois deram atenção exclusiva à questão sanitária. O jornal O Globo, apesar de ter tido 24 chamadas na capa relacionadas à saúde no período, não publicou nenhuma charge diretamente com esse foco. Já o Super Notícia foi o mais deu visibilidade ao tema da saúde com cinco charges. Todos os jornais e seus respectivos chargistas voltaram os holofotes para a conjuntura política, de forma mais ou menos crítica ao novo governo, alguns sobre os bastidores das tramas políticas e seus personagens (bate-bocas, polêmicas, gafes...) e outros sobre as questões suscitadas (projetos de lei, tragédias sócio-ambientais, violência...) de forma mais ampla.
Conclusões/Considerações Finais
Pôde-se perceber que os discursos sobre saúde e política dos três jornais tiveram abordagens diferentes, assim como as representações através das charges, concorrendo pela hegemonia dos sentidos. A questão da saúde, no entanto, não foi tomada como central em nenhum veículo, que deram prioridade no seu espaço para outras pautas.
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