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Grupos Temáticos

30/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-12D - GT 12 - Direitos Humanos e Descolonização da Comunicação

30550 - COM A BOCA NO TROMBONE: POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NEGOCIANDO E DESENHANDO VISIBILIDADE
NADJA MARIA SOUZA ARAÚJO - ICICT/FIOCRZ, INESITA SOARES DE ARAUJO - ICICT/FIOCRUZ


Apresentação
A população em situação de rua é um fenômeno mundial, reflexo das desigualdades sociais, agravado sempre que há uma crise econômica. No Brasil, o último levantamento numérico dessa população foi realizado pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada em 2015, e concluiu que existiam 108 mil pessoas vivendo nas ruas naquele momento.
Como parte de uma pesquisa de doutorado que busca entender as diferentes compreensões sobre corpo, saúde e cuidado nas políticas de saúde voltadas para essa população e na rua, onde a experiência é vivida, buscamos analisar as estratégias e os discursos dessa população na procura por interlocução e construção de visibilidades.
Desde o início dos anos 2000, essa população vem se articulando em movimentos organizados, garantindo sua participação em espaços de decisões de políticas públicas e construindo a sua própria visibilidade.
Jornais como “O Trecheiro” de São Paulo, circulam desde 1991, criado pela ONG Rede Rua, é escrito por pessoas em situação de rua, voluntários, colaboradores e afins à causa. Além de São Paulo, outras cidades brasileiras têm jornais e revistas que narram as histórias da população que vive na rua, como é o caso dos jornais Boca de Rua em Minas Gerais e Aurora da Rua na Bahia e da revista Traços de Brasília. Essa última produzida por jornalistas e demais colaboradores, com foco na cultura, em cada edição conta histórias de pessoas que vivem nas ruas.
A internet e as redes sociais, porém, têm possibilitado que a PSR seja protagonista na forma de relatar suas histórias. Todas as representações do Movimento Nacional da População em Situação de Rua nos Estados têm sítios ou páginas em redes sociais.
Objetivo
Identificar os códigos e estratégias de comunicação utilizados pela População em situação de rua para uma maior visibilidade e centralidade discursiva.
Metodologia
Monitorar e analisar o conteúdo das seguintes páginas da Internet cujos protagonistas são as pessoas em situação de rua.
1. Página no Facebook do Movimento Nacional da População em Situação
de Rua/RJ – criada em agosto de 2014
2. Página no Facebook do Movimento Nacional da População em Situação
de Rua/DF – criada em 2016
3. Página DF Invisível – criada em outubro de 2014
4. Página Rio Invisível – também de outubro de 2014
5. Página do Observatório do Povo da Rua – de abril de 2015.
Discussão
As duas primeiras páginas, no Facebook, são alimentadas por membros do movimento que divulgam atos realizados por eles, como reuniões com órgãos da administração pública e do judiciário, bem como com outras entidades e organizações religiosas. As páginas não são alimentadas com periodicidade ou preocupação com estilo e estética jornalística. Assim, tanto a linguagem não tem um padrão definido, como, se em alguns momentos têm muitas postagens, em outros passam períodos longos sem atualização. Nas duas não há muito espaço para a fala individual dos representados, mas fazem a comunicação institucional do Movimento. Uma comunicação como forma de existir, porque rompe com o conjunto monocultural de saberes, de classificações sociais, de produtividade, de tempo. (SANTOS, 2010)
As páginas DF Invisível e Rio Invisível são produzidas e moderadas por militantes e voluntários da causa e trazem relatos das pessoas sobre suas histórias de vida, sobre viver nas ruas e sonhos futuros. A página do Rio de Janeiro é mais dinâmica e atualizada que a de Brasília e mantém um padrão de narrativa mais estável.
A página Observatório do Povo da Rua divulga diversas matérias publicadas no Brasil e no mundo sobre a população em situação de rua e sobre direitos humanos de uma forma geral, também divulgando algumas reportagens sobre política brasileira, mas não tem produção própria. Funciona mais como uma clipagem e/ou repositório de reportagens de interesse da população em situação de rua. Foi incluída na nossa pesquisa porque nos oferece um acervo para comparação dos sentidos produzidos pelas mídias alternativas do movimento e os demais veículos no Brasil e no mundo.
Considerações Finais
As análises iniciais já permitem algumas aproximações com as mudanças de posição das pessoas ouvidas. Por exemplo, o código hermenêutico (Barthes, 1992), que tem a ver com a forma como organizam o discurso em todas as narrativas já analisadas, permite ver que mesmo em situações adversas, algumas delas tomam para si a responsabilidade por estarem morando nas ruas, seja porque fizeram “escolhas erradas” de parceiros ou de condução da própria vida, seja porque optaram pelo rompimento dos laços familiares, por exemplo.
Também é possível notar uma busca por um protagonismo na vida que levam nas ruas, poucos discursos convocam a piedade do outro ou uma posição de inferioridade por estarem em condições tão desiguais. Ao contrário, mesmo sem grandes elaborações textuais, é presente a ideia de regulação social pelo Estado, pelo mercado e pela comunidade. Ou seja, está presente nos discursos a tensão entre regulação e emancipação social.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900