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Grupos Temáticos

30/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-12D - GT 12 - Direitos Humanos e Descolonização da Comunicação

30681 - PRODUÇÃO DE SENTIDOS SOCIAIS, INTERCULTURALIDADE E MEDIAÇÕES DA SAÚDE CIGANA EM BRASIL E PORTUGAL: UMA CONSTRUÇÃO DECOLONIAL NO CAMPO DA COMUNICAÇÃO E SAÚDE
ALUÍZIO DE AZEVEDO SILVA JUNIOR - FIOCRUZ, INESITA SOARES DE ARAUJO - FIOCRUZ, MARIA NATÁLIA RAMOS - UAB


Gostaríamos de apresentar e compartilhar nesse congresso o relato de uma pesquisa de doutorado realizada no Programa de Pós-Graduação em Informação, Comunicação e Saúde (PPGICS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, com doutoramento sanduíche no Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais (CEMRI) da Universidade Aberta de Lisboa (UAb), em Portugal. Os resultados aqui expostos de forma muito resumida são fruto de um esforço para mapear e analisar os processos interculturais de comunicação (produção, circulação e apropriação) das políticas públicas de saúde para ciganos no Brasil e em Portugal, por meio de um arranjo epistemológico-teórico-metodológico híbrido e multirreferencial fundamentado em quatro matrizes: os estudos decoloniais, pela via das Epistemologias do Sul (Santos, 2016), os Estudos Culturais e Estudos Semiológicos, pela via do modelo da Comunicação como Mercado Simbólico (Araujo, 2002) e da Comunicação Intercultural em Saúde (Ramos, 2008, 2012, 2017) e a filosofia cigana, que tomamos como um quarto modo para a construção e análise da comunicação na saúde cigana. Organizamos nossas reflexões tendo como eixos as desigualdades sociais e as mediações em torno dos processos de apropriação de tais políticas por parte das pessoas romani. Trata-se de uma construção dialógica, realizada no campo da Comunicação e Saúde (C&S), cujo principal objetivo se pautou por analisar – e comprovamos – se as violências físicas e simbólicas expressas pelas políticas persecutórias e racistas, respectivamente, aplicadas historicamente pelos Estados brasileiro e português contra as pessoas ciganas, que deixaram um rastro de pobreza e exclusão, impactam as condições e situações de vida e saúde dessas comunidades, incluindo aí sua relação com o sistema público de saúde. A aplicação de procedimentos pautados nas Epistemologias do Sul e em seus componentes, como as sociologias das ausências e das emergências e as ecologias dos saberes e dos reconhecimentos, nos possibilitou a construção de um saber compartilhado junto ao movimento político cigano, valorizando as suas vozes, olhares e saberes, que foram silenciados ou invisibilizados pelas sociedades ocidentais e a ciência hegemônica, comprovando que mantêm uma sofisticada filosofia de vida, que estrutura um sistema de ação e organização sociocultural, lhes permitindo resistir às opressões e dominações do capitalismo e do colonialismo. Já as categorias trazidas pela perspectiva da comunicação como um mercado simbólico e sua matriz de mediações, nos permitiu mapear os principais interlocutores, suas comunidades discursivas e seus fatores de mediação, revelando contextos da elaboração, circulação e apropriação da saúde cigana nos dois países. Para dar consistência e horizontalidade entre as vozes ciganas que participaram da pesquisa de campo, as vozes teóricas e acadêmicas e às vozes oficiais estatais, que já têm alto poder de interlocução, colocamos em prática uma metodologia experimental, baseada numa matriz fílmica decolonial, intercultural e semiológica, aos moldes antropológicos compartilhados de Jean Rouch, mas hibridizada com elementos das três matrizes mencionadas. Entre os conceitos aportados, destacam-se: a provocação, a negociação e a criação em (Rouch, 2007 e Ramos, 2005, 2012 e 2016), o lugar de interlocução (Araujo, 2002), a tradução intercultural e tradução interpolítica (Santos, 2007 e 2017) e a criação (Rouch). Esse entrelaçamento viabilizou tanto o mapeamento do fluxo comunicacional e simbólico, como de produção de um conhecimento com as pessoas ciganas e não sobre elas, o que fez toda diferença. Como resultados, comprovamos a pertinência do conceito de Tradução Intercultural para a produção de um conhecimento crítico e decolonial na área da comunicação e saúde, visto que, entre as inovações do nosso trabalho está a concretização do início de um intercâmbio de saberes entre os movimentos políticos ciganos brasileiro e português. O que proporcionou uma intervenção na realidade estudada, denunciando ausências e negligências na saúde cigana, além de fazer emergir questões como: contextos e temas comuns, diferenças, demandas e lutas por igualdade racial e inclusão comunicacional na saúde. Mas, a comunicação só será emancipatória e decolonial, transformadora das injustiças sociais e propulsora da cidadania a se trouxer a possibilidade do exercício do direito à comunicação, que converte o ator social em ator político, para agir e transformar o mundo.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900