28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-27A - GT 27 - Militância Antimanicomial e Autonomia dos Usuários |
30555 - GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE PROTAGONISMO POLÍTICO EM SAÚDE MENTAL NO SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE
IASMIN SHARMAYNE GOMES BEZERRA - EMCMUFRN, ANA KARENINA DE MELO ARRAES AMORIM - UFRN, JÉSSICA SOARES DA ROCHA - EMCMUFRN, RAUL TORRES AÇUCENA - EMCMUFRN, JUVANE NUNES MARCIANO - UFRN, INDIANARA MARIA FERNANDES - UFRN
A produção de subjetividade contemporânea tem incidido sobre a criação de formas de vidas normalizadas. Dessa maneira, pensando a normalidade como estratégia de regulamentação da vida em tempos de biopolítica, percebe-se uma sociedade medicalizada, onde a psiquiatrização, a patologização e a medicalização passam a ser fenômenos que ganham relevância no campo da saúde coletiva e da saúde mental, mais especificamente. Por isso, estratégias que procuram pensar criticamente esses fenômenos e produzir formas de enfretamento a eles parecem pertinentes como objeto de intervenção. Assim, a estratégia de Gestão Autônoma da Medicação - GAM, desenvolvida em contexto canadense e depois adaptada para o Brasil passou a ser um recurso utilizado no campo da saúde mental, buscando promover estratégias de desmedicalização; enfrentar a centralidade do poder médico psiquiátrico; promover acesso a informações para usuários sobre o seu próprio tratamento; promover cuidados para além do uso de psicofármacos e fortalecer o protagonismo político das pessoas em sofrimento psíquico em seus territórios existenciais, sociais e comunitários. Com base nessa proposta, esse trabalho objetiva relatar a experiência de pessoas em sofrimento psíquico com uso crônico de psicofármacos na atenção básica à saúde em um grupo GAM, numa cidade do interior nordestino brasileiro.
O contexto da atenção primária enquanto um lugar de promoção, prevenção e redução de agravos de doenças no SUS e considerado espaço estratégico para a promoção de saúde mental deve ser pensada em práticas intersetoriais, interdisciplinares e multidisciplinares, sendo, portanto, espaço interessante para uma experiência em GAM.
O Grupo GAM em questão foi formado em uma unidade básica de saúde com a participação de residentes em Atenção Básica de uma Escola Multicampi de Ciências Médicas do Rio Grande do Norte, de profissionais do Núcleo de Apoio a Saúde da Família – NASF e do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). O grupo que se intitulou como “GAM-Mulheres”, foi formado por 15 usuárias; 2 psicólogos, 1 farmacêutico, 1 enfermeira, 1 profissional de educação física (residentes); 1 psiquiatra do (NASF) e 1 psicólogo do (CAPS). Foram realizados 24 encontros, que ocorreram entre os meses de outubro de 2018 e maio de 2019. Os encontros foram formados com base nos pressupostos metodológicos da análise institucional francesa, pensando os Grupos GAM como auto-gestivos e autoanalíticos. A análise da experiência indica que o grupo GAM promoveu protagonismo político das usuárias participantes, pelo desenvolvimento de uma posição crítica relativa aos seus direitos enquanto usuárias do SUS, compreendendo o seu papel e lugar na gestão do seu cuidado em saúde. Foi observado também o fortalecimento da co-gestão do cuidado, através da partilha de saberes entre usuárias e profissionais da saúde mental, como também nos espaços da comunidade, envolvendo a produção de novas práticas de cuidado não medicalizantes, além de saberes sobre a gestão do uso de drogas psiquiátricas como estratégias valiosas para a promoção da saúde mental dos usuários em seus múltiplos territórios. Concluímos que a realização do Grupo GAM no contexto da atenção básica pode potencializar o cuidado, potencializando a participação social e política, a co-gestão e a produção de cuidado não medicalizante que se amplia para as redes de atenção, notadamente, para a rede de atenção psicossocial.
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