28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-27A - GT 27 - Militância Antimanicomial e Autonomia dos Usuários |
31347 - O USO DA GUIA DA GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA PIONEIRA EM CAMPINA GRANDE-PB. ANA ROSA MARIA FELIX DE SOUZA SANTOS - UFCG, MARISTELA DE MELO MORAES - UFCG, SARAH RAQUEL IZIDRO UMBELINO DE SOUSA - UFCG, RICARDO BRENO FERNANDES GOES - UFCG, NATÁLIA VASCONCELOS DE FREITAS - UFCG, PEDRO HENRIQUE FELIX DA SILVA - UFCG, CAREN REBECA NEVES DA SILVA - UFCG, GABRIEL FARIAS DINIZ - UFCG, MARIA LUÍZA SOUSA DE ALBUQUERQUE - UFCG, JOÃO GABRIEL GOMES PEDROSA DUARTE - UFCG, RODRIGO ANTONIO DA SILVA SALES - UFCG, ADRIANA REIS BEZERRA - UFCG, MYRIA JUSCILANIA MARAÇO SILVA - UFCG, GRACIELLE MALHEIRO DOS SANTOS - UFCG, DYEGO ALVES - UFCG, JAQUELINE CRISTINA DA SILVA CLEMENTINO - UFCG, ITAMARA LÍGIA RODRIGUES VIEIRA - UFCG, DANIELY ALVES MOREIRA - UFCG, RUTE CELINA BARROS ANDRADE - UFCG
O movimento da Reforma Psiquiátrica vem se consolidando no Brasil, entre altos e baixos, há cerca de trinta anos e se propõe a redirecionar o modelo assistencial em saúde mental, processo este, que visa construir uma sociedade a partir de princípios de autocuidado e da dignidade humana superando a prática higienista até então disseminada. Ainda que o uso de medicamentos psiquiátricos se correlacione com a retirada das pessoas dos manicômios, numa lógica de desospitalização - ainda que de caráter estritamente físico, seu uso abusivo e indiscriminado apenas perpetua a lógica manicomial dentro de outros espaços, agindo como “correntes químicas”, uma vez que os sujeitos super-medicados não alcançam uma vida autônoma e plena, além de que outras formas de violência ainda são legitimadas. A centralidade na prescrição e consumo dos medicamentos psiquiátricos como principal estratégia de cuidado na chamada “saúde mental” é um grande desafio a ser superado também no âmbito da atenção primária em saúde, sendo necessário intensificar o uso de outras tecnologias de cuidado para lograr mudanças no modelo assistencial manicomial, excludente e iatrogênico que marca historicamente a atenção às pessoas em sofrimento psíquico. Esse processo propõe a invenção de novos saberes e práticas que possam garantir e/ou afirmar a cidadania das pessoas envolvidas. Nesse sentido, a ferramenta da Guia da Gestão Autônoma da Medicação (GGAM) tem se mostrado de grande utilidade no estímulo ao diálogo construído entre pessoas atendidas nos serviços de saúde e profissionais prescritores/mantenedores da prescrição de medicamentos psiquiátricos, de modo a tornar possível uma melhor compreensão sobre os motivos da prescrição, os efeitos dos medicamentos e a possibilidade de realizar mudanças nesse tratamento, em diálogo com as pessoas envolvidas. A partir dessa compreensão, o Núcleo de Pesquisa e Extensão sobre Drogas – NUD da Universidade Federal de Campina Grande, realizou uma atividade pioneira de extensão enquanto experiência piloto de grupos de discussão com o uso da GGAM, junto à Estratégia de Saúde da Família em Campina Grande, Paraíba. As ações foram desenvolvidas durante 23 encontros, de maio a dezembro de 2018, em uma Unidade Básica de Saúde da Família de Campina Grande-PB. Após a realização de um período de articulação e apresentação das propostas às equipes, os/as extensionistas acompanharam a rotina dos serviços, junto com estagiários do curso de Psicologia, desenvolvendo ações em conjunto com as equipes de profissionais. Após inserção nos serviços, foram feitos convites a partir das salas de espera no serviço e das visitas domiciliares à comunidade, para participar do grupo de discussão. Cada encontro foi facilitado metodologicamente a partir da Guia GAM, que preconiza o cuidado compartilhado de medicamentos psiquiátricos, com utilização de outros recursos participativos para o trabalho com grupos (Práticas Integrativas e Complementares - PIC’s - como Teatro do Oprimido e outras técnicas baseadas na arteterapia, por exemplo). A pedido da própria equipe de uma unidade básica de saúde, foi realizado um encontro a partir da Guia GAM com os próprios trabalhadores, que também identificaram a necessidade de repensar seus consumos de medicamentos psiquiátricos. A utilização da GGAM mostrou-se uma ferramenta potente para o processo de desinstitucionalização e desmanicomialização da assistência em saúde, no contexto da atenção primária. O consumo da medicação ainda está fortemente ligado à condutas centralizadas e verticalizadas nos/as profissionais, sendo o/a prescritor/a aquele/a que determinava/inviabilizava as formas de autocuidado. Entretanto, muitos desafios se colocam no caminho dos investimentos na participação das próprias pessoas nas decisões sobre os seus tratamentos, sendo necessário criar condições para superação de referências epistemológicas manicomiais já desde a formação. Nesse sentido, a utilização da ferramenta GGAM, já bastante difundida em outras partes do país, pela primeira vez na Paraíba a partir da experiência aqui apresentada, precisa ser estimulada por ações de extensão, estágios, por meio de pesquisas-ação e outros recursos dialógicos que colocam a universidade como parceira da comunidade e dos serviços públicos de saúde.
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