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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-27A - GT 27 - Militância Antimanicomial e Autonomia dos Usuários

31469 - A GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO E O EMPODERAMENTO DOS PACIENTES EM PROL DO PROTAGONISMO DE SUAS HISTÓRIAS
MYRELLA LORENA ALMEIDA PEREIRA - UFERSA, JULIANA KADJA MELO DA SILVA - UFERSA, ANNIE LÍVIA TORRES DE ALBUQUERQUE ARAÚJO - UFERSA, LÁZARO FABRÍCIO DE FRANÇA SOUZA - UFERSA, DÁVINNA NYARA LIMA MOURA - UFERSA


Situações de saúde mental afetam muitos aspectos e a medicação alivia alguns sintomas, mas raramente basta. É histórico pacientes utilizarem medicamentos e sofrerem inúmeras pioras na sua qualidade de vida. No Brasil, a reforma psiquiátrica surge no período da redemocratização, estimulada pelos movimentos sociais, trazendo componentes críticos e questionadores. Em 1987, ocorre a I Conferência Nacional de Saúde Mental que trouxe, pela primeira vez, a discussão com os próprios usuários com o objetivo construir novas tecnologias diversificadas, integrativas e comunitárias. Após muitas lutas, é aprovada lei 10.216 e diversas outras portarias que trouxeram às residências terapêuticas, atendimento ambulatorial e os CAPS (COUGO, 2018), (JORGE, 2012).
Entretanto, mesmo com os avanços, ainda existem muitas distorções práticas, sendo uma delas a questão da medicalização. A saúde mental possui um quadro baseado na medicação. As atividades clínicas são geralmente relacionadas à uma simples prescrição de receitas e o paciente é um participante passivo (COUGO, 2018). Partindo desse quadro, surge nos anos noventa o movimento chamado “ Gestão autônoma da medicação” (GAM), essa metodologia foi trazida para o Brasil e se propõe a ser complementar ao modelo atual. Ela é baseada nos moldes de pesquisa ação com objetivo de fazer uma intervenção planejada e coletar dados por meio de grupos focais quinzenais com pacientes voluntários e seus depoimentos. Nesses encontros, discute-se medicações e seus efeitos, dificuldade da vida em sociedade, autoestima, autonomia e empoderamento.
O objetivo desse relato de pesquisa foi buscar saber quais são as principais características e os principais benefícios que a estratégia GAM poderia trazer em prol de uma melhor atenção em saúde mental no Brasil. A metodologia é uma revisão de artigos disponíveis na base de dados Scielo, os descritores foram saúde mental e gestão autônoma de medicação, a pesquisa foi feita no período de 30 de março a 30 de abril de 2019, foram encontrados quatro artigos que foram lidos e trabalhados pelo critério de ter a ver com a temática.
Os resultados mostram que um dos fatores que levam a atitude de passividade dos pacientes é a pouca informação que os fecha em seu estigma de portador de doença evitando questionar. O tratamento que deveria ser um plano pactuado, acaba por promover submissão, dependência e hipermedicalização. O método GAM busca suavizar e aos poucos eliminar, utilizando-se a educação em saúde, as fortes relações de poder. Dessa forma, as pessoas teriam arcabouço informacional para entender seus direitos e reivindica-los. Nos resultados da aplicação do método, se percebeu que havia uma significativa redução do sofrimento, muitos conseguiram empoderamento para questionarem mais e buscarem tratamentos alternativos. Modifica-se também a relação com os profissionais e sua família, aumentando o diálogo com argumentação mais direcionada e expressiva. Percebe-se a oportunidade de refletir e ter uma nova perspectiva sobre o sofrimento que levou à busca psiquiátrica, estimulando autoconhecimento dos fatores que o levaram até ali, possibilitando fortalecimento e conhecimento. Outro ponto é que, apesar da concepção geral de que o conhecimento sobre sua situação faria com que os pacientes recusassem tratamento acabou não ocorrendo. Isso porque, eles acabam por ter mais autonomia para saber o porquê de utilizar, além da sensação de estar incluído para, junto com o profissional, tomar decisões (COUGO, 2018), (Del Barrio et al, 2013), (Onocko Campos et al, 2012).
Na situação brasileira, com todas as suas limitações e retrocessos, o GAM busca dar voz a essas pessoas. Ademais, traz também a definição de uma saúde mental multidimensional com suas variáveis complexas e correlacionadas (JORGE, 2012). É incrível pensar no impacto desse método num contexto brasileiro tão disciplinador e alienante. Entretanto, também é desafiador, já que depende de mobilização pessoal, em grupo e dos recursos comunitários. Porém, deve ser cada vez mais difundido, pois propicia exercício da cidadania a pessoas há tempo privadas.
Referências
CAMPOS, Rosana Teresa Onocko et al. Adaptação multicêntrica do guia para a gestão autônoma da medicação. Interface (Botucatu), Botucatu, v.16, n.43, p.967-980, dez.2012.
COUGO, Vitória Rosa; AZAMBUJA, Marcos Adegas de. A Estratégia Gestão Autônoma da Medicação e a Inserção da (A) normalidade no Discurso da Cidadania. Psicol. cienc. prof., Brasília, v.38, n.4, p.622-635, out.2018.
DEL BARRIO, Lourdes Rodriguez et al. Gaining Autonomy & Medication Management (GAM): new perspectives on well-being, quality of life and psychiatric medication. Ciênc. Saúde coletiva, Rio de Janeiro,v.18, n.10, p.2879-2887, out. 2013.
JORGE, Maria Salete Bessa et al. Experiências com a gestão autônoma da medicação: narrativa de usuários de saúde mental no encontro dos grupos focais em centros de atenção psicossocial. Physis, Rio de Janeiro, v.22, n.4, p.1543-1561,2012.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

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A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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