28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-27A - GT 27 - Experiências Inovadoras na Atenção Psicossocial |
31181 - TECENDO HISTÓRIAS: RESSONÂNCIAS DO SOFRIMENTO PSÍQUICO DE MÃES “LOUCAS” NOS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO DE SEUS FILHOS ADILANE DOS SANTOS BARBOSA - ISC/UFBA
Tendo em vista a centralidade do tema da parentalidade para o avanço da Atenção Psicossocial brasileira, a incipiente produção acadêmica destinada a analisar a experiência de ser pai ou mãe tendo um quadro de sofrimento psíquico grave e a necessidade de se abordar essa temática da perspectiva dos filhos, colocando em análise os modos de subjetivação de tais relações e dos processos de institucionalização que estes filhos podem passar em função das situações de crise, o presente trabalho se propôs a interrogação: Quais as ressonâncias do sofrimento psíquico de pais, marcados pelo estigma da loucura, nos processos de subjetivação dos seus filhos? Para isso, tecemos o objetivo de analisar como se dá as ressonâncias do sofrimento psíquico dos pais na vida dos filhos para tentar compreender como se constroem os processos de subjetivação desses sujeitos cujos pais são tidos socialmente como loucos. Está análise será apoiada na metodologia da história de vida e nos conceitos de modos de subjetivação e cuidado de si de Michel Foucault. No primeiro momento iniciaremos com a busca por três filhos de sujeitos que foram considerados socialmente como loucos. Assim, serão selecionados a partir da técnica da “bola de neve”, comumente utilizada em pesquisas qualitativas, através da qual um sujeito entrevistado indica outro e assim sucessivamente. Deste modo, os critérios de elegibilidade para inclusão na pesquisa foram: 1) Ser maior de 18 anos; 2) Ter uma mãe com um quadro de sofrimento psíquico grave apresentado desde quando o participante da pesquisa encontrava-se na primeira infância; 3) Aceitar participar da pesquisa 4) Recorte de classe. Posteriormente realizaremos entrevistas narrativas e observação participante com esses filhos como modo de tentarmos compreender como eles significam suas histórias de vida marcadas pelo encontro com a loucura da mãe. Os filhos dos sujeitos com um quadro de sofrimento psíquico têm sido vistos como um grupo vulnerável no que diz respeito ao seu desenvolvimento e a sua própria saúde mental. Isto porque a maior parte dos estudos publicados aborda a exposição à loucura dos pais exclusivamente como um fator de risco para as crianças, sem a devida consideração do contexto no qual as famílias estão inseridas. Importante destacar que encontramos uma escassez de estudos no campo das ciências humanas e sociais prevalecendo poucos estudos na área de epidemiologia. É importante ter em conta que não dá para tomar todos os casos a partir de uma perspectiva de causa e efeito. É preciso considerar a singularidade de cada caso e questionar sobre o lugar dessas experiências na vida desses filhos. E pensar como é para esses filhos se confrontarem com a loucura da mãe e/ou do pai, com os momentos de crise e por vezes com internações. Esses casos nos convidam a pensar qual o lugar desses pais para os filhos? E esse lugar se produziu a partir de que histórias: de separação e desamparo em alguns momentos, mas também de relações afetivas importantes? Consideramos que pesquisas centradas na análise dessas experiências de ser filho de louco são de extrema relevância para se pensar em avançar na perspectiva psicossocial e para garantirmos que direitos não sejam perdidos, para que os profissionais que atuam na área da saúde, assistência social e na justiça estejam preparados para oferecem uma assistência que seja promotora de uma rede de apoio para esses filhos e seus pais. Ou ainda para que se evite a perda da guardar e do afastamento quando estes não se fazem necessários, para que se procure outras vias que não seja prejudicial e danosa tanto para os filhos que podem acabar sendo institucionalizados quanto para a mãe e/ou pai que podem ter sua situação psíquica agudizada.
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