29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-27B - GT 27 - Processos Formativos Inovadores |
30259 - A PESSOA EM SOFRIMENTO PSÍQUICO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE: A FORMAÇÃO PARA O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL MARIA SALETE BESSA JORGE - UECE, JAMINE BORGES DE MORAIS - UFC, LOURDES SUELEN PONTES COSTA - UECE, MARIA RAQUEL RODRIGUES CARVALHO - UECE
A PESSOA EM SOFRIMENTO PSÍQUICO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE: a formação para o cuidado em Saúde Mental
INTRODUÇÃO
Como cenários da gestão do cuidado em saúde mental, o Ministério da Saúde brasileiro elegeu os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) como serviços especializados para a atenção dos casos mais severos e persistentes em saúde mental, ficando a Atenção Primária à Saúde responsável por atender os casos leves e moderados, bem como viabilizar ações de cuidados no território, favorecendo a desinstitucionalização e ordenação da demanda e os fluxos na rede assistencial (BRASIL, 2002).
OBJETIVO: analisar a formação para o cuidado em saúde mental, principalmente no que se refere à resolutividade no manejo clínico das situações que envolvem sofrimento psíquico na Atenção Primária a Saúde, tendo em vista que durante longos períodos da história o que prevaleceu foi a cultura da desassistência.
MÉTODO
Esta investigação é de natureza qualitativa, com eixo na Hermenêutica Fenomenológica, de Paul Ricoeur (RICOEUR, 1989). Para tanto, centra-se na compreensão das narrativas, procurando entender a multiplicidade de significados presentes nos discursos dos entrevistados.
A pesquisa foi realizada em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Fortaleza-CE. Para a coleta das informações foram realizadas entrevista em profundidade com seis profissionais de saúde sendo eles, um enfermeiro, um médico, um dentista e três Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Os profissionais selecionados faziam parte de uma equipe de saúde da Estratégia Saúde da Família, prestavam cuidados diretos a pessoa em sofrimento psíquico ou transtorno mental e atuavam há mais de um ano no serviço.
Para a análise das informações, optou-se pela análise de narrativas baseada na teoria de Ricouer, a qual prevê que o processo analítico diz respeito ao distanciamento, apropriação, explicação e compreensão das experiências vividas em cinco etapas: transcrição das entrevistas em texto; distanciamento (distanciação), interpretação superficial; análise estrutural e compreensão abrangente do texto, denominada de interpretação profunda (RICOEUR, 1989; GEANELLOS, 2000)
Os dados analisados nesta investigação fazem parte de um projeto maior denominado “Política, gestão e cuidado com interface entre saúde da família e atenção psicossocial: compartilhamento de práticas da equipe de saúde e do enfermeiro” aprovado no comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os trabalhadores revelam que suas dificuldades em atender a pessoas com sofrimento psíquico estão associadas a formação. Esta formação, conforme retratam as narrativas, sofreu influência de dois aspectos. O primeiro revela que os profissionais tiveram seu processo de formação ainda no modelo asilar, o que gerou sentimento de frustração, medo e insegurança quanto aos cuidados em saúde mental e o segundo volta-se à formação biomédica, a qual se centra apenas na determinação biológica do processo saúde-doença e desconsidera seus determinantes sociais. Esta formação que induz às práticas reducionistas e centradas em aspectos biológicos, medicalizantes e procedimento-centrada, conforme evidenciada nas narrativas, está em descompasso com os progressos obtidos a partir da Luta Antimanicomial e da Reforma Sanitária Brasileira.
Em pesquisa realizada com 29.778 equipes da Estratégia Saúde da Família de todo o Brasil (87,1% do total) os autores constataram que 60,3% dos entrevistados se sentiam despreparados para atuar em saúde mental (GERBALDO et al., 2018). Isto conforma um cuidado fragmentado e centrado em procedimentos, sobrepujando à complexidade que envolve os problemas de saúde mental, seus determinantes e sua influência nos aspectos biopsíquicos e sociais.
Torna-se premente, portanto, a necessidade de rompimento dos projetos de formação das profissões de saúde e ações assistenciais com a abordagem médica hegemônica, pois conforme ressaltam Emerich e Onocko-Campos a formação profissional não pode ter como referência apenas a doença, o processo diagnóstico e o tratamento, mas deve possibilitar compreensão ampliada das necessidades de saúde (EMERICH; ONOCKO-CAMPOS, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Deste modo, a produção do cuidado em saúde mental envolve irremediavelmente o campo da complexidade das relações, entre os sujeitos trabalhadores, gestores e usuários dos serviços de saúde. Diante disto, construir um processo de formação para trabalhadores de saúde implica atentar-se a esta complexidade e fazer escolhas teórico-metodológicas que expressem um campo de interlocução entre os saberes.
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