Clique para visualizar os Anais!



Certificados disponíveis. Clique para acessar a área de impressão!

Associe-se aqui!

Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-6A - GT 6 - Cidade, Subjetividade e Práticas em Saúde

30391 - O ESTIGMA PASSA PELA PORTA DE ENTRADA E VAI ATÉ ONDE? OS SERVIÇOS E A ATENÇÃO À SAÚDE DE HAITIANOS EM CUIABÁ
MARIA ANGELA CONCEIÇÃO MARTINS - DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO, SÍLVIA ÂNGELA GUGELMIN - DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


A questão migratória, no cenário mundial, tem sido amplamente debatida em diversos espaços: acadêmicos, políticos, midiáticos e na sociedade civil como um todo. E um dos aspectos que ainda requer atenção, diz respeito ao acesso aos serviços de saúde. Em Mato Grosso a migração haitiana foi expressiva em 2012 e apesar da entrada de imigrantes ter diminuído ao longo dos anos muitos imigrantes fixaram residências e formaram famílias na capital do estado, Cuiabá. Tendo como um dos objetivos conhecer as perspectivas de profissionais de saúde e imigrantes haitianos sobre o cuidado em saúde e sendo esta etapa de caráter qualitativo, a pesquisa “Estudo da migração haitiana para Mato Grosso etno-história, perfil socioeconômico, condições de saúde e acesso ao SUS” foi desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Foram realizadas observações diretas e entrevistados 14 profissionais de saúde de três unidades cujos dados foram tratados à luz da análise temática. Nesse texto trataremos somente do tema preconceito na atenção à saúde. Sob a lente da observação foi possível captar nuances do que envolve a atenção à saúde na porta de entrada dos serviços, sendo o acolhimento essencial para a construção de uma relação entre usuário e serviço de saúde, ou seja, a presença ou ausência de ações pode propiciar ou dificultar este processo terminando em última análise, interferindo no cuidado em saúde e na conduta terapêutica. O cenário da pesquisa nos aproximou de situações complexas e repletas de atitudes e falas preconceituosas, tais como: “Nessa vila aí de haitianos (referindo-se a uma rua aonde vários haitianos residiam) só tem aidéticos. Essas pessoas passam o virus uma para as outras. A saúde tem que fazer uma vigilância nesse local”. Essa unidade de saúde é bastante acessada pelos haitianos pela proximidade de várias quitinetes onde os imigrantes residem e pelo encaminhamento dos outros serviços, sendo uma das primeiras unidades a atender os imigrantes quando chegaram a Cuiabá em 2012. No entanto, o estereótipo criado na década de 1980 devido à grande epidemia de AIDS no país, representando a maior prevalência da doença em toda a América (MOYA, et al., 2000) parece permanecer entre alguns profissionais, pois outro funcionário relatou: “A maioria desses haitianos quer atestado médico. São vagabundos. Não querem trabalhar não. Estão todos com sífilis, AIDS e vem aqui passar pra gente”. O status de grupo de risco perdura até a atualidade, assim como nos EUA, os imigrantes haitianos carregam o estigma de disseminadores de doenças representando um risco para a população dos países de destino. O HIV representado, outrora, como sendo a doença dos 5H (haitianos, homossexuais, hemofílicos, hookers e heroinômanos) parece acompanhar o migrante haitiano e pode desestimular estes indivíduos a buscarem os serviços de saúde por ocasião de alguma doença (GOFFMAN 1982). Além do estigma social envolvendo o HIV aparentemente a concepção de indolência atribuída ao negro aparece na fala denotando além do estigma, a violência e o racismo (FASSIN, 2001). Investigar a influência de estigmas moralizantes e o racismo institucional torna-se crucial para o desenvolvimento de politicas migratórias considerando o fluxo continuo de pessoas que se deslocam. Na saúde a identificação destes comportamentos evidencia a necessidade de inserir temas como migração, empatia, racismo na formação em serviço, bem como possibilita um empenho em elaborar estratégias de re-significação do trabalho em saúde com foco no acolhimento, na escuta e, principalmente, no direito humano, através de espaços que aproximem profissionais de saúde e usuários.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900