28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-6A - GT 6 - Cidade, Subjetividade e Práticas em Saúde |
31377 - A VOZ DOS OLHARES QUE PERCORREM A PERIFERIA: O TERRITÓRIO SOB AS LENTES DO ADOLESCENTE. JOÃO GABRIEL TRAJANO DANTAS - UNIFESP, DENISE DE MICHELI - UNIFESP
As favelas compõem o espaço urbano das cidades modernas, muitas vezes comporta a precariedade do acesso aos bens básicos como saúde, educação e segurança, vivendo às margens do desenvolvimento urbano.
A estrutura de organização que a favela representa “é tão antiga quanto o mundo; a cidade é a grande novidade da história da civilização. A favela, por assim dizer, seria a forma natural de organização dos homens numa sociedade ditada pela escassez.” (KEHL, 2010, p. 15-16). Do ponto de vista histórico, Valladares (2005) ressalta que as favelas foram historicamente referidas como espaços insalubres, sem lei e anti-higiênicos, tratadas como problema social e moral pela sociedade, alvo de duras críticas por parte da saúde pública, medicina, urbanismo, engenharia e segurança, sendo algumas delas erradicadas pelo poder público.
A vulnerabilidade social percebida nessas regiões expõe seus moradores à situações de risco, dentre eles o adolescente, público alvo deste estudo. Importante ressaltar que os elementos que compõem o conceito de vulnerabilidade social são complexos, sendo diversos os fatores que intensificam processos de desigualdade social, tais como: pobreza, baixa escolaridade, áreas de moradia, baixa oferta de serviços públicos (da assistência social, educação, saúde e cultura), etc. Como exemplo, Bradenbrug (2012) afirma que a falta de acesso (ou o acesso precário) à escolarização compõe um importante fator que aumenta a situação de vulnerabilidade entre os jovens e adolescentes, principalmente no que diz respeito à construção de projetos de vida, inserção no mundo do trabalho e produção de bens culturais.
Promover o encontro com o olhar do adolescente habitante de uma favela surge como possibilidade de análise territorial. Fazer com que os aspectos da vida cotidiana dos adolescentes possam emergir nas discussões sobre vulnerabilidade social, segregação e espaços de pertencimento podem fertilizar o terreno para que profissionais da educação e saúde consigam elaborar estratégias que dialoguem com a realidade social local, valorizando a percepção de território da juventude.
O presente artigo é fruto da pesquisa de mestrado: A VOZ DOS OLHARES QUE PERCORREM A PERIFERIA: O TERRITÓRIO SOB AS LENTES DO ADOLESCENTE, do Programa de Educação e Saúde na Infância e Adolescência da UNIFESP, que tem com objetivo analisar a percepção territorial de adolescentes moradores de uma favela na Região de Ermelino Matarazzo – Zona Leste de São Paulo. Trata-se de um estudo qualitativo exploratório que utiliza o método autofotográfico como recurso metodológico, no qual os adolescentes foram convidados a registrarem, por meio da fotografia, o território onde moram e circulam. A análise dessas imagens, em diálogo com os autores: FLUSSER, 2011; BAKHTIN, 2011; SANTOS, 2013, revela sua visão de mundo e as relações construídas no espaço em que habitam.
O material produzido por seis jovens foi analisado em duas dimensões: a primeira investigou aspectos individuais da produção fotográfica, do olhar específico de cada adolescente. A segunda preocupou-se em compilar as recorrências identificadas, aspectos que foram percebidos por mais de um participante.
O acervo fotográfico contou com cerca de 90 fotografias e revelou importante versatilidade do olhar juvenil para aspectos pessoais e comunitários de seu cotidiano. Suas imagens cartografam casas, vielas, terrenos baldios, praças, espaços verdes, Igreja, Centros de Referências da Assistência Social, Centros de Acolhidas para a População em Situação de Rua, Nascente poluída, Campo de futebol comunitário, ciclofaixa, lixo encontrado nos espaços comuns da favela, etc.
Para além dos lugares observados as fotografias revelaram a percepção territorial que os jovens têm dos espaços da favela, expressaram os sentidos e modos em que se relacionam com os mesmos, seja apontando suas fragilidades ou evidenciando suas potencialidades.
Desta forma, o presente estudo possibilitou que a voz dos olhares da juventude de uma favela de Ermelino Matarazzo ecoasse pelas fotografias.Assim, evidenciando como o olhar dos adolescentes é sensível e capaz de mapear diferentes realidades presentes no território, que vão desde vivências nos Bailes Funk, Igrejas, nos jogos de Futebol comunitário até a realidade do trabalho informal presente no cotidiano dos jovens. Revelou também a percepção para a fragilidade da presença do Estado, principalmente no que diz respeito à Assistência Social e Limpeza Urbana.
As políticas públicas voltadas para a juventude das favelas poderiam se aperfeiçoar ao se aproximar do cotidiano desses jovens e, por meio de iniciativas criativas e inovadoras, explorar a potência do espaço habitado que é a favela, reconhecer sua potência de vida sem desconsiderar os fatores de risco social, vulnerabilidade, pobreza e violência que também circulam pela cidade. É nessa perspectiva que o Protagonismo Juvenil pode ser ferramenta chave para a compreensão das singularidades do território.
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