28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-6A - GT 6 - Cidade, Subjetividade e Práticas em Saúde |
31686 - NECROPOLÍTICA E RESISTÊNCIAS NA CIDADE: EXPERIÊNCIAS DE PRODUÇÃO DE SAÚDE NO FÓRUM POPULAR DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ MAYRÁ LOBATO PEQUENO - CRP 11/FPSP CE
Este trabalho objetiva relatar e refletir sobre o contexto de necropolítica vivenciado no município de Fortaleza e sua resistência e produção de saúde em ações do Fórum Popular de Segurança Pública do Ceará. Vivemos em uma sociedade marcada pela lógica neoliberal, racista e patriarcal. São opressões estruturais e estruturantes da constituição de uma sociedade que surge, para o mundo ocidental, com a exploração colonialista e ainda marca, em todos os seus processos, relações e instituições sociais as características da violência, usurpação, repressão e extermínio daquele período. Essas opressões, por sua vez, não ocorrem no plano abstrato, mas circunscrevem os corpos subalternizados. Achille Mbembe formula o conceito de necropolítica relacionando a noção de biopoder de Foucault com dois outros conceitos, estado de exceção e estado de sítio Agamben. A necropolítica, o poder de ditar quem deve viver e quem deve morrer. É um poder de determinação sobre a vida e a morte ao desprover o status político dos sujeitos. A diminuição ao biológico desumaniza e abre espaço para todo tipo de arbitrariedade e inumanidade. No entanto, para o sociólogo há racionalidade na aparente irracionalidade desse extermínio. Utilizam-se técnicas e desenvolvem-se aparatos meticulosamente planejados para a execução dessa política de desaparecimento e de morte. Ou seja, não há, nessa lógica sistêmica, a intencionalidade de controle de determinados corpos de determinados grupos sociais. O processo de exploração e do ciclo em que se estabelecem as relações neoliberais opera pelo extermínio dos grupos que não têm lugar algum no sistema, uma política que parte da exclusão para o extermínio. Trazemos neste trabalho um enfrentamento a este no contexto. O Fórum Popular de segurança Pública do Ceará (FPSP Ceará) se constituiu em 2017 e vem desenvolvendo ações de articulação popular da periferia, familiares que sofreram violência do estado, projetos e laboratórios da universidade, entidades de defesa dos direitos humanos. Dentre as ações do FPSP Ceará colocamos aqui experiência que vem sendo desenvolvida desde 2018. A iniciativa que foi chamada de “museu da pessoa” traz a memória de pessoas, principalmente adolescentes, assassinados na periferia de Fortaleza. Está sendo desenvolvida uma exposição a partir do relato dos familiares, objetos dos adolescentes, dentre outros. Todo o processo com as famílias está baseado na “clínica do testemunho” no sentido do acolhimento a memória, estratégia essa utilizada em alguns estados do Brasil instituída pela comissão verdade. A exposição ocorrerá em novembro de 2019, nas ações da semana de prevenção aos homicídios na adolescência. Funcionará de forma itinerante em bairros da periferia no sentido de dialogar com a população sobre a temática. A exposição dá início a esta iniciativa que busca se tornar permanente de modo a evidenciar as histórias dos adolescentes e pessoas atingidas pela violência do estado.
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