30/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-5F - GT 5 - As interfaces entre os Movimentos Sociais e o Sistema Único de Saúde: legitimidade, defesa e construção do direito à saúde-exposição oral 2 |
30216 - FORTALECIMENTO E AUTO-ORGANIZAÇÃO DA COMUNIDADE ANTÔNIO JUSTA (MARACANAÚ-CE) NO ENFRENTAMENTO DOS DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE
JAQUELINE DE AQUINO SILVA - COLETIVO ANTÔNIO JUSTA, JANIELE MARIA VASCONCELOS MOTA - COLETIVO ANTÔNIO JUSTA
Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência do Projeto de Intervenção proposto pelo Curso de Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho, da Escola Fiocruz de Governo, executado na Comunidade Antônio Justa -Maracanaú. O relato traz também um estudo histórico da formação do bairro, bem como detalha a execução, as dificuldades, os resultados da experiência e as lições aprendidas a partir da proximidade com a comunidade. A proposta de intervenção foi gestada a partir das oficinas de projeto do curso, e teve como mote direcionador a questão que permeia os movimentos estudantis acadêmicos, a discussão sobre a dificuldade de levar o conhecimento construído nas salas de aula para aplicação nas comunidades, a transposição dos muros universitários para a vivência da prática. Partindo destas reflexões, decidimos criar uma proposta de intervenção que não fosse apenas uma ação pontual, mas que pudesse impactar significativamente na vida das pessoas, que realmente pudesse trazer possibilidades para uma transformação social, na qual acreditamos ser possível apenas a partir de sua base, a partir da mudança concreta no cotidiano dos indivíduos e por meio da luta. O projeto teve início entre abril e maio de 2018, ainda de forma confusa, sem muitas certezas sobre a metodologia, porém, seu próprio desdobramento nos mostrou os melhores caminhos a seguir e desta forma, algumas propostas pensadas inicialmente tiveram que ser readaptadas. A comunidade Antônio Justa, localizado no município de Maracanaú, região metropolitana de Fortaleza, foi construída a partir da antiga colônia de isolamento para pessoas com hanseníase, inaugurada em 1942. A Colônia fazia parte de uma política nacional de controle da hanseníase na qual é possível registrar diversas violações de direitos incutidas pelo Estado, que gerou vários prejuízos sociais através da segregação por uma política de saúde excludente e estigmatizante. A partir da década de 1980, com a descoberta de alternativas de tratamento e cura a colônia teve seus portões abertos dando início a um processo de ocupação, trazendo junto os problemas estruturais comuns à ocupações irregulares como infraestrutura e moradias precárias, dificuldades de acesso a políticas públicas como saúde, educação, transporte, etc. Este relato tem como objetivo geral, relatar a experiência de mobilização da comunidade Antônio Justa apontando suas dificuldades no processo de execução, os resultados e desdobramentos, bem como o aprendizado produzido a partir da observação desta experiência. Seus objetivos específicos tratam dos seguintes pontos: 1. Conhecer a história de formação da Comunidade Antônio Justa; 2. Conhecer o Projeto de Intervenção executado na comunidade a partir da proposta do Curso de Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho; e 3. Apresentar os resultados e demais desdobramentos de sua execução, incluindo o nascimento do Coletivo Antônio Justa Presente, principal resultado deste projeto. O Coletivo hoje com 01 ano de atuação, é formado por moradores, pesquisadores, profissionais de saúde e assistência social que atuam na comunidade e tem crescido e se articulado junto a outros movimentos, de forma a se fortalecer para atingir seus objetivos que partem de três prioridades: a preservação do patrimônio histórico da Colônia, a luta pela regularização da terra e a luta por uma política de saúde gratuita, universal e de qualidade, com o objetivo de construir uma vida mais digna pra comunidade. É um diferencial desta intervenção, a utilização das diversas linguagens da arte e da cultura para aproximação e mobilização da comunidade. Foram utilizados como ferramentas de reflexão cineclubes, ações de arte e cultura como teatro, circo, musica, batalha de rap, saraus, exposições fotográficas, além das reuniões com moradores e envolvimento de equipamentos públicos, autoridades políticas, dentre outros. Algumas observações importantes são necessárias como reflexão desta experiência. A primeira delas é que na maioria das vezes será necessário readequar o planejamento, considerando a dinâmica da comunidade e suas especificidades, o que só poderá ser compreendido no cotidiano da própria experiência. Desta forma entendemos que é importante ter um planejamento e objetivos claros, mas os rumos das ações serão moldados pelo próprio fazer e há que se ter bastante flexibilidade, paciência e acima de tudo motivação. A legitimidade e o reconhecimento também são construídos durante o processo e há que se ter bastante zelo com a construção desses vínculos com a comunidade pois sua ruptura pode desmobilizar os envolvidos e impossibilitar a continuidade do projeto. Vale ressaltar que o retorno das ações, a transparência nas informações e estratégias de comunicação que cheguem na comunidade são essenciais. Contudo, é importante avaliar que essa construção é diária e que não se encerra com o projeto, a auto-organização e a luta por direitos deve ser cotidiana.
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