30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-17A - GT 17 - Gêero,Iiniquidades e Saúde Mental |
29882 - MARCAS DA VIOLÊNCIA NO CORPO E NA ALMA DAS MULHERES: VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E DA SAÚDE TÂNIA MARIA GOMES DA SILVA - UNICESUMAR
Marcas da violência no corpo e na alma das mulheres: violação dos direitos humanos e da saúde
INTRODUÇÃO: A violência é um tema polissêmico e que apresenta formas particulares em diferentes culturas e temporalidades. Trata-se do uso intencional da força física ou do poder contra si próprio ou outra pessoa, resultando ou podendo resultar em lesão, morte ou dano psicológico (OMS,2013). Há diferentes formas de violência e algumas delas persistem no tempo, podendo ser encontradas em praticamente todas as sociedades conhecidas. É o caso da violência contra as mulheres praticada por parceiros íntimos. Hodiernamente esse tipo de violência é também denominada de violência de gênero. Resultado de práticas naturalizadas de machismo no processo de socialização dos indivíduos, a violência contra as mulheres é validada por um modelo de masculinidade hegemônica legitimador das desigualdades entre os sexos (SCHRAIBER, 2014). Atualmente, a violência contra as mulheres é considerada uma questão de saúde pública e de violação dos direitos humanos, com proporções epidêmicas (AZAMBUJA, NOGUEIRA, 2008). O Brasil é o quinto país mais violento do mundo para quem é mulher (SENADO FEDERAL, 2019), mas ainda há uma grande invisibilidade acerca desse fenômeno. Tal fato evidencia a necessidade premente de políticas públicas que promovam o empoderamento feminino e tornem possível o enfrentamento desse problema. Mulheres vítimas de violência, seja física ou psicológica, tendem a adoecer mais frequentemente, procurar mais vezes os serviços de saúde com queixas vagas, dores imprecisas e sem correspondência com as patologias conhecidas (SCHRAIBER, 2014). Nos serviços de atenção primária e pronto-atendimentos nem sempre os profissionais estão adequadamente preparados para estabelecer uma relação entre o adoecimento e as experiências de uma cotidianidade marcada pela violência (KIND et al., 2013). Tomando como suporte um estudo etnográfico, esta comunicação apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida junto a 15 mulheres das camadas populares de um município do Paraná, Brasil. Trata-se de uma investigação que se vale dos estudos feministas e de gênero numa interface com a saúde. OBJETIVO: análise de narrativas femininas, a fim de captar práticas e representações da violência e as consequências sobre a saúde, na perspectiva das vítimas. METODOLOGIA: Os dados foram construídos por meio de entrevistas semiestruturadas e individuais, na perspectiva da história oral. Narrativas femininas da violência têm ganhado destaque nos estudos da saúde, notadamente após as mudanças paradigmáticas no mundo científico, que validou as experiências subjetivas dos sujeitos e desconstruiu os ideários positivistas que viam os testemunhos orais como carentes de cientificidade. Os dados foram trabalhados na perspectiva de análise de conteúdo, buscando, especialmente, captar os sentidos que perpassam as narrativas. A idade das mulheres entrevistadas variou dos 52 aos 82 anos de idade. As entrevistadas residiam, em sua maioria, na periferia da cidade, tinham baixo capital cultural e econômico. CONSIDERAÇÕES: Quatorze mulheres disseram ter vivido relacionamentos abusivos e todas consideram que, em função dessa experiência, tiveram a saúde e a qualidade de vida comprometidas. Tanto as agressões físicas quanto os abusos verbais foram identificados como violência.
REFERÊNCIAS
Azambuja MPR de, Nogueira C. Introdução à violência contra as mulheres como um problema de direitos humanos e de saúde pública. Saúde e Soc [Internet]. 2008 Sep;17(3):101–12. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902008000300011&lng=pt&tlng=pt.
KIND, L. et al. Subnotificação e (in)visitiblidade da violência contra as mulheres na atenção primária à saúde. Caderno de Saúde Pública. RJ. 29 (91), p.1805-1815, set. 2013. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2013000900020&script=sci_abstract&tlng=pt
Schraiber LB. Violência: questão de interface entre a saúde e a sociedade. Saúde e Soc [Internet]. 2014 Sep;23(3):727–9. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902014000300727&lng=pt&tlng=pt.
Senado Federal. Painel de Violência contra Mulheres [Internet]. Brasilia, DF; 2019. Available from: http://www9.senado.gov.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=senado%2FPainel OMV - Violência contra Mulheres.qvw&host=QVS%40www9&anonymous=true
World Health Organization. Global and Regional Estimates of Violence against Women: Prevalence and Health Effects of Intimate Partner. Violence and Non-Partner Sexual Violence. Geneva: World Health Organization; 2013.
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