30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-17A - GT 17 - Gêero,Iiniquidades e Saúde Mental |
30924 - MULHERES NEGRAS E SOFRIMENTO PSÍQUICO: O RACISMO COMO EIXO PRODUTOR DE INIQUIDADES EM SAÚDE TALITA RODRIGUES DA SILVA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES/ FIOCRUZ PE, DARA ANDRADE FELIPE - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES/ FIOCRUZ PE
Apresentação/Introdução
As discriminações de raça e gênero produzem efeitos imbricados e diversos que levam as mulheres negras a terem experiências distintas com relação a vivência da pobreza e suas estratégias de superação (SILVA, 2013). Os sofrimentos gerados pela intersecção das vivências de gênero, raça, classe, sexualidade e outros fazem com que muitas vezes as mulheres negras não sejam compreendidas ou acolhidas de forma integral no serviço de saúde. Gouveia (2018) em estudo bibliográfico sobre racismo e saúde mental mostrou que a exposição constante ao racismo causa transtornos tais como taquicardia, hipertensão arterial, úlcera gástrica, ansiedade, ataques de pânico, depressão, dificuldade de se abrir, ataques de raiva violenta e aparentemente não provocada, comprometimento da identidade e distorção do autoconceito. O racismo deve ser reconhecido como um sistema, uma vez que se organiza e se desenvolve através de estruturas, políticas, práticas e normas capazes de definir oportunidades e valores para pessoas e populações a partir de sua aparência, atuando em diferentes níveis: pessoal, interpessoal e institucional (WERNECK, 2013). Assim é cada vez mais importante para o campo da saúde compreender a perspectiva das mulheres negras, o ponto de vista particular de suas vidas, a inteseccionalidade de suas vivências, para que possamos acolhê-las de forma integral e comprometida com a sua autonomia e emancipação. Diante dessas compreensões, é apresentado o relato de pesquisa em tela, recorte de uma pesquisa realizada para produção de TCC de Residência Multiprofissional em Saúde da Família.
Objetivos
Essa produção tem como objetivo entender quais elementos presentes na história de vida são identificados pelas mulheres negras como produtores de sofrimento psíquico.
Metodologia
Foi realizada uma pesquisa de base qualitativa, a partir do referencial teórico-metodológico da história de vida (PAULILO, 1999), de forma a reconstruir com as mulheres seus percursos biográficos e rememorar vivências marcantes em suas vidas, assim como refletir sobre seu cotidiano e suas estratégias de cuidado em saúde mental. Para isso, foram realizadas entrevistas não-estruturadas com mulheres negras integrantes do Grupo de Promoção de Saúde Mental conduzido pelos residentes de uma Unidade de Saúde da Família da cidade do Recife. Como perspectiva analítica, foi utilizada a Análise Temática.
Resultados e discussão
O estudo mostrou que algumas mulheres entrevistadas encontraram dificuldade em identificar o racismo como eixo produtor de desigualdades em saúde, atribuindo mais facilmente a questão de classe como determinante de suas condições de saúde. Por outro lado, as experiências de racismo estiveram fortemente presentes nas narrativas das mulheres negras, elementos facilmente percebidos por elas como produtores de sofrimento. As experiências de racismo atravessaram vários âmbitos de suas vidas desde sua infância marcada por violências, até a vida adulta com humilhações em vínculos de trabalhos precarizados e no âmbito dos relacionamentos afetivo-sexuais e familiares. O sofrimento gerado pela exposição sistemática ao racismo fez com que as mulheres negras, interlocutoras da pesquisa, desenvolvessem prejuízos na execução de atividades da vida diária, apresentando sintomas de ansiedade e depressão, que eram incompreendidos por familiares e profissionais de saúde. Prestes (2016) aponta que as situações potencialmente desintegradoras do self, como as produzidas pelo racismo, trazem comprometimentos psíquicos, psicossomáticos e psicossociais, enquanto minam potenciais.
Conclusões/Considerações Finais.
Os efeitos psíquicos das experiências do racismo, sexismo e da desigualdade de classe marcam os corpos e as vidas das mulheres negras historicamente e precisam ser trabalhados no âmbito dos serviços de saúde do SUS que lidam diariamente com as mulheres negras vítimas dessas opressões. Discussões com mulheres negras e com profissionais de saúde sobre os impactos do racismo na saúde de uma forma geral e na saúde mental de forma mais específica, podem auxiliar na compreensão da categoria raça como produtora iniquidades em saúde. O trabalho interprofissional baseado na metodologia da educação popular em saúde pode ser uma estratégia de potencializar as ações de saúde e qualificar o cuidado e a escuta de mulheres negras e profissionais. As mulheres negras carregam consigo saberes ancestrais que são passados através de gerações. Quando estes saberes são valorizados e somados ao conhecimento técnico dos profissionais de saúde podem juntos construir uma prática de cuidado integral para a população negra.
|