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30/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-17A - GT 17 - Gêero,Iiniquidades e Saúde Mental

31165 - RELATO DE PROBLEMAS EMOCIONAIS E TRANSTORNO MENTAL COMUM: UMA ABORDAGEM DA DESIGUALDADE RACIAL
CAMILA STÉFANI ESTANCIAL FERNANDES - DPTO. SAÚDE COLETIVA/FCM/UNICAMP, MARGARETH GUIMARÃES LIMA - DPTO. SAÚDE COLETIVA/FCM/UNICAMP, MARILISA BERTI DE AZEVEDO BARROS - DPTO. SAÚDE COLETIVA/FCM/UNICAMP


Segundo a Comissão de Determinantes Sociais da Saúde, os fatores étnicos/raciais são considerados como um dos determinantes estruturais da saúde, que interagindo com os fatores intermediários podem influenciar a ocorrência de problemas e saúde e o bem-estar. No Brasil, estudos sobre desigualdades raciais no estado de saúde e prevalência de doenças, têm evidenciado que o segmento que se auto refere de cor preta ou parda apresenta maiores prevalências de transtornos mentais comuns (TMC), de doenças crônicas, de pior estado de saúde autorreferido e de pior estado nutricional. Quanto à saúde mental, poucos estudos foram realizados no Brasil. Um deles registrou que a chance de depressão foi 77% maior entre os negros comparando com brancos. No entanto, ainda não está bem estabelecido na literatura brasileira se existem diferenças raciais no relato de problemas emocionais e na busca de serviços de saúde por causa destes problemas.
Este estudo teve como objetivo investigar a existência de desigualdade racial nas prevalências do relato de problemas emocionais, de TMC e na busca e uso de serviços de saúde no município de Campinas, SP. Trata-se de estudo de base populacional, elaborado com informações geradas pelo “Inquérito de Saúde de Campinas” (ISACamp), realizado em 2014/2015. Foram analisados dados da amostra de 1.953 indivíduos com 20 ou mais anos de idade, residentes no município de Campinas, SP. Os indivíduos foram selecionados por meio de amostragem probabilística, estratificada e por conglomerados. As informações do inquérito foram obtidas por meio de questionário estruturado, aplicado por entrevistadores treinados. Foram estimadas as prevalências de TMC, avaliado com o Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), de relato de problemas emocionais/mentais e de busca e uso de serviço de saúde segundo raça/cor da pele autorreferida (branca/ preta e parda – classificação IBGE). A comparação entre estas proporções foi realizada pelo teste do qui-quadrado; e por meio das razões de prevalência ajustadas calculadas por regressão múltipla de Poisson. Foram feitos ajustes para idade e sexo, e em algumas análises ajustou-se também para renda familiar per capita para avaliar o efeito da categoria de renda na associação da variável de saúde mental analisada com a raça-cor. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas.
Na população estudada, 68,2% declararam-se brancos, 8,3% e 23,5% referiram ser pretos e pardos, respectivamente. Observou-se que a população preta/parda difere significativamente da população branca, sendo composta por maior percentual de indivíduos jovens, de menor renda, sem plano privado de saúde e com menor percentual de indivíduos com nível de escolaridade superior. A prevalência de TMC foi de 15,2% entre os brancos e de 20,1% entre os pretos e pardos; mas a prevalência do relato de problema emocional não se diferenciou entre os segmentos raciais estudados, indicando que diferentes concepções sobre problemas emocionais e mentais e diferenças no reconhecimento e percepção de sintomas entre os segmentos raciais poderiam conduzir a este achado. A maior prevalência de TMC na população negra tem sido atribuída à maior exposição ao estresse decorrente da posição socioeconômica e das condições de vida, ou pelo estresse ligado às experiências de discriminação e racismo.
A busca por serviços de saúde por causa do problema emocional foi 30% maior entre os brancos em relação aos pretos e pardos. Estudos prévios de outros países já documentaram diferenças raciais no uso de serviços de saúde para problemas de saúde mental. No Brasil, as disparidades raciais na busca pelo serviço de saúde, com foco na saúde mental, ainda têm sido pouco investigadas.
Nosso estudo também detectou que os indivíduos pretos e pardos foram mais atendidos em UBSs ou CAPS (41,5%; 26,9%), enquanto os brancos foram mais atendidos em consultórios médicos ou de outros profissionais (RP=1,7). Este achado ressalta o potencial e a efetividade da atuação do SUS na redução das iniquidades em saúde.
Os resultados revelaram a presença de desigualdades raciais na presença de transtornos mentais comuns, paradoxalmente não acompanhada de maior relato de problemas emocionais, e desigualdades raciais na procura de serviços de saúde para o problema emocional, ressaltando a necessidade de ações que identifiquem barreiras de diferentes naturezas que estejam dificultando o acesso a cuidados de saúde mental pelos segmentos raciais socialmente desfavorecidos.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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