30/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-17A - GT 17 - Gêero,Iiniquidades e Saúde Mental |
31681 - UM ESTUDO SOBRE AS EXPERIÊNCIAS DE MULHERES NO ACESSO A CUIDADOS EM SAÚDE MENTAL EM UMA CLÍNICA DA FAMÍLIA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
TATIANA REGINA DE ANDRADE SOARES - UERJ
INTRODUÇÃO: A concretização do acesso a partir do princípio da equidade constitui-se como um grande desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que desigualdades engendradas e mantidas por processos de exclusão social são perpetuadas no âmbito das instituições de saúde. Estas desigualdades compõem sistemas discriminatórios múltiplos pautados em sexismo, racismo, heterossexismo e em outras formas de opressão produzindo iniquidades no acesso e continuidade de uso dos serviços por mulheres. No que refere ao acesso a cuidados em saúde mental por mulheres, investigações acerca das percepções e agência destas diante de sofrimentos resultantes não somente de sua condição de mulher, mas de outros marcadores sociais interseccionados, assumem especial relevância no âmbito da saúde coletiva. A partir do pressuposto de que as experiências de saúde, doença e suas estratégias de enfrentamento refletem as possibilidades objetivas de agência dos sujeitos, propõe-se, a partir de uma perspectiva analítica interseccional construcionista, uma investigação acerca da articulação dos marcadores gênero, raça, classe, religião, sexualidade e territorialidade na dinâmica do acesso destas mulheres a uma Clínica da Família na cidade do Rio de Janeiro. OBJETIVOS: Esta pesquisa tem como objetivo geral compreender as percepções de mulheres sobre o acesso a cuidados em saúde mental em uma Clínica da Família localizada na cidade do Rio de Janeiro. Têm-se como objetivos específicos explorar e descrever de que maneira percebem a si mesmas, a suas/seus profissionais de referência e outros atores envolvidos neste processo de cuidados; investigar e caracterizar de que modo tais relações de cuidado em saúde mental são construídas no contexto de práticas da Unidade de Saúde da Família (USF) e, ainda, analisar e discutir demandas e especificidades em saúde mental resultantes de processos de discriminação e exclusão. METODOLOGIA: Trata-se de estudo de abordagem qualitativa, realizado a partir do método etnográfico, no qual foram eleitas como técnicas para a produção de dados a observação participante e a realização de entrevistas semiestruturadas. Quanto aos procedimentos escolhidos para o tratamento analítico dos dados estes são três: análise de discurso, análise antropológica e análise interseccional. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Uma análise preliminar de dados coletados revela alta prevalência de sofrimento psíquico relatado por mulheres no acesso a este serviço. Ao mesmo tempo, os dados indicam que a integração de cuidados em saúde mental é referida como um importante dispositivo de auto conhecimento e apoio emocional no enfrentamento de realidades de adoecimento. Raça, classe, sexualidade e religião foram identificados como os principais marcadores sociais acionados nos discursos de usuárias e profissionais desta unidade de saúde na interpretação destas realidades. Foi constatado a partir dos dados, ainda, uma significativa dificuldade no estreitamento do vínculo das usuárias com suas/seus profissionais de referência frente a grande demanda de cuidados em saúde mental neste serviço. CONCLUSÃO: Os dados preliminares indicam que a pesquisa etnográfica mostra-se útil na compreensão do social nas experiências de acesso a cuidados em saúde mental ao possibilitar a identificação de intersecções entre gênero e outras categorias de articulação pertinentes. Alguns desafios acerca da construção coletiva da organização do cuidado a partir de uma escuta sensível a estes marcadores solicitam múltiplas estratégias de intervenção nos efeitos das expressões do racismo e demais discriminações para a saúde mental de mulheres.
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