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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 15:00 - 16:30
EO/CB-17B - GT 17 - Habitos, Comportamentos em Saúde: Um Reflexo das Iniquidades?

29973 - INIQUIDADES SOCIAIS RETRATADAS NA SAÚDE BUCAL: MOSTRE-ME TEUS DENTES E EU TE DIREI QUEM ÉS
CRISTIANE CARNEIRO PINGARILHO - UCES, UNIVERSIDADE DE CIENCIAS SOCIAIS E EMPRESARIAIS, BUENOS AIRES, AR, CARLOS GONÇALVES SERRA - UNESA, UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ


A política de austeridade implantada no Brasil e a adoção da ideologia neoliberal, instalada no país em nome da crise econômica mundial, está tendo como consequência o declínio das políticas sociais conquistadas na Constituição de 1988, particularmente no que diz respeito ao direito universal à saúde.
Apesar de existirem alternativas fundamentadas em justiça, solidariedade e bem estar social, a população brasileira tem sido sacrificada com aumento das taxas tributárias e diminuição da oferta de serviços públicos, devido aos cortes de despesas e reformas estruturais.
No que diz respeito às políticas de saúde bucal no Brasil, os últimos estudos apontam que a partir de 2016 houve redução no financiamento deste setor, com menor implantação de novos serviços, mudanças sucessivas na coordenação nacional e queda de indicadores específicos, como a primeira consulta odontológica programada, aquela que mede o acesso da população ao tratamento dentário.
A situação é considerada como um verdadeiro desmonte, segundo o Observatório de Análise Política em Saúde (OAPS). O repasse federal para custeio da saúde bucal em 2018 foi reduzido à metade do montante de 2017, refletindo assim, além da redução ao acesso de serviços, decrescimento nas ações coletivas como escovação supervisionada e tratamentos nos centros de especialidades odontológicas (CEO).
No Rio de Janeiro, a gestão do Prefeito Marcelo Crivella, eleito em 2017, iniciou o processo de precarização das Clínicas de Saúde da Família, inauguradas pelo seu antecessor Eduardo Paes, através do contingenciamento de verbas e de demissões em massa de trabalhadores, sendo as classes dos agentes comunitários e as equipes de saúde bucal as mais atingidas.
A diminuição drástica das equipes de saúde bucal no âmbito da Estratégia Saúde da Família diminui a oferta de atendimento odontológico e aumenta as desigualdades, prejudicando o acesso ao tratamento dentário para os indivíduos mais suscetíveis e vulneráveis.
O presente plano de pesquisa tem como objetivo avaliar o impacto da diminuição da oferta de serviços de saúde bucal para a população do Complexo do Alemão, comunidade marcada pela violência, tráfico de drogas e confrontos armados entre a polícia e os traficantes. Os dados serão coletados nos Sistemas de Informação disponíveis no município do Rio de Janeiro, assim como através de entrevistas semi-estruturadas com os usuários das Clínicas que sofreram cortes na Saúde Bucal, no período de 2017 a 2020.
Os resultados pretendem demonstrar que as iniquidades sociais se refletem na saúde bucal. As camadas mais pobres da população continuam não tendo acesso ao tratamento dentário. A adoção de políticas neoliberais põe em risco todos os avanços que o SUS alcançou até aqui, principalmente no que diz respeito a atenção em saúde bucal em base populacional.
Como aprendizado pode-se considerar que, em um país tão extenso e com tanta diversidade, as Clínicas da Família com equipes de saúde bucal, proporcionam aos dentistas e à população uma experiência exitosa. Dentistas têm a oportunidade
de trabalhar com equipes multiprofissionais, aderindo à lógica do trabalho com famílias cadastradas em seu território de atuação, realizam planejamento estratégico das ações baseados em dados epidemiológicos e participam de forma interdisciplinar e intersetorial em grupos de prevenção de doenças crônicas, acompanhamento de gestantes, tratamento do tabagismo e prevenção de abuso de álcool e drogas, além de conhecer o território e seus moradores em visitas domiciliares guiadas pelos agentes comunitários. Os usuários, por sua vez, dispõe do acesso ao tratamento dentário humanizado, com orientações sobre alimentação saudável e a influência de dietas ricas em açúcar no desenvolvimento da doença cárie. São incentivados a adotar hábitos saudáveis de higiene, como a escovação correta e frequente, capazes de interromper o curso da doença. Os mitos relacionados à dor e ao medo do tratamento dentário são atenuados pela relação de confiança e vínculo com os dentistas. Para a maioria da população de baixa renda, o tratamento dentário é inacessível. Dentes estragados ou ausentes são um fator de exclusão na hora de conseguir emprego. Sorrir sem tapar a boca com as mãos e ter dentes saudáveis e restaurados elevam a auto-estima pessoal.
Análise crítica:
Existe um paradoxo no Brasil: um número excessivo de dentistas formados anualmente e, por outro lado, a existência de iniquidades no acesso aos serviços odontológicos pela população que mais necessita. Há falta de dentistas em regiões distantes dos grandes centros. A classe política e a própria sociedade precisam reconhecer a saúde bucal como parte indivisível da saúde geral, um direito do cidadão que deve fazer parte da política de Estado, ser valorizada e devidamente financiada. Por fim, capacitar dentistas para no futuro atuarem na saúde pública, com o SUS sofrendo tantas ameaças,
subfinanciamentos e retrocessos, será um grande desafio.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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