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28/09/2019 - 15:00 - 16:30
EO/CB-17B - GT 17 - Habitos, Comportamentos em Saúde: Um Reflexo das Iniquidades?

29999 - DESIGUALDADES RACIAIS EM EDENTULISMO: ESTUDO DE BASE POPULACIONAL EM CAMPINAS, SP
LÍVIA HELENA TERRA E SOUZA - UNICAMP, MARILISA BERTI DE AZEVEDO BARROS - UNICAMP, TÁSSIA FRAGA BASTOS - UNICAMP, MARGARETH GUIMARÃES LIMA - UNICAMP


Dentre os princípios que conferem a legitimidade ao SUS, a universalidade está ligada à garantia do direito à saúde por todos os brasileiros, sem discriminação seja por raça, cor, sexo, condição social ou orientação sexual. No Brasil, o Ministério da Saúde vinha fortalecendo a promoção da equidade racial em saúde com a implementação de estratégias como a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, publicada em 2009, objetivando a promoção à saúde integral desta população, com prioridade na redução das desigualdades étnico-raciais, no combate ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do SUS. Na saúde bucal estas desigualdades tendem a se acentuar considerando que grande parte das consultas ocorre em serviços particulares, dificultando o acesso de segmentos étnico-raciais. Como consequência deste e de outros fatores, resulta-se no edentulismo e consequentemente na perda das funções mastigatória e estética, tende a ser mais frequente entre a população negra. Poucos estudos brasileiros analisaram desigualdades raciais no edentulismo. Estes estudos têm apontado que a magnitude das desigualdades é ainda maior na saúde bucal em relação às outras dimensões do cuidado, denotando a necessidade de monitoramento destas disparidades. O objetivo desta pesquisa foi avaliar as desigualdades raciais em relação ao edentulismo na população adulta de Campinas-SP. Trata-se de um estudo epidemiológico, do tipo transversal, realizado com dados do “Inquérito de Saúde de Campinas” (ISACamp), conduzido em 2014/15. Os indivíduos foram selecionados por meio de amostragem probabilística, estratificada e por conglomerados. As informações do inquérito foram obtidas por meio de questionário estruturado, aplicado com uso de tablets por entrevistadores treinados. Foram estimadas as prevalências de perda de dentes, uso de prótese e consulta para exodontia segundo cor da pele autorreferida (branca/ preta e parda – classificação IBGE) e testadas as diferenças por meio de teste de X2. Também foram estimadas razões de prevalências ajustadas por sexo, idade e renda mensal per capita em salários mínimos (SM), por meio de regressão de Poisson. Das 1953 pessoas com 20 anos ou mais, avaliadas neste estudo, 68,6% se autodeclararam como brancos e 31,3% como pretos e pardos. A renda menor do que 0,5 SM foi quase duas vezes maior nos negros, e o rendimento mensal maior do que 3 SM foi 3 vezes maior na população branca. Enquanto 31,8% dos negros tem plano de saúde, 53,4% dos brancos relataram possuir este tipo de seguro. Ao analisar as condições de perdas dentárias observamos que grande parte da população havia perdido pelo menos um dente (60,4%), mas ressaltamos que a prevalência foi 25% maior entre os negros. Observamos também que, após perderem os dentes, 57,4% dos brancos fazem uso de prótese, enquanto que este percentual cai para 41,3% entre os negros. Uma vez perdido os dentes, as próteses dentárias apresentam-se como uma forma eficaz de reestabelecer parte das funções mastigatórias perdidas e reabilita os indivíduos estética e funcionalmente. Em relação ao motivo de consulta ao dentista, verificamos que 12% dos pretos e pardos consultaram o dentista para exodontia, mas apenas 6,7% dos brancos procuraram um consultório odontológico por este motivo, sendo esta prática cerca de 2 vezes maior entre os negros. As consultas por motivos de exodontia acontecem, principalmente, pela falta de cuidados de rotina provocada por falta de informação sobre a importância da saúde bucal e de recursos para a manutenção destes cuidados. Quando analisamos as desigualdades raciais por sexo observamos que a perda dentária é 32% maior nas mulheres negras, sendo maior a perda de mais de um dente, e a consulta para exodontia é 2 vezes mais frequente nesta população, em relação às brancas. Nos homens as diferenças não foram significativas. Estes resultados alertam para uma interação nas associações e dupla questão em relação às iniquidades no edentulismo: ser mulher e ser negra. Por outro lado, não encontramos, nas mulheres, diferenças raciais para uso de prótese, mas sim nos homens, com desvantagem para os negros. As estratégias para ampliar o cuidado mais igualitário em saúde bucal devem ser particulares considerando estes resultados. Ressaltamos que as perdas dentárias, o uso de próteses e a consulta ao dentista para exodontia foram mais prevalentes entre os indivíduos que se declararam pretos e pardos, mesmo com ajustes para renda, ou seja, é possível que parte destas associações aconteçam por outros fatores relacionados à segregação racial e não apenas ao recurso financeiro individual, que tende a ser menor entre os negros. Os resultados encontrados apontam a necessidade de continuidade das pesquisas, discussões e estratégias para diminuir as inequidades de raça/cor da pele em saúde bucal, que ainda são evidentes, fazendo cumprir as metas e garantias dos direitos à saúde de todos os indivíduos, sem qualquer distinção.

local do evento

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