29/09/2019 - 15:00 - 16:30 EO/CB-17D - GT 17 - Saude, Adoecimento e Morte de Mulheres e Crianças |
31416 - CAUSAS BÁSICAS DE ÓBITO FETAL SEGUNDO A DURAÇÃO DA GESTAÇÃO, BRASIL, 2002 A 2017 DAYANE DA ROCHA PIMENTEL - RESIDENTE EM SAÚDE COLETIVA PELO INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES (IAM/FIOCRUZ-PE)., LAYS JANAINA PRAZERES MARQUES - DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA, FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO., ADSON BELÉM FERREIRA DA PAIXÃO - RESIDENTE EM SAÚDE COLETIVA PELO INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES (IAM/FIOCRUZ-PE)., CRISTINE VIEIRA DO BONFIM - FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO, RECIFE-PE., CONCEIÇÃO MARIA DE OLIVEIRA - CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU, RECIFE-PE., MARCIA FURQUIM DE ALMEIDA - DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA, FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO., TAMIRES BRANDÃO DE SIQUEIRA E SOUSA - RESIDENTE EM SAÚDE COLETIVA PELO INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES (IAM/FIOCRUZ-PE).
APRESENTAÇÃO/INTRODUÇÃO: A mortalidade fetal é um indicador sensível à qualidade da assistência prestada à gestante durante o pré-natal e o parto. Apesar do impacto da natimortalidade sobre as famílias, profissionais de saúde e sociedade em geral, pouca atenção tem sido dada às políticas e práticas direcionadas a esse evento. A baixa qualidade das informações sobre o óbito fetal é outro fator relevante que contribui para o pouco interesse dado às pesquisas nesta área no país. Há imprecisões ao atestar a causa de óbito, e também produção escassa de relatórios sistemáticos que atendam a essa necessidade. Dessa forma, a mortalidade fetal permanece insuficientemente compreendida e analisada. Em parte, devido à sua complexidade, mas também pela reconhecida limitação dos dados em termos de qualidade e disponibilidade, dificultando o reconhecimento das condições de mortalidade.
OBJETIVO: Analisar as causas básicas de óbito fetal segundo duração da gestação, ocorridos no Brasil, no período de 2002 a 2017.
METODOLOGIA: Trata-se de um estudo epidemiológico de série temporal. A população de estudo foi constituída por todos os óbitos fetais de mães residentes, ocorridos entre 2002 e 2017. Foram utilizados dados provenientes do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e de Nascidos Vivos (Sinasc) para cálculo da TMF.
Foram selecionadas as variáveis relacionadas à gestação, parto, feto e à causa básica de óbito de acordo com a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10). As tendências temporais foram analisadas no Microsoft Excel®, segundo a duração da gestação (<37 e ≥37 semanas), obtendo a linha de tendência exponencial para as cinco principais causas ao final do período. O processamento e análise dos dados foi realizado no Tabnet e no Software IBM SPSS® Statistics versão 18.
Foram utilizados dados secundários e de domínio público obtidos por meio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). Desta forma, esse estudo dispensou a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: No período de estudo ocorreram 473.517 óbitos fetais, destes 346.770 (73,2%) pertenciam a gestações com duração <37 semanas e cerca de 2/3 ocorreram antes do parto (83,1%). A TMF apresentou taxa de variação de redução anual de 0,9%, passando de 12,1 para 10,4 por mil nascimentos no período estudado. A redução foi maior nas gestações pré-termo (5% ao ano) em relação àquelas com 37 semanas ou mais de duração (0,8% ao ano). O aumento do acesso à atenção pré-natal no período pode ter contribuído para a redução da mortalidade fetal. O número adequado de consultas de pré-natal (7 ou mais) atingiu 67,7%, com crescimento de 2% ao ano. Entretanto, apesar do progresso, a redução da mortalidade fetal foi menor do que a observada para os óbitos maternos e infantis.
As quatro principais causas básicas de óbito identificadas no grupo com >37 semanas e no grupo com 37 semanas e mais foram semelhantes, havendo diferença apenas na ordenação, sendo essas: complicações maternas (P00-P01), hipóxia intra-uterina (P20), morte fetal de causa não especificada (P95), complicações placenta, cordão umbilical e membranas (P02).
As causas por complicações maternas (P00-P01) ocuparam a quarta posição entre as principais causas de óbito em fetos com <37 semanas de gestação em 2002, passando a representar a principal em 2017. Nos óbitos com ≥37 semanas foi observado aumento das complicações maternas (3,7% ao ano). Além da ampliação de acesso ao pré-natal, o ingresso ainda no primeiro trimestre gestacional é necessário para assegurar a efetividade da assistência prestada à gestante. A realização dos exames laboratoriais preconizados possibilita a identificação de agravos e intervenção em tempo oportuno, prevenindo desfechos negativos da gestação.
A morte fetal de causa não especificada (P95) representava a principal causa de morte em 2002 nos óbitos com <37 semanas, com TMF de 43,54 e em 2017 ocupou o terceiro lugar com TMF de 11,69, reduzindo 8,8% ao ano. O registro de causas de mortes intermediárias e inespecíficas limitam o potencial de utilização dos dados disponíveis na declaração de óbito. Iniciativas que reafirmam o compromisso no âmbito jurídico e epidemiológico com a produção de estatísticas vitais confiáveis devem ser priorizadas como instrumento de gestão em saúde pública.
CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar das taxas de causas não especificadas ainda permanecerem altas ao final do período, observa-se que houve uma redução expressiva ao longo dos anos. O declínio observado em várias taxas de causas básicas de óbito fetal pode estar relacionado ao aprimoramento da especificação das causas de morte e não apenas à melhoria da assistência ao pré-natal e parto. É necessária a continuidade da qualificação do preenchimento da declaração de óbito e o fortalecimento da investigação dos óbitos fetais a partir de ações de vigilância em saúde.
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