28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-8D - GT 8 - Direitos, Democracia e Violencia |
31399 - BARREIRAS DE ACESSO DIFICULTAM A ACESSIBILIDADE AOS SERVIÇOS DE SAÚDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SHIRLAYNNE MEDEIROS UCHÔA - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS - FCM, NATHÁLIA DE OLIVEIRA AZEVEDO - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS - FCM, LAYZA DE SOUZA CHAVES DEININGER - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS - FCM
CONTEXTUALIZAÇÃO: A Constituição Federal de 1988, grande conquista popular, apresenta a criação de um sistema de saúde único, e assim, transformou a saúde em direito de todos e dever do Estado. Dentre os princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS) está a universalidade, sendo este princípio o que indica e determina que todos os cidadãos brasileiros, sem qualquer tipo de discriminação, têm direito ao acesso às ações e serviços de saúde. Apesar de todo o arcabouço institucional e do aparato jurídico-legal do SUS criado para melhorar o acesso da população aos serviços de saúde, ainda existem muitas barreiras que interferem na concretização do acesso universal à saúde no Brasil. Portanto, o conhecimento dessas barreiras de acesso aos serviços de saúde é de extrema importância, pois permite uma melhor estrutura, organização e planejamento dos serviços ofertados. DESCRIÇÃO: Estudo descritivo e exploratório do tipo relato de experiência, vivenciado por acadêmicas de medicina em uma Unidade de Saúde da Família (USF) por meio de estágio curricular em seis visitas ao território-área de uma USF, das 8 às 11 horas, com o acompanhamento do Agente Comunitário de Saúde (ACS). PERÍODO DE REALIZAÇÃO: Fevereiro a maio/2019. OBJETIVO: Observar as barreiras de acesso presentes em um território-área e seus impactos à acessibilidade aos serviços de saúde de uma USF. RESULTADOS: Dentre as barreiras que dificultam ou impedem o acesso aos serviços de saúde, pode-se identificar: as geográficas que podem ser naturais ou criadas pela ação humana. Barreiras funcionais ou organizativas que se referem a organização dos serviços de saúde. Barreiras culturais que estão diretamente relacionadas a cultura da população e a barreira financeira que muitas vezes influencia demasiadamente na qualidade de vida das pessoas. Assim, no território visitado, foi observado que em geral, o sistema de transporte público é muito precário, dificultando o acesso de boa parte da população à USF, visto que há microáreas que ficam a cerca de 7,5 quilômetros da unidade de saúde, o que representa uma barreira geográfica. Há algumas microáreas que estão momentaneamente sem suporte dos ACS, que se encontram em licença-saúde, deixando o elo de ligação entre a população e a equipe de saúde frágil, se caracterizando como uma barreira funcional ou organizativa. Na microárea II existe uma barreira geográfica que liga o acesso à microárea I, onde se encontra a USF, representado por uma escadaria de 144 degraus. A microárea III, assim como a VI e VII, apresentam como barreira geográfica, a distância da USF e o único meio de transporte para chegar à unidade de saúde nessas microáreas, em especial a III, é um ônibus escolar que passa às 7h e retorna às 11:30h. A microárea V possui uma ladeira como barreira geográfica, além de ser a região com maior barreira cultural, visto que possui casas de luxo e os moradores não aceitam os serviços da equipe saúde da família, apenas os trabalhadores das residências utilizam os serviços da USF. A microárea VII, especialmente, possui altos índices de violência e isso dificulta o acesso dos ACS aos moradores, pois os próprios agentes de saúde são receosos quanto ao trâmite local. Todas as microáreas apresentam a barreira econômica em maior ou menor quantidade, há locais onde as famílias vivem com menos de 70 reais por pessoa, não há banheiro nas residências, as necessidades fisiológicas são realizadas as margens do rio ou em sacos plásticos e jogados na mata próxima as casas, utilizam água de poço e de um rio que recebe esgoto de outros bairros. Além de todas essas barreiras de acesso aos serviços de saúde. Na USF foram detectadas diversas barreiras funcionais ou organizativas, como um cronograma de atendimentos fechado, com dias específicos para cada grupo de usuários (crianças, mulheres, idosos e gestantes), gerando poucos horários para demanda espontânea; há dificuldade de relacionamento entre os profissionais e entre a própria equipe com os usuários; o referido “acolhimento” é excludente e deficiente, por ordem de chegada e entrega de fichas. APRENDIZADOS E ANÁLISE CRÍTICA: Enquanto acadêmicas e futuras médicas, foi de suma importância o conhecimento do processo de trabalho da equipe de saúde, do território-área e as suas características geográficas bem como os seus contextos sociais, econômicos e culturais, para que a partir de então, fosse possível entender os determinantes e condicionantes do processo saúde/doença, além de identificar as barreiras que dificultam ou até impedem o acesso aos serviços de saúde pela população. Assim, é necessário que o paradigma excludente do modelo de atenção à saúde seja revisto, políticas públicas de acesso a renda sejam efetivadas, o transporte público seja melhorado, os profissionais de saúde sejam capacitados para orientar e cuidar de forma integral, além de realização de novo concurso público para ACS, no intuído de prestar assistência à saúde oportuna e de qualidade a população.
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