28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35J - GT 35 - Corpo, Gênero, Estigmas: Vulnerabilidades e Proteção Social |
29982 - GÊNERO, RACISMO, SAÚDE MENTAL E CONSUMOS LÍCITOS DE RISCO PARA A SAÚDE: UMA REVISÃO TEÓRICA ANA LUÍSA PATRÃO - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, ELVIRA RODRIGUES DE SANTANA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, ESTELA MARIA MOTTA LIMA LEÃO DE AQUINO - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INTRODUÇÃO:
Do mesmo modo que se compreende raça como construto social, é possível pensar nas questões de gênero como construções sociais baseadas nas diferenças de sexo, mas cujo alcance ultrapassa largamente os aspectos exclusivamente biológicos. A raça e o gênero são determinantes fundamentais da estrutura de oportunidades, definindo o acesso a ambos os recursos que promovem saúde e exposição aos riscos que prejudicam a saúde, logo, os seus efeitos não podem ser desagregados ou entendidos separadamente. As disparidades de gênero na saúde são bem documentadas, assim como as desigualdades raciais em saúde, mas poucos estudos reúnem essas linhas de pesquisa para avaliar como a raça modela as diferenças no bem-estar de homens e mulheres. Alguns estudos revelam haver diferenças de gênero ao nível dos transtornos mentais comuns, do consumo de álcool e tabaco, e também da percepção de discriminação. Nesse sentido, este estudo busca refletir sobre as diferenças de gênero ao nível do racismo, saúde mental e comportamentos relacionados ao consumo de álcool e tabaco, a partir de uma revisão sistemática da literatura.
METODOLOGIA:
Foi realizada uma revisão sistemática da literatura envolvendo atividades de identificação, análise e interpretação de resultados de pesquisas. A busca dos artigos foi realizada em três bases. Na literatura internacional usou-se a base PubMed, e na literatura brasileira, usou-se a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e o Portal da Capes. Foram incluídos estudos que abordaram os transtornos mentais comuns e o consumo de álcool e tabaco, entre pessoas que se sentem descriminadas devido a raça/cor. Estudos que não incluíram raça ou cor da pele como uma variável foram excluídos dessa revisão sistemática. Cabe salientar que as reflexões dessa revisão fazem parte de uma tese de Doutorado intitulada “Gênero, discriminação racial, transtornos mentais comuns e comportamentos de risco para a saúde em homens e mulheres brasileiros”, que vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, Brasil. Tem como objetivo investigar a associação entre discriminação racial percebida, transtornos mentais comuns (TMC) e comportamentos relacionados a consumos de risco para a saúde na coorte do ELSA-Brasil, sob uma perspectiva de gênero.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Estudos sugerem que há diferenças de gênero ao nível da discriminação racial percebida por homens e mulheres. Estudos norte americanos referem que os homens negros são mais comumente discriminados em instituições, sistemas educacionais e mercado de trabalho. No Brasil, a população jovem negra, notadamente aquela que vive na periferia dos grandes centros urbanos, tem sido a vítima preferencial dos assassinatos encobertos pelos “autos de resistência” e do encarceramento massivo. O racismo institucional é um fator determinante no acesso aos serviços de saúde, principalmente para as mulheres negras. Oliveira e Barreto (2003) analisaram a percepção do racismo no Rio de Janeiro e chegaram à conclusão que as mulheres têm uma percepção mais aguçada do racismo do que os homens, reforçando a ideia de que a percepção da existência do racismo parece ser mediada pela perspectiva de gênero. Em relação às diferenças de gênero ao nível da prevalência dos transtornos mentais comuns, estudos internacionais mostram que o risco de TMC é significativamente maior para as mulheres. Estudos brasileiros também evidenciam que as mulheres são as mais afetadas pelos transtornos mentais comuns. No que se refere às diferenças de gênero na associação entre a percepção de discriminação e comportamento de risco para a saúde, como o uso de álcool e tabaco, os resultados do estudo de O’Hara et al. (2015) mostraram que a associação entre discriminação e consumo de álcool ocorreu também apenas entre homens, não havendo qualquer relação entre estas variáveis nas mulheres. Vários estudos referem que isto acontece porque os homens têm mais comportamentos de externalização (raiva e consumo de substâncias várias) em resposta ao stresse, do que as mulheres, que internalizam mais. Esta diferença pode dever-se ao fato das mulheres serem mais “treinadas” socialmente ao longo da vida para lidarem mais facilmente com as emoções do que os homens, que se espera que sejam fortes, resistentes e másculos.
CONCLUSÃO:
Em suma, dependendo do contexto, as diferenças de gênero ao nível da associação entre discriminação racial, TMC e consumo de álcool e tabaco, diferem. No Brasil, os estudos dentro desta linha são praticamente inexistentes. Considera-se que analisar os efeitos da associação entre gênero, discriminação racial, TMC e o uso do álcool e tabaco é de toda a pertinência no contexto brasileiro e pode subsidiar uma compreensão de como as identidades sociais atuam na saúde e o que pode ser feito para melhorar o estado de saúde, resultado dessas intersecções.
|

|