28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35J - GT 35 - Corpo, Gênero, Estigmas: Vulnerabilidades e Proteção Social |
30387 - IMAGEM CORPORAL DE ADOLESCENTES COM HANSENÍASE NA REGIÃO DO SEMI-ÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO MICHELLE CHRISTINI ARAÚJO VIEIRA - UNIVASF, KALLINY MIRELLA GONÇALVES BARBOSA - UNIVASF, THAYSA MARIA VIEIRA JUSTINO - UNIVASF, GABRIELA GARCIA DE ANDRADE - UNIVASF, MARIA DA GLÓRIA LIMA CRUZ TEIXEIRA - UFBA
APRESENTAÇÃO/INTRODUÇÃO
A Hanseníase é reconhecida como um grave problema social e de Saúde Pública, (PARANÁ, 2015). A temática jovem com hanseníase ainda é pouco discutida e este adoecimento traz uma mudança na concepção do self relacionada à identidade e ao corpo, necessitando de uma reaprendizagem corporal muito mais relacionada a questões morais do que a questões limitantes (CONESQUI, 2007).
No Brasil, os coeficientes de detecção da hanseníase para o país como um todo vêm se mostrando estáveis, porém as regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, ainda mantêm taxas em patamares muito elevados, o que demonstra a necessidade de execução de atividades direcionadas para redução da transmissão da doença nestas áreas (BRASIL, 2016) e de estudos para evidenciar a relevância de se intervir nesse cenário, bem como compreender os sentimentos que marcam os indivíduos acometidos pelo agravo.
OBJETIVOS
Esta pesquisa teve por objetivo compreender as repercussões da hanseníase na imagem corporal de jovens afetados pela doença. Participaram do estudo quatorze jovens tratados e curados, e que durante o adoecimento estavam entre 08 e 14 anos.
METODOLOGIA
Abordagem qualitativa, buscando auxílio no referencial teórico da sociologia de Erving Goffman. Para tal, utilizamos as noções de “fachada”, “performance” e “estigma” para a compreensão do processo saúde-doença. Participaram desta pesquisa quatorze jovens de ambos os gêneros, menores de 15 anos, registrados no programa de controle da hanseníase dos municípios de Petrolina - PE e Juazeiro – BA e com alta por cura. Os/as jovens foram identificados por nomes fictícios que retrataram as flores da Caatinga. Para a interpretação dos resultados, utilizamos o trabalho de Squire sobre pesquisa com narrativas. Foi aprovada pelo Comitê de Ética CAAE: 52801216.0000.5196 e parecer nº:1.448.193.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A idade dos/as participantes variou de 08 a 14 anos, sendo 08 do gênero feminino, todos/as frequentavam a escola, predominantemente o ensino fundamental. Referente à forma operacional da hanseníase, 04 desenvolveram a forma Paucibacilar e 10, a forma Multibacilar. A partir das narrativas produzidas, buscou-se destacar aspectos da imagem corporal do/a jovem adoecido/a pela hanseníase. Além da feiura atribuída ao corpo com hanseníase, os/as participantes se sentiram afetados diante das alterações na cor da pele decorrente da clofazimina, que é um corante imofenazínico, exerce efeito bactericida lento no Mycobacterium leprae (bacilo de Hansen), indicada para o tratamento da forma Multibacilar.
Para este/a jovem, seu corpo com hanseníase é “feio”, “doente” e “rejeitado”, e esta imagem corporal repercute negativamente na sua autoimagem. Nessa perspectiva, os “agentes da ação” devem perceber esse corpo não apenas pela hanseníase, mas pelos anseios e conhecimentos que estes/as jovens carregam de si mesmos/as. É imprescindível conhecer as percepções do processo saúde/doença, democratizar a informação e conhecer o imaginário sociocultural.
CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realidade de viver com hanseníase não se resume a uma lista de sinais e sintomas, tratamento e cura. É necessário entender o que a doença significa para o doente e como a doença acontece e é produzida no cotidiano de diversos atores. Desse modo, é importante entender que o corpo adoecido pela hanseníase adquire múltiplas formas através do entrecruzamento e de ações heterogêneas, ou seja, provenientes da população e seu “senso comum”; do/a jovem, mediado/a pelos seus temores, suas angústias, seus valores e conhecimentos, e dos profissionais, corriqueiramente conflitantes com as do/a paciente, e é nesse cenário que se entrelaçam e tensionam as relações.
Finalmente, é imprescindível conhecer as percepções do processo saúde/doença, ofertar tecnologias adequadas, conhecer o imaginário sociocultural relacionado à hanseníase e o imaginário do próprio corpo, como também as práticas cotidianas dos diferentes atores. Certamente, o conhecimento dessas práticas será importante e necessário para repensar/criar novas estratégias de cuidado à saúde e ações educativas para jovens que vivem ou viveram com hanseníase.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Indicadores epidemiológicos e operacionais de hanseníase Brasil 2000-2015. 2016. Disponível em:< http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/julho/07/Indicadores-epidemiol--gicos-e-operacionais-de-hansen--ase-2000-a-2015.pdf>. Acesso em 25 mai. 2019.
PARANÁ. Secretaria de Saúde. Hanseníase. Disponível em:. Acesso em 22 mai. 2019.
CONESQUI, Ana Maria. Estudos Antropológicos sobre os adoecimentos crônicos. In: Olhares socioantropológicos sobre os adoecimentos crônicos. São Paulo: Editora Hucitec. 2007
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