Clique para visualizar os Anais!



Certificados disponíveis. Clique para acessar a área de impressão!

Associe-se aqui!

Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-35J - GT 35 - Corpo, Gênero, Estigmas: Vulnerabilidades e Proteção Social

31245 - BUSCA POR AVALIAÇÃO DE PRÓSTATA, DISFUNÇÃO ERÉTIL E DEMANDA OCULTA DE HOMENS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
ANTÔNIO AUGUSTO DALL‘AGNOL MODESTO - UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO (UNICID), MARCIA THEREZA COUTO - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)


Apresentação: Homens são geralmente reconhecidos como pouco cuidadosos com a saúde e pouco aderentes a tratamentos e ações preventivas, mas a campanha Novembro Azul leva um enorme contingente deles aos médicos todo ano – ainda que instituições nacionais e estrangeiras como o Instituto Nacional de Câncer, o Ministério da Saúde e a United States Task Force for Preventive Services não recomendem o rastreamento populacional do câncer de próstata. Elas se baseiam em ensaios clínicos com mais de dez anos de seguimento que mostram que o rastreamento com PSA (Prostatic Specific Antigen) e/ou toque retal não diminui a mortalidade geral dos homens, e muda muito pouco a mortalidade específica por câncer de próstata. Esse pequeno benefício não compensa os riscos relacionados à biópsia prostática, o impacto psicológico de um resultado falso-positivo, o sobrediagnóstico e as sequelas do tratamento, que incluem disfunção erétil e incontinência urinária. Nesse contexto, médicas e médicos de família e comunidade frequentemente atendem homens aparentemente assintomáticos que buscam avaliação da próstata, mas que têm dúvidas ou queixas subjacentes que só revelam tardiamente ou em consultas subsequentes; comumente se tratam de questões referentes à sexualidade, especialmente disfunção erétil – problema de grande interesse para homens e para a indústria farmacêutica. Nesse processo, os usuários acabam se colocando sob risco de intervenções diagnósticas e terapêuticas questionáveis, com grande potencial de falsos-positivos e sequelas. Por sua vez, as Unidades Básicas de Saúde no Brasil historicamente se dedicaram à população feminina, e seus profissionais frequentemente reproduzem estereótipos de gênero que contribuem para a invisibilidade dos homens e suas demandas nesses serviços. Objetivos: O objetivo dessa pesquisa, produzida no âmbito do doutorado em Medicina Preventiva do primeiro autor, foi compreender como a população masculina usa serviços de Atenção Primária à Saúde e como expressa suas queixas, a partir do caso dos homens que buscam avaliação de próstata ou têm questões referentes a disfunção erétil ou outros problemas de sexualidade. Buscamos identificar articulações entre esses problemas e a demanda por rastreio, bem como entender como os serviços (particularmente as médicas e médicos) lidam com demandas expressas e ocultas e contribuem à vulnerabilidade institucional dos homens. Metodologia: A pesquisa é de metodologia qualitativa e teve seus dados produzidos através de entrevistas semiestruturadas com médicas e médicos da Estratégia Saúde das Família de duas cidades da Grande São Paulo (a capital e Mauá) e com usuários maiores de 18 anos em cujas consultas surgiram questões sobre próstata, disfunção erétil ou outros problemas de sexualidade. O tamanho das duas amostras foi definida pelo critério de saturação. Como técnica auxiliar, observamos os serviços participantes, pautados por roteiro específico e registrando as observações em diário de campo. A interpretação dos dados levou em conta os referenciais de gênero e construção social das masculinidades, além das noções de integralidade, prevenção quaternária e medicalização. Resultados e discussão: Foram entrevistados 16 profissionais (9 médicas e 7 médicos) e 15 usuários maiores de 18 anos de três UBSs em São Paulo e duas em Mauá. Os cinco serviços foram observados pelo menos uma manhã e uma tarde. A análise de conteúdo das entrevistas demonstrou como aspectos dos(as) profissionais se relacionam à forma como eles(as) percebem, acolhem e dão sentido às demandas dos homens, permitindo também identificar mudanças na tradicional percepção de que “mulheres se cuidam/homens não se cuidam” que apontam para outras categorias, como geração e procedência. A observação dos serviços ajudou a identificar características de APS seletiva em UBSs mauaenses, favorecendo o desencontro entre as demandas e dificuldades dos homens e as ações oferecidas e idealizadas, e de uma APS mais abrangente nas UBSs paulistanas, que facilita a presença dos homens, mas nem sempre contempla questões de gênero. Entre os usuários, identificamos a incorporação de discursos médicos envolvendo risco e cuidado em saúde, nomeamos fatores de entrada, facilitação e manutenção de sua presença na UBS e apontamos fatores relacionados à expressão de suas demandas, mostrando como ela expressão pode influenciar o cuidado recebido e mesmo colocar o homem sob risco de iatrogenia. Quanto à demanda por avaliação de próstata, ela normalmente traduz uma preocupação genuína com câncer ou uma forma de abordar a sexualidade por uma compreensão do próprio corpo que associa próstata e função sexual. Considerações finais: O trabalho aponta caminhos para de superar olhares reducionistas e estereotipados e abordagens prostatocêntricas e medicalizadoras da saúde masculina, contribuindo à diminuição da invisibilidade dos homens na Atenção Primária à Saúde e positivando sua avaliação e cuidado integrais.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900