28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35J - GT 35 - Corpo, Gênero, Estigmas: Vulnerabilidades e Proteção Social |
31426 - TRAJETÓRIAS, CONTEXTOS DE VIDA E VULNERABILIDADE EM JOVENS VIVENDO COM HIV/AIDS EM SALVADOR/BAHIA SANDRA ASSIS BRASIL - UNEB, MÁRCIA CRISTINA GRAÇA MARINHO - UNEB, SILVANA LIMA GUIMARÃES FRANÇA - UNEB, MONICA COUTINHO CERQUEIRA LIMA - FSBA, ROSA BEATRIZ GRAÇA MARINHO - GAPA-BA, GLADYS MARIA ALMEIDA SANTOS - GAPA-BA
Apresentação/Introdução:
Este trabalho faz parte de estudo mais amplo, realizado em parceria com o GAPA-BA e UNICEF, sobre a compreensão dos desafios da adesão a terapia antirretroviral em jovens de 16 a 25 anos vivendo com HIV/Aids. Considera-se oportuna a retomada das discussões sobre vulnerabilidades em jovens vivendo com HIV/Aids, pois o quadro analítico que definiu este conceito, no campo da saúde, surgiu da epidemia da Aids na década de 80 e das sistematizações realizadas a partir de meados da década seguinte, na qual se destacaram elementos individuais, coletivos e sociais que permitem hoje importância da compreensão do contexto, das vozes e da díade indivíduo-coletivo como unidades analíticas dos processos de determinação social do viver com HIV/Aids. Além da sistematização em torno de componentes individuais, programáticos e sociais, a vulnerabilidade constitui uma trama narrativa de referência para os sujeitos, ao mesmo tempo em que se expressa como uma relação social que entremeia dimensões da vida nos espaços de sociabilidade. Ao longo das quatro décadas de existência, a Aids atingiu grupos específicos populacionais e, mais recentemente, vem retornando uma tendência à juvenilização da epidemia, com aumento de casos em adolescentes e jovens de 15 a 29 anos. Os desafios para esse público implicam compreensão das especificidades geracionais e socioculturais, além dos seus modos de viver e expressar-se para melhorias na relação com a terapêutica antirretroviral.
Objetivos:
Compreender as percepções de adolescentes e jovens de 16 a 25 anos atendidos na rede pública de saúde e residentes em Salvador – Bahia, sobre Aids, o viver com HIV/Aids e suas experiências com o uso de medicações antirretrovirais, destacando seus contextos de vulnerabilidade.
Metodologia:
A pesquisa foi realizada em Salvador-BA, entre os meses outubro 2018 e janeiro 2019, na qual foram realizadas entrevistas de histórias de vida de cinco jovens vivendo com HIV/Aids. A história de vida foi utilizada para articular as narrativas destes jovens em torno da percepção das suas experiências individuais do viver com HIV/Aids e sua correlação com os contextos socioculturais e políticos nos quais estão inseridos. Foram selecionadas três histórias de jovens com as idades 17, 22 e 25 anos. O contato com os jovens foi mediado por instituições voltadas a ações de cuidado e prevenção ao HIV/Aids. Seus perfis se diferenciaram em torno das categorias: formas de infecção pelo vírus (transmissão vertical ou sexual), formas de viver com HIV/Aids, uso das medicações antirretrovirais e questões relativas a condições socioeconômicas, gênero e raça/cor. Utilizou-se da análise de narrativas, destacando-se a produção dos sentidos vividos em torno das suas trajetórias. A pesquisa foi aprovada por Comitê de Ética e financiada pelo GAPA-Ba e UNICEF.
Resultados e Discussão:
São histórias de vida de três jovens com perfis diferentes: a) 25 anos, homem, branco, gay, classe média alta, nível superior e infecção ao HIV/Aids por transmissão sexual; b) mulher, negra, 17 anos, heterossexual, ensino médio, moradora em casa de acolhimento e infecção por transmissão vertical; c) 22 anos, gay, negro e ator transformista, inusitada história de como evitou a contaminação pelo HIV quando criança (mãe soropositiva) e se infectou aos 18 anos por transmissão sexual. Estas histórias sugeriram pontos de encontro e de distanciamento em torno das trajetórias de infecção ao HIV/Aids e condições de vida. Evidenciou-se um importante eixo comum de construção de vulnerabilidade em torno do “ser jovem”. A juventude brasileira é vulnerável às situações de violência, riscos e iniquidades, sobretudo a realidade de jovens mulheres negras ou jovens gays negros vivendo com HIV/Aids. Ademais, todas as narrativas sinalizaram aspectos de uma juventude que vive cenários de incertezas sociais, políticas e político-institucionais. Os aspectos de maior vulnerabilidade destacaram 3 cenários: 1) silenciamentos e tabus em famílias tradicionais; 2) violência e pobreza, com consequente institucionalização; 3) cotidiano noturno de travestis e transformistas. Destacou-se também distintas “bolhas de proteção” e cuidado para cada um dos jovens: “bolha de privilégio de classe”, “bolha institucional” e “bolha familiar”.
Considerações Finais:
A discussão sobre vulnerabilidades em jovens soropositivos se torna cada vez mais atual dentro de um contexto de retrocessos significativos no cenário sócio-político brasileiro. A pesquisa demonstrou que a vulnerabilidade se apresentou como uma categoria transversal às diferentes nuances de vida e cuidado, sobretudo em relação às formas de cuidado de si e uso das medicações antirretrovirais. Outro aspecto significativo diz respeito à necessária adequação dos serviços especializados de saúde às características e modos de ser dos jovens na contemporaneidade.
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