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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-27C - GT 27 - Coletivos e grupos de ativismo em saúde mental

30697 - O PROCESSO DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL: UM ENCONTRO COM A EDUCAÇÃO POPULAR DE PAULO FREIRE
JULIANA FIGUEIREDO SOBEL - FIOCRUZ, SHIRLEY ALVES DOS SANTOS - UFPE


A partir da Reforma Psiquiátrica e as discussões sobre a desinstitucionalização, a reabilitação psicossocial vem entrado nos eixos das discussões sobre o cuidado em saúde mental. Geralmente, os serviços que trabalham na perspectiva da reforma psiquiátrica se intitulam reabilitadores e tem suas práticas orientadas pelos princípios, objetivos e pressupostos da reforma psiquiátrica (HIRDES, 2009; GUERRA, 2004). Saraceno (1996) acredita no caminho da Reabilitação Psicossocial como possível para promover a transformação da vida concreta dos usuários dos serviços de saúde mental, é nesse caminho da reabilitação como um processo de conquista dos direitos de cidadania. Diante das perspectivas levantadas, como operacionalizar a reabilitação psicossocial?
A educação popular vem como caminho ao trabalhar a constituição do reconhecimento dos seres enquanto seres sociais, coletivo e com potencial transformador. A sua concepção teórica de valorização do saber do outro, do entendimento que o conhecimento é um processo de construção coletiva, pode ser utilizado na saúde, visando um novo entendimento das ações de saúde como ações educativas. Ao ser incorporada ao setor saúde, a educação popular começa a influir em todo o processo de trabalho, dado seu conteúdo filosófico e metodológico (ALBUQUERQUE, STOTZ, 2004).
Com base nisso, acredita-se na educação popular como estratégia potencializadora do fazer, pensar, problematizar e construir as práticas no campo da reabilitação psicossocial. Visto que a desconstrução das instituições totais em saúde mental e as novas leis e princípios da reforma psiquiátrica também podem ser essencialmente entendidas como uma necessidade de romper o círculo das relações autoritárias entre terapeuta x paciente, entre sociedade x pessoas ditas loucas (VIEIRA FILHO, 2003).
Este trabalho tem como objetivo analisar o processo de reabilitação psicossocial com base nos princípios da educação popular de Paulo Freire, a partir do processo formativo dos participantes da pesquisa-ação no Projeto Geração de Renda (PGR) “Mentes que Fazem” do município de Camaragibe/PE. A metodologia trata-se de um estudo inserido nos pressupostos do método qualitativo na área de saúde mental com foco na interface da Saúde Mental e a Educação Popular visando encontrar novos caminhos para o processo de reabilitação psicossocial. Esse trabalho é fruto de uma observação participante da pesquisa-ação realizada no PGR, no período de março à novembro de 2016, com 16 participantes e 03 pesquisadoras (residentes do programa de saúde mental da UPE), que foram as educadoras deste processo.
Em relação aos resultados a pesquisa-ação realizada no PGR foi compreendida pelas educadoras como uma ação educativa e foi construída a partir do horizonte da educação popular. A utilização da educação popular significou para as educadoras abandonar métodos ultrapassados, conceitos pré-estabelecidos e construir coletivamente um saber comum que, ao ser partilhado, mudou o estar no mundo de cada uma envolvida no processo. Laços afetivos foram criados, a luta antimanicomial disseminada e o desejo pela mudança começaram a se desenhar.
Inicialmente, as pesquisadoras não conheciam as participantes da pesquisa, se caracterizando como primeiro desafio metodológico. Como pensar a construção de um conhecimento em conjunto com pessoas que se tinha pouca familiaridade? A resposta veio através da construção dialógica e amorosa da relação educador/educando, proporcionando as pesquisadoras o esforço da horizontalidade e da potência de revisitar e reconstruir, a cada dia vivido, os processos metodológicos pensados inicialmente.
As participantes, a partir de análise crítica do lugar em que estão, compreenderam as situações-limites que vivenciam: falta de financiamento da União para funcionamento do serviço, a séria negligência por parte da gestão municipal, refletindo na precária estrutura física e na ausência de um projeto político pedagógico orientado para a transformação, de fato, da vida econômica e social das pessoas envolvidas. O que inviabiliza principalmente o PGR de atingir seu objetivo gerar renda para essas pessoas. Portanto, a partir do processo de conscientização de que o Projeto se constituía enquanto espaço de direitos dos usuários da rede de saúde mental e não como um “favor” dos gestores, as participantes se engajaram em algumas lutas dentro do município após o término da pesquisa ação. Instaurando a possibilidade dos inéditos-viáveis.
A compreensão dos seres inacabados permitiu às pesquisadoras (também trabalhadoras da saúde mental) a possibilidade, de construir e reconstruir, de criar e recriar as habilidades necessárias a facilitação do grupo, a construção do conhecimento coletiva. Portanto, a percepção de ser inacabado, do ‘ser mais’ permite aos atores da reabilitação psicossocial (trabalhadores, gestores, militantes, usuários e familiares) um compromisso com a emancipação humana, com o espírito criador e com a libertação.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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