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30528 - O PAPEL DO TRABALHO NA REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL PARA USUÁRIOS DA SAÚDE MENTAL SHIRLEY ALVES DOS SHIRLEY SANTOS - UFPE, JULIANA FIGUEIREDO SOBEL - FIOCRUZ
A ‘centralidade do trabalho’, como categoria comum entre Saúde Mental e Economia Solidária, parece ser uma ideia que favorece o diálogo entre esses dois marcos teóricos e suas respectivas políticas públicas. Nesse sentido, as dimensões do trabalho são pensados como recurso terapêutico, como direito humano, como produtor de subjetividades e como possibilidade concreta de cidadania e emancipação (ANDRADE et al., 2013).
A inclusão social pelo trabalho na perspectiva da Economia Solidária se constitui em um novo passo no processo da Reforma Psiquiátrica Brasileira, esta articulação, apesar de poucos registros no âmbito da literatura científica nacional, vem ganhando força mediante uma série de articulações entre os Ministérios da Saúde e do Trabalho, fortalecidas na realização da “Oficina de Experiências de Geração de Renda e Trabalho de Usuários de Serviços de Saúde Mental” ocorrida em novembro de 2004 (FILIZOLA et al., 2011).
Neste trabalho, contém o objetivo de compreender o papel do trabalho para as pessoas que tiveram algum sofrimento psíquico ou transtorno mental e participam do Projeto Geração de Renda – PGR “Mentes que Fazem”, oferecido pelo município de Camaragibe/PE. A proposta é analisar como estar sendo exercido o trabalho no PGR para as pessoas com sofrimento psíquico, levando em conta a percepção e as perspectivas dos usuários e funcionários do PGR. Admitindo-se que a aproximação deste serviço com a prática da Economia Solidária poderá contribuir para a reabilitação psicossocial.
O PGR existe em espaço próprio e é financiado pelas vendas de seus produtos, doações e pela verba de fundo municipal. No quadro profissional está previsto a contratação de cinco arte educadores, porém, atualmente conta com apenas uma arte educadora, uma profissional de serviços gerais e uma gerente de nível superior.
Através da confecção de produtos artesanais, negociação e divulgação dos mesmos em feiras e eventos, acredita-se ser possível mostrar à comunidade a possibilidade do resgate da autonomia e a convivência com pessoas com sofrimento psíquico (CAMARAGIBE, 2013). Em sua concepção, o PGR lida ainda com princípios como formação de vínculo, fortalecimento de autoestima, desenvolvimento afetivo, capacidade criativa e ressocialização.
Neste trabalho foram entrevistadas 8 participantes (todas mulheres) do PGR. E, que em sua maioria as participantes do PGR foram encaminhados pelos CAPS, alguns da Residência Terapêutica e outros da Unidade de Saúde da Família. Foi utilizada a técnica de entrevista em profundidade (entrevista narrativa) e a análise de discurso.
O resultado foi possível considerar que o papel do trabalho encontrado no discurso das participantes se baseia em diferentes concepções de acordo com as suas vivências, atribuindo a promoção da saúde ou do adoecimento, ao prazer e ao desprazer, mas sobretudo o lugar do trabalho é percebido como importante para suprir as necessidades da sobrevivência humana, e desta maneira, é tido como potencialidade para a reprodução da vida.
No entanto, em seu conjunto pode-se dizer que o trabalho realizado pelas participantes no PGR encontra-se numa tensão de existir o trabalho terapêutico e o trabalho produtivo, ficando evidente que estar sendo realizado o trabalho protegido e terapêutico ao invés do trabalho emancipado, pode ser que este seja o caminho a ser trilhado, e a medida que forem atribuindo novas concepções e realizando novas práticas consigam superar o trabalho protegido para vivenciar o trabalho emancipado no PGR.
O processo de reabilitação psicossocial para sujeitos com experiência na loucura precisa ir além de gerar renda e trabalho, tornando-os apenas como trabalhadores informais da economia popular. A reabilitação psicossocial, quando atrelada ao trabalho emancipado, promove a participação democrática e constrói cidadania, autonomia e coletividade. Dessa forma, há um terreno fértil para a construção de novas relações consigo e com os outros pautadas no Bem Viver.
Outro ponto importante é que as participantes do PGR se envolvem apenas com a produção de materiais. Dessa forma, não pensam coletivamente outros processos como venda, compra de materiais, organização do espaço, logística, divisão de tarefas, deixando passar a grande oportunidade do exercício da autogestão, da autonomia e da cooperação. A lentidão, o medo, as mãos trêmulas pelo uso da medicação, as pernas inquietas, a fala acelerada, o histórico de longa internação em hospital psiquiátrico não tem vez onde a produtividade e consumo é quem dita às regras do jogo. Desse modo, é importante também que essas discussões e práticas estejam pautadas na perspectiva Nordestina de Economia Solidária, a qual extrapola a visão empreendedorista do trabalho e amplia para a construção de novos tipos de relações sociais norteadas pelo Bem Viver.
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