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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-27D - GT 27 - Protagonismo de usuários e familiares na rede de saúde mental

29906 - UMA PESQUISA EM FOTOVOZ: QUANDO A IMAGEM PERMITE ACESSAR NARRATIVAS DE ADOECIMENTO, TRATAMENTO E SUPERAÇÃO DE USUÁRIOS DA SAÚDE MENTAL.
MÔNICA MONTEIRO PEIXOTO - UFRJ, OCTAVIO DOMONT DE SERPA JUNIOR - UFRJ


As histórias começam quando há uma ruptura na ordem esperada das coisas, uma quebra de expectativa. Assim, é o inesperado que produz a narrativa, caso contrário não haveria o que contar. É por meio das histórias que lidamos com essa ruptura e suas consequências (BRUNER, 2014).
No adoecimento há uma mudança na experiência corporificada de vida no mundo. A narrativa conecta as experiências e os eventos em uma história ou enredo significativo, sendo um esforço, pessoal e social, tanto para conter a dissolução do mundo como para reconstruir o mundo de vida desfeito pelo adoecimento. Dessa forma, a narrativa possui um papel central na construção da própria experiência da doença (GOOD, 1994).
Empregamos o método fotovoz (WANG, 1997), inserido no campo da pesquisa ação participativa, e fortemente influenciado pelo pensamento de Paulo Freire (2014), com o objetivo de suscitar, por meio da produção de fotos, as narrativas sobre saúde mental de nove usuários, com transtornos mentais graves, frequentadores do Hospital Dia de um Centro Universitário de Saúde Mental. A faixa etária do grupo variou entre 45 e 64 anos, sendo 57 a média de idade dos integrantes. Sete participantes são do sexo masculino e duas do feminino.
Inicialmente realizamos encontros para abordar os aspectos éticos da pesquisa e oferecemos treinamentos em fotografia. Orientamos que as fotos deveriam ser representativas dos temas abordados, de modo que a qualidade técnica e a beleza estética das imagens não seriam fatores de análise. A seguir, os participantes receberam câmeras fotográficas e iniciamos os oito ciclos de fotos, sempre inspirados por um tema, sendo cada ciclo composto pelos seguintes passos: produção da foto pelo integrante, realização de entrevista semiestruturada na qual o participante respondia a duas perguntas – Por que você tirou essa foto? Que história essa foto conta, o que ela representa? – e realização de grupos nos quais as fotos e narrativas eram apresentadas e discutidas pelos integrantes, que compartilhavam experiências semelhantes, ou discordantes, além de frequentemente dividirem as estratégias utilizadas para lidar com as situações apresentadas. O primeiro tema – experiência de adoecimento, tratamento e superação na saúde mental – foi sugerido pela pesquisadora e, por ser amplo, funcionou como uma ambientação dos participantes à pesquisa. Os demais temas foram escolhidos pelos integrantes: discriminação, moradia, música, fé, morte, tratamento medicamentoso e oficinas terapêuticas. O último ciclo não teve um tema norteador. Todos os temas foram desenvolvidos na sua relação com o campo da saúde mental. Cabe destacar que esses temas principais abriram caminho para que outros temas surgissem nas narrativas, tais como: vínculos familiares, relação com a equipe de cuidado e, principalmente a circulação e convivência com o território. Ao todo foram realizadas 62 entrevistas, 20 grupos e um último grupo avaliativo, no qual os integrantes verbalizaram suas impressões sobre a pesquisa, também objeto de análise. Todos os encontros foram audiogravados e transcritos. Este material está sendo categorizado através da análise de conteúdo e validado junto aos integrantes por meio de grupos em que trechos editados das narrativas são apresentados e discutidos.
Traduzir em imagens algo que é de ordem subjetiva foi um desafio, verbalizado por um dos integrantes: “Como é que eu vou fotografar o que se passa dentro da minha cabeça?”. Vencer os desafios da pesquisa e concluir um trabalho, cujo campo teve uma longa duração, um ano e três meses, foi percebido pelos integrantes como uma importante conquista. Além disso, o objetivo de realizar uma exposição das fotos e narrativas ao final do trabalho foi um elemento motivador para os usuários, que se sentiram contemplados com este modelo de divulgação científica por ser mais acessível às suas redes sociais.
Concluímos que o método fotovoz incorpora os usuários enquanto pesquisadores, por exemplo, na escolha dos temas da pesquisa, coleta de dados, via produção de fotos e narrativas, e divulgação dos resultados. Além disso, valoriza o conhecimento em primeira pessoa como uma expertise que deve ser legitimada. Ao narrar sua própria história o usuário alcança um lugar ativo, protagonista, que contrasta com o lugar de passividade geralmente relegado aos pacientes.Assim, pretende-se construir um conhecimento sobre o sofrimento mental a partir da experiência de quem o vivencia.
Referências
BRUNER, Jerome. Fabricando histórias: direito, literatura, vida. São Paulo: Letra e Voz, 2014.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 38. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
GOOD, Byron J.. Medicine, rationality, and experience: an anthropological perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.
WANG, Caroline; BURRIS, Mary Ann. Photovoice: Concept, methodology, and use for participatory needs assessment. Health Education & Behavior, v. 24, n. 3, p.369-387, jun. 1997.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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