28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-27D - GT 27 - Protagonismo de usuários e familiares na rede de saúde mental |
31040 - SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE PROTAGONISMO DOS USUÁRIO E FAMILIARES KEROLAYNE DE CASTRO FONTENELE - UFPI, ANA ESTER MARIA MELO MOREIRA - UFPI, THALIA ARIADNE PENÃ ARAGÃO - UFPI, JOSÉ LUCAS SOARES DE ARAÚJO - UFPI
O presente trabalho objetiva apresentar a experiência de cuidado em saúde mental na Atenção Básica em Saúde (ABS) a partir de um Estágio Profissional em Psicologia, com ênfase em Saúde Coletiva em uma UBS do município de Parnaíba. A cidade é conhecida pelo seu caráter histórico e turístico. Assim, recebe pessoas de todo o mundo atraídas por seu “ar cultural” e pela presença do único Delta das Américas em mar aberto, bem como de uma extensa faixa litorânea. Integrada à atividade de turismo o município é referência na região no campo da educação superior. Para tanto vale contextualizar que diante das práticas de saúde hegemônicas centradas no saber médico/psiquiátrico e no modelo asilar, a partir dos anos 1980, surge uma forte crítica ao modelo de atenção à saúde mental, configurando um dos fatores que deram início ao que ficou conhecido por Reforma Psiquiátrica. Nesta perspectiva, as ações de cuidados em saúde mental tomaram rumos diferentes, as práticas tornaram-se humanizadas e regulamentadas por políticas que garantiam direitos e cuidados aos usuários de saúde mental, havendo assim, uma mudança no modelo de atenção e uma consequente inversão das prioridades de financiamento que puderam ser vistas à medida que aumentavam, de forma global, os recursos financeiros destinados à saúde mental, fazendo com que o cuidado em saúde mental fosse ofertado de uma forma mais ampla, integral e atenta às necessidades mais básicas da população, atuando junto ao nível primário de atenção. Entendemos por ABS um conjunto de cuidados em saúde individual e coletivo, que trata da promoção de saúde, da prevenção de agravos, do diagnóstico e tratamento de doenças, bem como a produção de cidadania e fortalecimento da participação popular em saúde. Considerando estas questões ao pensarmos na proposta da Reforma Psiquiátrica é necessário organizar serviços de saúde mental com enfoque na ABS a medida que estes atuam no desenvolvimento do cuidado orientado pelas necessidades sociais em um contexto social específico. Há diversas possibilidades de cuidado em saúde mental na ABS, são elas territorialização, clínica ampliada, projeto terapêutico singular, visita domiciliar, o apoio matricial às equipes de atenção básica, trabalho com grupos terapêuticos, desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes, enfrentamento das diversas formas de produção de violência, ações intersetoriais, fortalecimento da participação popular, bem como o manejo de transtornos mentais comuns. Todas estas estratégias e dispositivos são desenvolvidos a partir de uma relação horizontal entre trabalhadores e usuário com o objetivo de produzir autonomia de todos atores inseridos no processo. A metodologia utilizada foi a abordagem qualitativa tendo como estratégia metodológica a observação participante. A abordagem metodológica se ancora nas metodologias participativas de pesquisa e facilitação psicossocial que buscam construir conhecimento compartilhado entre saber acadêmico e saber popular, construindo caminhos de transformação da sociedade na medida em que todos os atores inseridos são sujeitos de produção de conhecimento. Assim, foi desenvolvido o processo de observação participante tendo como estratégia de coleta de dados o diário de campo. A construção das atividades do estágio ocorreu de forma coletiva com a equipe da ABS. A atuação em saúde mental na ABS iniciou com o processo de territorialização, levantamento das informações secundárias e registros em documentos oficiais do histórico de luta e resistência da comunidade e indicadores sociais, caminhada comunitária e escuta psicossocial - através da territorialização foi possível a identificação de necessidades de atuação em saúde mental no território. Partindo disso foi organizado o apoio em saúde mental a equipe da ABS e desenvolvidos grupos terapêuticos e de educação em saúde. Outra estratégia desenvolvida foi o matriciamento, onde houve um dialogo com a equipe de saúde sobre Reforma Psiquiátrica, saúde mental e atenção psicossocial. Finalmente, foi desenvolvido o plantão psicológico integrado à clínica psicossocial com o manejo de ansiedade, depressão e de questões como abuso sexual infantil. Diante das experiências vivenciadas, foi possibilitado aprender junto à realidade, pôr em prática a teoria discutida na formação e desenvolver uma devolutiva à sociedade permitindo um aprendizagem significativa e implicada com as necessidades sociais. Compreendemos como importante o desenvolvimento de metodologias participativas de trabalho compartilhado com participação de trabalhadores e usuários nos serviços de saúde. Percebemos um desafio na formação dos trabalhadores de saúde no campo da Reforma Psiquiátrica, da saúde mental e atenção psicossocial. Por fim, tomando uma visão mais crítica diante das questões, também nos salta a percepção de que a Reforma Psiquiátrica não se faz presente na formação e nos serviços de saúde, ocasionando assim uma fragilidade na dimensão pedagógica e técnico assistencial.
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