30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-27E - GT 27 - Gestão autonoma e participativa da medicação |
30105 - RODA DE CONVERSA SOBRE MEDICAMENTOS EM UM CAPS II DE SALVADOR: MOMENTOS DE ESCUTA E REFLEXÃO JULIANE ODETTE DE BORBA ALMEIDA - UNEB, JOÃO BATISTA DE BRITO BRAGA ALVES - UNEB, BRUNA SANTOS DE OLIVEIRA - UNEB, ISABELLE DE ARAÚJO BRANDÃO - UNEB, DEJOAN DA CRUZ SANTOS - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SALVADOR, AIÍRA SOUZA FRANÇA - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SALVADOR, SANDRA ASSIS BRASIL - UNEB
Contextualização: O desenvolvimento dos psicotrópicos, nos últimos anos, permitiram mudanças significativas no modo de produzir o cuidado em saúde mental. Por diversos motivos, prevalece um certo tipo de valorização da terapia medicamentosa, tornando-a uma das principais ofertas de cuidado em serviços especializados, como os centros de atenção psicossocial (CAPS). Se, por um lado, o uso de medicamentos abre possibilidades para construção de autonomia de sujeitos em sofrimento psíquico, na descoberta de formas possíveis de se lidar com os sintomas agudos, por outro, é reforçado o modelo biomédico, quando o uso de tais substâncias ganha um grande destaque em detrimento de outras estratégias terapêuticas. A ideia de contenção química e a prática da polifarmácia são exemplos deste processo. Para muitas equipes e profissionais é difícil imaginar uma oferta de cuidado que prescinde do medicamento, ao mesmo tempo em que uma das principais queixas entre estes é a falta de adesão dos usuários à sua farmacoterapia. A Promoção do Uso Racional de Medicamentos é uma das formas de lidar com as contradições desse processo, garantindo que o cuidado em liberdade se consolide com uma verdadeira construção de autonomia das pessoas em sofrimento.
Descrição: Trata-se de um relato de experiência de Rodas de Conversa Sobre Medicamentos em um CAPS II de Salvador, conduzidas pelo farmacêutico do serviço e quatro profissionais residentes em saúde mental (farmacêutica, psicólogo e duas enfermeiras). Os encontros ocorrem quinzenalmente e são abertos para usuários e familiares. Utiliza-se metodologias participativas, que valorizam as experiências dos integrantes com o próprio processo de cuidado, pretendendo se constituir como um espaço de diálogo autorreflexivo, com pactos de sigilo e ausência de julgamento moral, contribuindo para os processos de subjetivação associados à terapia medicamentosa.
Período de Realização: Esta atividade começou a ser realizada em abril de 2019 e continua em andamento.
Objetivos: Oferecer um espaço de escuta aos usuários e familiares a respeito da terapia medicamentosa e seus efeitos subjetivos e sociais; Ofertar informações e orientações sobre os diversos tipos de medicamentos, uso e interações, sanando dúvidas e compartilhando experiências de alternativas para lidar com os efeitos adversos dos medicamentos; Favorecer a apropriação dos usuários sobre o próprio projeto de cuidado; Fortalecer o vínculo dos usuários e familiares com os técnicos de referência e a equipe do serviço; Inserir o farmacêutico nas atividades educativas do CAPS II.
Resultados: Como principais resultados destacamos a participação de usuários e familiares, de modo que cada encontro tem contado com uma média de 12 a 15 pessoas, onde há a construção de um clima de escuta e confiança, com o compartilhamento de experiências. As questões fundamentais trazidas pelos participantes envolveram a dificuldade de adesão frente aos efeitos adversos, a gestão da rotina no uso dos medicamentos (em especial nos casos de polifarmácia) e dúvidas sobre interações com alimentos ou outras substâncias. Foi observado o desenvolvimento da compreensão sobre a importância da terapêutica medicamentosa aliada a outros processos de cuidado dentro de cada projeto terapêutico singular, nos quais as oficinas e os dispositivos da comunidade foram apontados como espaços complementares ao tratamento. No que tange a elaboração de um balanço sobre a relação entre efeitos adversos X efeitos terapêuticos foi mostrado que os efeitos positivos são maiores que os negativos. É importante destacar também a potencialidade da inserção do farmacêutico do CAPS no planejamento e realização da roda de conversa, produzindo um vínculo maior entre ele e os usuários, já que antes esse profissional destinava a sua carga horária para as atividades administrativas da farmácia.
Aprendizados e Análise Crítica: Através da realização das rodas de conversa constatou-se uma maior vinculação dos usuários à unidade e aos profissionais, onde foi proporcionado um espaço de diálogo igualitário e democrático. É esperado que ao longo da atividade os usuários sintam-se mais à vontade para negociar e discutir sua farmacoterapia com os técnicos de referência e no âmbito da consulta psiquiátrica, o que possibilita o aumento da adesão à terapia medicamentosa e a prevenção do uso incorreto de medicamentos, oportunizando a construção de um novo olhar sobre o seu tratamento. Essas ações apoiam a promoção da saúde, divulgando e discutindo o conhecimento entre profissionais e usuários e colaborando para o fortalecimento da efetividade do projeto terapêutico de cada paciente.
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