Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO1.1 - Tópicos em hesitação vacinal

46099 - BARREIRAS DE ACESSO À VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19
VICK BRITO OLIVEIRA - IAM/FIOCRUZ-PE, ADRIANA FALANGOLA BENJAMIN BEZERRA - UFPE, SYDIA ROSANA DE ARAÚJO OLIVEIRA - IAM/FIOCRUZ-PE


Apresentação/Introdução
Desde 2016 o Brasil tem enfrentado uma redução nas taxas das coberturas vacinais, o que configura um importante obstáculo para o avanço do Programa Nacional de Imunização (PNI). É sabido que as vacinas são uma conquista da saúde pública e têm o poder de modificar o curso de doenças infecciosas e transmissíveis. Na pandemia, questões relacionadas à desigualdade na distribuição das vacinas, especialmente a vacina contra a covid-19, foram apontadas como desafios para os sistemas de saúde, principalmente em países de baixa e média renda. O debate sobre o acesso abrange diversas barreiras e facilidades, envolvendo a dinâmica e a interrelação com as necessidades de saúde. Essas dimensões sinalizam as mudanças que o conceito de acesso tem sofrido ao longo do tempo, acompanhando as discussões no campo da saúde pública. Nessa perspectiva, discutir as barreiras de acesso à vacinação no contexto da pandemia da covid-19 pode contribuir para o avanço da cobertura vacinal, em especial da vacina contra a covid-19, que enfrenta dificuldades na ampliação da cobertura vacinal.


Objetivos
O trabalho objetivou avaliar o acesso da população adulta à vacinação contra a covid-19, no contexto da campanha de vacinação, em um município de Pernambuco localizado na Região Metropolitana do Recife.


Metodologia
Trata-se de um estudo avaliativo exploratório, de abordagem mista, tendo como estratégia o estudo de caso em um município pernambucano, com 711.330 habitantes. A pesquisa foi realizada durante os meses de dezembro de 2021 e março de 2022, utilizando dois instrumentos para produção dos dados: diário de campo e o questionário. O questionário, tipo Likert, foi construído a partir da produção sobre as possíveis barreiras e facilidades do acesso no cuidado em saúde. A inserção em campo aconteceu em duas unidades de vacinação do município, uma em cada região de saúde, das sete regiões do município elencado, 82 questionários foram aplicados, em sete visitas ao campo. As visitas ao campo oportunizaram observar a dinâmica da vacinação nas unidades de vacinação, a relação pessoas vacinadas e profissionais de saúde. O diário de campo foi produzido com o intuito de abarcar elementos identificados na aplicação dos 82 questionários, mas que extrapolaram o preenchimento do instrumento tipo Likert. A análise qualitativa foi conduzida utilizando a análise de conteúdo, destacando as unidades temáticas identificadas na análise do diário de campo. Já a análise dos dados do questionário foi descritiva, utilizando o pacote R Commander.A pesquisa seguiu todos os trâmites éticos com aprovação da CONEP (CAAE nº 30982620.8.0000.0008).

Resultados e discussão
Quatro categorias temáticas surgiram a partir da análise dos registros: a) localização e infraestrutura das unidades de vacinação, com destaque para a baixa qualidade das estruturas dos locais de vacinação; b) fluxos e organização das unidades de vacinação, abrangendo a abordagem ao usuário durante a vacinação, o agendamento para a vacinação e os fluxos institucionais; c) disponibilidade da vacinação e barreiras de acesso, incluindo fatores como distância, disponibilidade financeira e acesso à internet para agendamento de dia e horário da vacinação; d) comportamento vacinal, com ênfase na hesitação em relação à vacinação contra a covid-19. Os resultados, em consonância com os dados obtidos por meio do questionário, apontaram para um perfil das pessoas entrevistadas que se assemelha à população atendida pelos serviços públicos de saúde: mulheres, negras, em situação econômica vulnerável e sem plano de saúde privado. As discussões realizadas com base nos dados ressaltam a necessidade de aprofundar o debate sobre o acesso e suas barreiras, mesmo com evidências da disponibilidade do imunizante.


Conclusões/Considerações finais
Apesar da avaliação positiva da vacinação no município por parte das pessoas imunizadas, o estudo ressalta a importância de articular a avaliação do acesso à vacinação com fatores relacionados à unidade de vacinação, às condições de vida da população e outros aspectos que podem influenciar a adesão à vacinação de adultos, especialmente, o fenômeno da hesitação vacinal e a qualidade das fontes de informação sobre vacinas, sobretudo diante da escassez de pesquisas sobre o tema para adultos que estão iniciando o esquema vacinal, mas hesitam. Nesse sentido, no contexto da vacinação, cabe ampliar o debate das Tecnologias de Informação e Comunicação nas discussões sobre hesitação vacinal e qualidade da informação, assim como, no uso dessas tecnologias para ampliar a cobertura vacinal, organizar a demanda e facilitar o acesso. Isso reforça a necessidade de aprofundar as discussões no âmbito do Programa Nacional de Imunização (PNI) e das desigualdades territoriais.