01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO3.1 - Feminismo negro, desigualdades sociais e ações afirmativas: (r)existências e contribuições CSHS na formação em saúde |
46150 - NÃO APLICABILIDADE DAS POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS NO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA: UM CAMINHO DE SOLIDÃO EPISTEMOLÓGICA NA PÓS-GRADUAÇÃO MONICA DA SILVA PEREIRA - ESPPE
Contextualização Com registro de sua existência desde a década de 90, a Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco (ESPPE) surgiu com o propósito de atender as demandas de formação e qualificação dos trabalhadores da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco no Sistema Único de Saúde (SUS). A partir do ano de 2013 a instituição incorpora em seu bojo de atuação na educação em saúde, o programa de pós-graduação com o Programa de Residência em Saúde de maneira regionalizada e descentralizada e tal período esbarra no auge da centralidade das discussões acerca da Lei de Cotas no Brasil, a Lei nº 12.711, que se apresenta como uma forma de promover a inclusão social e combater desigualdades históricas no Brasil.
A implementação de cotas raciais (CR) nos processos seletivos busca fomentar a diversidade e a inclusão social e racial permitindo a formação de profissionais com diferentes vivências e perspectivas. No entanto, a não incorporação das CR nos processos seletivos para as residências em saúde tem se apresentado como uma grande barreira para os estudantes negros.
A ausência histórica da política de CR pela ESPPE em seus processos seletivos, reforça o racismo institucional na saúde, uma vez que, o acesso à educação de qualidade é um dos principais meios de ascensão social, mas a seletividade do sistema educacional brasileiro dificulta esse processo para os grupos racializados, reforçando a lógica de exclusão e subalternização (CARNEIRO, 2005).
Assim, o esvaziamento do debate sobre as questões raciais no processo formativo da ESPPE esbarram cotidianamente em turmas compostas por alunos majoritariamente brancos, em uma formação que utiliza-se de fontes eurocêntricas e universaliza sujeitos plurais a partir de um reducionismo que centraliza grupos diversos a partir de uma dimensão biomédica.
Descrição Atualmente, como única mulher preta a compôr o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva com ênfase em Gestão de Redes de Saúde na ESPPE, o presente relato de experiência versa sobre o meu árduo caminho de inserção e manutenção como estudante negra no Programa de Residência Multiprofissional na ESPPE. Assim, como uma mulher preta, fruto da escola pública e usuária das políticas educacionais de acesso ao ensino superior, considero a experiência de inserção no programa de pós-graduação em saúde como um dos processos mais desafiadores e conflituosos já experienciados por mim no âmbito acadêmico, uma vez que tal vivência me coloca em um lugar de solidão epistemológica, já que que é constantemente desafiador pautar a compreensão de saúde a partir de uma perspectiva antirracista, anticapitalista, decolonial e emancipadora.
Período de Realização A experiência abordada refere-se aos anos de 2022 a 2024.
Objetivos Trazer à luz a discussão dos impactos do não comprometimento das instituições de ensino em saúde no SUS com uma política de equidade, que reforçam a tendência da compreensão da Saúde Coletiva a partir de uma perspectiva hegemônica e eurocêntrica.
Resultados O presente relato de experiência resulta-se a partir do lugar de fala de uma mulher preta, que tem realizado um caminho epistêmico solitário, mas que no entanto não condiciona-se à normalidade das opressões que expressam-se a partir do racismo institucional e do epistemicídio. Sendo assim, compreendo enquanto necessário abrir portas institucionais para que outros homens e mulheres negras no âmbito da pós-graduação em saúde ingressarem de maneira justa e equânime nos programas de pós-graduação em saúde.
Aprendizados Compreendo enquanto urgente a necessidade da (re)construção de uma Saúde Coletiva comprometida a romper com o atual modelo de societário do fazer saúde, que atualmente está atrelado não só ao ocidentalismo mas também do embranquecimento a partir do esvaziamento e da obstaculização da nossa presença nos espaços de pós-graduação na saúde, ou seja, a obstaculização da presença de nós, pessoas negras nas pós-graduações, corrobora para o processo de deslegitimação acadêmica dos nossos estudos e pesquisas, bem como, fomenta o nosso adoecimento através de uma prática secular de silenciamento, nos colocando enquanto não produtores de ciências.
Análise Crítica Para Werneck (2016), o limbo no qual cursos de graduação e pós-graduação em saúde colocam a temática racial nas produções acadêmicas, seja através do desinteresse por meio da falta de estímulos ou pela existência de restrições explícitas nas instituições de pesquisa, combina-se com vários elementos, que no presente relato somam-se a ausência das CR, que culminam no fortalecimento do racismo institucional na saúde.
Breilh (2015), reforça que é necessário que a construção sobre o saber em saúde seja feita a partir de visões emancipadoras e contra-hegemônicas, alicerçadas a ciência ancestral dos povos, sendo estas possíveis apenas a partir de um fazer saúde equânime, que para o autor, conceitua-se mediante a luta pela abolição de uma sociedade classista e obstaculizada pela ciência ocidental, que por sua vez, exclui povos indígenas e população negra do fazer saúde.
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