Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO3.1 - Feminismo negro, desigualdades sociais e ações afirmativas: (r)existências e contribuições CSHS na formação em saúde

46377 - ESCREVIVENCIOGRAFIAS: UMA AÇÃO DE RE-EXISTIR NA FÉ, NA GRAÇA, NO PEITO E NA RAÇA, COMO MULHER PRETA NA ACADEMIA.
MARLÚCIA CRISTINA FERREIRA GOMES - UFRJ, NILCÉIA NASCIMENTO DE FIGUEIREDO - UERJ


Contextualização
Esse trabalho nasceu de uma aproximação corporal, mediada por uma disciplina remota durante o período de isolamento, na pandemia de covid-19, quando éramos estudantes da pós-graduação em Dança e de Saúde Coletiva. Á princípio só lutávamos para nos manter vivas, e ainda cumprir os créditos de um mestrado atravessado por uma sindemia. Havia em nós o desejo em que nossa pesquisa perpassasse para além das fronteiras disciplinares estruturadas por nossos distintos cursos, e em consenso tínhamos o corpo como mediação. Nesse sentido não havia distinção do objeto e pesquisadora, aliás convergir e entrelaçar ás nossas vivências era a única possibilidade de nos manter presentes nas nossas jornadas, afinal mulheres pretas são seres fundamentados na “re-exitência” desde nossas ancestrais. Para lidar com tantas improbidades impostas pela vida encaramos uma diversidade de desafios, incluindo o acesso e permanência na vida acadêmica que requer um esforço muitas vezes sobre-humano. Nesse sentido, mesmo que os livros e textos de pesquisadoras pretas não estejam na ementa principal de nossos cursos, estamos sempre trocando referenciais que nos fortaleçam, ainda que alguns orientadores resistam no positivismo racista eurocentrado

Descrição
Tendo em vista que o corpo fala, e em específico os nossos, corpos de mulheres negras, trazendo consigo histórias, vivências, junto com os diversos atravessamentos que constroem a “Oralitura” (MARTINS, 2021), nesse trabalho o corpo, voz, texto, espiritualidade, poesia, dentre outros saberes se unem compondo a vida unida a arte. Uma obra que é construída a partir do encontro dos corpos/histórias de duas mulheres negras que juntas se tencionam; se apoiam; se abraçam; caminham; geram; pesam; aterram; caminham na horizontalidade de uma relação onde tempo-espaço é circular, mas ao mesmo momento se verticaliza buscando se erguer, ficando seus pés no chão e abrindo frestas no espaço-tempo.
Os corpos gingando se esquivam, ficam em prontidão, e se protegem mutuamente, ancorados na sonoridade, na sororidade e dororidade (PIEDADE, 2019) do texto e da vida que nos compõem.


Período de Realização
2020

Objetivos
Em nossas pesquisas, gingamos de um jeito a escrever com escritoras que façam reverberar o verdadeiro sentido da memória na pele. Uma embriologia ancestral que nos confere a percepção que a margem é um tensionamento de forças que vão nos atravessar, mesmo se/quando “porventura’ conseguimos nos titular. Foi assim, trocando experiências e textos ainda no período pandêmico, que pudemos nos escreviver, em dueto, com posteriores encontros presenciais e nossas histórias de vida se puderam emaranhar em uma corporificação textual.

Resultados
Demarcando o chão da academia, consideramos indissociável a moldagem da forma na qual estamos no mundo, de qualquer conteúdo teórico á nós imposto. Desse modo “dançamos” ao som de nossas histórias, em um texto composto em tempo “i-real”, esvaziado na expressividade da experiência provedora de saúde e permanência, que se dá na cumplicidade coletiva da micropolítica de dançar a vida.


Aprendizados
No cuidado de si e da outra, nos acoplamos principalmente as escritoras Conceição Evaristo (1995) que nos inspira a escrever-ser-viver, e a doce bell hooks (2016), que não distingue a teoria da experiência, ao contrário define que é a experiência a própria re-formulação da teoria. Com isso, Conceição e bell, nos ajudaram na re-existência, afirmando um modo de ser que nos acompanha desde então, apontando para um escrever-ser-viver onde nossos corpos são o próprio texto, por isso o termo escrevineciografias. Escrevivênciografar são as frestas de respiro que encontramos nas nossas caminhadas acadêmicas; um caminho que nos abriu a possibilidade de engajar nossas individualidades, e no encontro gerar certa coletividade, nos nutrindo, potencializando, e ainda desvelar outros modos de incorporar questões que envolvem raça e gênero. É certo que as metodologias dissidentes, ainda causem estranhamento, então ousamos dizer que o encontro é o nosso principal campo de pesquisa.

Análise Crítica
Em ato de reafirmação de que a ciência junto as nossas origens, também é promotora de saúde coletiva da qual pode nos mantem fortalecidas/vivas a combater o assédio e objetificação do apagamento histórico que insiste em mortificar nossos corpos/povos pretos.