01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO3.1 - Feminismo negro, desigualdades sociais e ações afirmativas: (r)existências e contribuições CSHS na formação em saúde |
47507 - ESTUDOS SOBRE GÊNERO NA SAÚDE COLETIVA: O QUE DIZEM PESQUISADORAS DO CAMPO DA SAÚDE COLETIVA ATUANTES NA REDE BRASILEIRA DE MULHERES CIENTISTAS? FRANCISCA ELIZABETH CRISTINA ARAÚJO BEZERRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), AMANDA PINHEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), CARMEM EMMANUELY LEITÃO ARAUJO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC)
Apresentação/Introdução A Saúde Coletiva (SC) envolve atores distintos, estabelece interseções com diferentes domínios discursivos, o que lhe permite um estado de permanente construção de saberes e práticas interdisciplinares. Inclusive, ao alicerçar interlocuções com o campo de gênero, em especial pelo ângulo das Ciências Sociais e Humanas. As inovações e acúmulos teóricos e metodológicos sobre gênero confluem para uma ciência emancipatória, comprometida e articulada com as lutas políticas feministas. Frente à necessidade de considerar a diversidade de sujeitos (experiências e conhecimento produzido), é importante conhecer como os estudos sobre gênero incidem no campo da saúde coletiva.
Objetivos O objetivo deste trabalho é compreender a inserção de estudos sobre gênero na SC a partir da perspectiva de pesquisadoras que atuam em uma comunidade epistêmica. Trata-se de um recorte de uma pesquisa sobre ativismo digital, experiências e ideias sobre gênero na SC a partir da experiência da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC), constituída na pandemia por Covid-19, com quase 4 mil integrantes.
Metodologia A metodologia envolve uma pesquisa qualitativa, com análise de narrativas (BASTOS e BIAR, 2015; NUNES et al, 2017) de pesquisadoras da SC que atuaram nas ações do primeiro ano da RBMC (abril/2021-abril/2022). Das 21 mulheres identificadas e convidadas, 15 participaram das entrevistas semiestruturadas realizadas de novembro/2022 a junho/2023. As participantes são pesquisadoras e docentes de instituições de ensino e pesquisa de relevância nacional, distribuídas por 11 Estados, localizados em grande parte no Nordeste (06) e Sudeste (05) do país. Há diversidade etária (28-69 anos); orientação sexual (lésbica, bissexual e héterosexual); raça/cor/etnia (negra, parda, descendência indígena e branca - maioria, ainda); e outros marcadores (sexo, estado civil, filhos, formação etc.). Aspectos éticos da pesquisa foram considerados.
Resultados e discussão Os resultados apontam a relevância dos estudos de gênero na SC, pois “olhar o gênero feminino, dentro da saúde coletivo, é extremamente importante para fazer políticas” (E07) e conhecer melhor os problemas é indispensável para constituição e intervenções e de políticas públicas. Nessa direção, a “contribuição da saúde coletiva nos estudos e na mudança de realidade ou na explicação dessa desigualdade tem sido um campo muito profícuo, fundamental, inclusive” (E12). Contudo, “falta a gente encarar o gênero como estruturante [...] porque há o ‘Q’ de querer ter ciência dura” (E02), há resistências nos espaços acadêmicos para produzir conhecimentos entrelaçados a movimentos feministas e de mulheres e nas relações com o Estado. As aproximações com sociedade civil e a quebra de tabus repercutem na emergência de “trabalhar e estudar de forma mais robusta essas características atreladas ao contexto epidemiológico, o contexto social no escopo que a pesquisa está se propondo a desenvolver, a avaliar” (E05). O aumento das produções, programas e disciplinas relacionadas a gênero foram apresentados como avanços. Porém, existem dificuldades para publicação sobre gênero e outros temas produzidos por pesquisadoras, em periódicos acadêmicos mais prestigiados da área. Isso estaria relacionado à existência de “uma relação patriarcal [...] uma barreira para elas [mulheres pesquisadoras] ascenderem” (E10). Desafios teóricos são indicados, como o uso do termo gênero para se referir a aspectos restritos ao sexo. Provavelmente, pela necessidade de se aprofundar nos estudos de gênero com a presença de mulheres, pois “mais mulheres pesquisadoras e mais mulheres diversas, mais mulheres que vêm da periferia, que vêm do interior do país [...] isso faz uma distinção, acho que identifica fatores de risco que a gente ainda não mapeou” (E06). Em geral, entende-se que o patriarcado, sexismo e desigualdade de gênero são problemas estruturais da sociedade a serem enfrentados e combatidos, sendo parte deste enfrentamento mais evidente na SC, nos últimos anos. A intercambialidade das temáticas trabalhadas em ambos campos é também assinalada, bem como o quão estudos de gênero são imprescindíveis à SC no contexto atual, inclusive, os de maior vulnerabilização de mulheres. O diálogo entre gênero e SC demanda saber interseccional (raça, etnia, classe, geração, etc.) por serem espaços que validam e problematizam o pertencimento social dos sujeitos de forma analítica e política.
Conclusões/Considerações finais A discussão sobre gênero tensiona estruturas, reverbera em atores e capitais científicos (relevantes, conflituosos, independentes e interdependentes) em diversos espaços que constituem a SC. A diversidade, lutas e interações históricas de ambos campos são inquestionáveis e corroboram em como marcadores sociais, apesar do trato conservador ainda presente, são base para produção e uso do conhecimento produzido. Questões de gênero na saúde são elementares para um saber científico contra-hegemônico e transformador, ao compreender diferenças, fortalecer a equidade e estabelecer políticas públicas mais justas.
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