47092 - DESAFIOS DA PESQUISA EM COMUNIDADES TRADICIONAIS PÓS-PANDEMIA COVID-19: RELATO DE EXPERIÊNCIA MÉRCIA FERREIRA BARRETO - NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM GÊNERO, RAÇA E SAÚDE UFBA, INDIRA RAMOS GOMES - CONSELHO REGIONAL DE NUTRICIONISTAS DA 5ª REGIÃO (BAHIA E SERGIPE)/ NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM GÊNERO, RAÇA E SAÚDE UFBA, GIOVANNA DE CARLI LOPES - NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM GÊNERO, RAÇA E SAÚDE UFBA, DÉBORA SANTA MÔNICA SANTOS - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE SALVADOR/ NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM GÊNERO, RAÇA E SAÚDE UFBA, LILIANE DE JESUS BITTENCOURT. - NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM GÊNERO, RAÇA E SAÚDE UFBA
Contextualização A pandemia de Covid-19 afetou toda a população brasileira de forma distinta, principalmente populações pertencentes a povos e comunidades tradicionais. Estes são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. Se incluem entre as populações tradicionais, as comunidades remanescentes de quilombos, os pescadores artesanais, os povos de terreiro, entre outros. São reconhecidos os problemas enfrentados por estas populações em relação ao acesso à saúde. Em sinergia contribuem negativamente com a piora das condições de saúde para os povos e comunidades tradicionais, quilombolas, povos de terreiro, marisqueiras e pescadores artesanais a sua raça, crença religiosa e aspectos de gênero, além do racismo institucional e da perda dos territórios contribuindo para insegurança alimentar e nutricional desses indivíduos. Ao abrigo destas condições de vulnerabilidade, os povos e comunidades tradicionais durante a pandemia de COVID-19 podem ter vivenciado as iniquidades e piores experiências quando comparado a população brasileira em geral.
Descrição Considerando esses pressupostos, e a fim de compreender as estratégias executadas para superação dos desafios impostos para alcance de saúde durante a pandemia do Covid-19 pelos povos e comunidades tradicionais, o Núcleo de Estudos e Pesquisa em Gênero, Raça e Saúde (NEGRAS), desenvolve pesquisa-ação, com abordagem qualitativa, intitulada “Enfrentamento das iniquidades em saúde, no contexto da pandemia de Covid-19 a partir das vivências e dos saberes produzidos pelas comunidades tradicionais em Salvador e Região Metropolitana”. O relato da experiência tem como foco a etapa da execução do campo. Foram selecionadas três comunidades tradicionais, sendo uma comunidade pertencente aos povos de terreiro, uma comunidade quilombola e uma comunidade de marisqueiras e pescadores artesanais. A primeira etapa, que vem sendo realizada, é investigativa e exploratória e a segunda realizada por meio de oficinas. A comunidade de povo de terreiro está localizada em Salvador, as demais encontram-se na Região Metropolitana. Para o alcance dos objetivos, o processo investigativo em campo se deu a partir de encontros com as comunidades nos seus territórios. Decorrido mais de um ano e quatro meses do início das atividades de pesquisa é possível refletir sobre os desafios, no que tange à seleção do campo e realização da pesquisa empírica.
Período de Realização 2022 até 2023
Objetivos relatar a experiência acerca dos caminhos percorridos para a realização desta pesquisa em Comunidades Tradicionais pós-pandemia, revelando os enfrentamentos.
Resultados A realização das atividades em espaços de terreiro constitui-se o maior desafio para a execução da pesquisa, posto que o estudo vem sendo desenvolvido a partir da dinâmica das comunidades. Essas apresentam lógicas e maneiras específicas de perceber o mundo, o qual é distinto para o fazer pesquisa diante da (crono)lógica dos estudos acadêmicos e pesquisas de campo.
Aprendizados Apesar de algumas semelhanças entre as comunidades pesquisadas, foram observadas distintas formas de agir e preocupações para execução da pesquisa de campo. Em consequência, as ações e estratégias adotadas pelo grupo em cada território ocorreram de formas diferenciadas. Diferentes costumes, valores e crenças têm nos revelado contornos particulares para os povos de terreiro, quando comparados às demais comunidades tradicionais pesquisadas. Organizar a presença do grupo em cada território desde as especificidades de cada campo diferem das normativas estabelecidas nos editais, por exemplo. Crenças e preocupações específicas dessas comunidades nos levam a refletir sobre as ações já reconhecidas e consolidadas no campo científico e tecnológico, e nos desafiam a buscar outros caminhos, talvez ainda não trilhados. Espera-se que este documento contribua para dar visibilidade às singularidades identitárias dos povos de terreiro e evidenciar outras linguagens na produção de conhecimento.
Análise Crítica Dessa maneira, embora a rigidez científica restrinja os planejamentos a regras e prazos previstos, especialmente as financiadas por órgão de fomento de pesquisa, torna-se necessário compreender as particularidades temporais e espaciais relacionadas às comunidades tradicionais. Segundo o filósofo Eduardo David de Oliveira, o tempo ocidental se orienta em função do futuro, enquanto o tempo nas sociedades africanas se organiza em torno da tradição. De forma crítica, para uma pesquisa com comunidades tradicionais é necessário respeitar o tempo-espaço dessas comunidades, percebendo que seu tempo extravasa o cânone temporal da modernidade ocidental capitalista, forjado no tempo linear.
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