Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO8.1 - Cronicidade, deficiência e pluralidades na construção de outros possíveis

45113 - A PERCEPÇÃO DO IMPACTO DA COVID-19 NA VIDA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM FIBROSE CÍSTICA.
DANIELLE PORTELLA FERREIRA - FIOCRUZ, MARIANA GOMES CARDIM - FIOCRUZ, SAINT CLAIR GOMES JÚNIOR - FIOCRUZ, NELBE NESI SANTANA - FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
A pandemia pela COVID-19 é um dos maiores desafios sanitários deste século e por se tratar de uma infecção respiratória aguda, potencialmente grave, trouxe enorme preocupação a toda comunidade envolvida no cuidado dos pacientes de uma doença crônica, conhecida como fibrose cística (FC).
A FC é uma doença rara, hereditária, onde o corpo produz muco mais espesso que o habitual, o que leva a grandes danos aos pulmões e outros órgãos. Essa condição aumenta a suscetibilidade a comorbidades, como problemas respiratórios e metabólicos que são fatores de risco para o agravamento da COVID-19.
As ações relacionadas às medidas de controle da COVID-19 impactaram negativamente o acompanhamento ambulatorial e tratamentos que são essenciais aos portadores de doenças crônicas, para a preservação da saúde, não agravamento de seus quadros clínicos e manutenção da qualidade de vida. Além disso, os efeitos decorrentes do isolamento social expuseram um cenário social complexo com relatos de sofrimento emocional e problemas de saúde mental.
Diante deste contexto, obter informações para esclarecer como a pandemia impactou a vida de crianças/adolescentes com FC, pode fornecer subsídios aos gestores e profissionais de saúde para aprimorar os cuidados com essa população.



Objetivos
Este estudo tem por objetivo compreender o impacto da pandemia da COVID-19 na vida de crianças/adolescentes com FC, na percepção de seus responsáveis.

Metodologia

Trata-se de um estudo exploratório, qualitativo, realizado com vinte e sete responsáveis de pacientes com FC acompanhados em um centro de referência do RJ.
A participação da pesquisa foi através de formulário online onde havia a seguinte pergunta: Como foi a pandemia da COVID-19 na vida de seu filho(a)?
As informações obtidas foram analisadas a partir da técnica de análise temática na perspectiva de Minayo. Como base filosófica para essa análise teremos como referência o interacionismo simbólico. Dialogamos com Blumer na perspectiva de que o comportamento humano atua através das vertentes simbólica e relacional, criando e produzindo significados sobre as situações vivenciadas para realizar seus planos e projetos de vida.
Aprovação no CEP Nº CAEE: 52786121.8.0000.5269.


Resultados e discussão

Verificamos três categorias analíticas: os impactos da COVID-19 no cuidado das crianças com FC; o impacto do isolamento social na vida dos pacientes e suas famílias; e as incertezas e medos da pandemia.
Observamos que as dificuldades financeiras, a diminuição das consultas presenciais e falta de rede de apoio foram problemas a serem enfrentados no cuidado dessas crianças.
“Foi muito ruim. Até fome passei. Mas que mora de aluguel E muito difícil”. (R3)
A interrupção das atividades profissionais gera dificuldades financeiras que além de proporcionar insegurança alimentar, desgastam psicologicamente. O papel do Estado é primordial no controle da COVID-19 e também na mitigação das consequências econômicas e sociais.
A dificuldade de realizar fisioterapia e o medo da piora da função pulmonar também foi algo que os pais se preocuparam na pandemia.
“A Pandemia afetou a vida da minha filha de forma muito negativa. Vínhamos toda segunda-feira ao centro de referência fazer a fisioterapia respiratória, e isso contribuiu para piora pulmonar da minha filha”(R22)
O teleatendimento foi uma das estratégias utilizadas pelo centro de referência durante a pandemia para manter o atendimento e o serviço de fisioterapia conseguiu acompanhar 83% dos pacientes com FC durante este período.
A falta de interação social, a suspensão das aulas presenciais e o medo de infecção por COVID-19 gerou ansiedade e problemas psicológicos. Inferimos que a pandemia intensificou as dificuldades vividas pelos pacientes e trouxe rupturas na trajetória de cuidado à saúde, desgastes físicos e psicológicos.
“[...]emocionante foi muito abalado. Ver pessoas mas próximas a falece. A falta dos colegas. Teve um momento que ela conseguiu emagrecer 10 kilos”. (R13)
A presença das associações de pais da FC durante a pandemia foi de suma importância tanto no apoio psicológico, quanto na doação de alimentos e suplementos.


Conclusões/Considerações finais
O desenvolvimento de programas sociais que ofereçam apoio financeiro durante situações de emergência sanitária é de extrema importância para evitar a insegurança alimentar.
Estratégias devem ser desenvolvidas para disponibilizar ferramentas tecnológicas adequadas e de fácil compreensão aos pacientes, visando a realização de teleconsulta em situações onde o atendimento presencial não for possível, evitando assim a descontinuidade do cuidado.
A pandemia e o isolamento social trouxeram consequências psicológicas e físicas em crianças e adolescentes com FC e, pensando no futuro pós pandêmico, os profissionais de saúde, devem estar mais atentos a esses sinais e ofertar um cuidado individualizado e adequado, além de estimular o fortalecimento das redes de apoio social.