01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO8.1 - Cronicidade, deficiência e pluralidades na construção de outros possíveis |
46836 - MEMÓRIAS, TRAJETÓRIAS E EXPERIÊNCIA NO CAMPO DO CUIDADO ÀS PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS: UMA AUTOETNOGRAFIA. MARIANA DE QUEIROZ ROCHA DARMONT - DOUTORANDA IFF/FIOCRUZ, MARTHA CRISTINA NUNES MOREIRA - IFF/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução Essa pesquisa de base autoetnográfica entrelaça o campo da atenção e pesquisa dirigida às crianças, adolescentes, jovens e gestantes vivendo com Hiv/aids, e minhas memórias e experiência de duas décadas neste campo. Assumo a perspectiva metodológica autoetnográfica sustentada na Antropologia das Emoções. A mobilização das memórias, experiência e trajetória da autora não passa impune pela sensibilização necessária de si própria. Essa sensibilidade através do dispositivo da produção autoral de crônicas, contos e poesias. Partindo desse dispositivo, embaçamos possíveis personagens reais, e alcançamos figuras que reúnem traços comuns a muitos e muitas que fazem parte das práticas de pesquisa e atenção no campo do Hiv/aids. A dimensão autoetnográfica como narrativização da convivência com aqueles e aquelas que durante 20 anos foram atendidos e participantes de pesquisas mediadas pela autora.
Objetivos Produzir um texto narrativo onde a dimensão da artesania autoetnográfica encontre lugar na produção de conhecimento sobre a atenção às crianças, adolescentes e jovens vivendo com Hiv/aids
Metodologia O método autoetnográfico reconhece que nosso olhar e escuta não estão desvencilhados de nossas experiências particulares, e as valoriza como parte de todo processo de pesquisa. DaMatta (1978), com o conceito de antropological blues nos aponta para a importância de trazermos para o interior das nossas investigações e pesquisas, o que ele categoriza como subjetividades: as emoções.Consideramos o método da autoetnografia relevante para sustentar a pesquisa na qual passo a me localizar como produtora de narratividade, com narrativas de segunda ordem: narrativizar criticamente esses anos de encontros e experiências com os jovens vivendo com Hiv /aids, atendidos por mim em um serviço de atenção especializada na cidade do Rio de Janeiro. Para uma proposta autoetnográfica passou a fazer sentido acionar autores da antropologia das emoções, que nos serviram de alicerce para essa memorialização de meu acervo. A reflexividade antropológica para as formas de pensar os processos de saúde e doença, é uma via de acesso à cultura. Ferreira e Brandão (2019) pontuam que o sujeito reflexivo é produto e produtor das relações sociais e culturais. A base da autoetnografia a qual assumo é qualificada pela familiaridade. Uma relação de familiaridade que construí na minha trajetória no campo do Hiv/aids, e no encontro com esses jovens, convocada aos cuidados no campo da psicologia, e pela pesquisa pelo enquadre da biomedicina.
A familiaridade constituída com esses jovens, a partir de experiências comuns partilhadas, permite me debruçar sobre as complexidades da realidade, possibilitando através de um exercício profundo de reflexividade e estranhamento desenhar novas interpretações e questionamentos (Velho, 1978).
Resultados e discussão Organizamos o acervo de crônicas / contos /poesias abrindo cada um dos três núcleos que organizam a produção de conhecimento nessa trajetória: 1) Estigma e Suas Reatualizações; (2) Quando o Segredo Cola com a Doença: Segredo – Sigilo – Revelação; (3) O Caleidoscópio do Cuidado e a Entrada do Psicólogo no Hospital Geral. No reencontro com meu acervo e leitura exaustiva, no exercício de reflexividade com as memórias exaltadas, a construção de textos literários, pensando quais os valores culturais estão neles refletidos. A leitura minuciosa desta produção me permite refletir sobre o narrado. O acervo foi composto por 16 crônicas. A construção de contos/crônicas, ou seja, a aposta de trazer as minhas memórias em forma de uma escrita literária, é uma tentativa de me aproximar do leitor, a partir da emoção suscitada por elas, nas quais a minha experiência, a experiência de um, tem relevância por verossimilhança, pois fala de muitos. As crônicas como sínteses de pontos em comum de várias crianças e adolescentes com quem convivi, ganham concretude em histórias ficcionais com personagens que reúnem em si situações e questões típicas desses sujeitos com quem convivi. Para tanto as crônicas representam a possibilidade de assumir a escrita literária como parceira da escrita acadêmica
Conclusões/Considerações finais Para quem ainda está na linha de cuidados de pessoas que vivem com Hiv/aids, essa pesquisa é um convite afetivo de refletir sobre esses conceitos encarnados. E ter a oportunidade de pensar criticamente a construção de práticas que cuidam e que incluem, mas também, e principalmente, pensar para transformar as práticas que reproduzem, atualizam e perpetuam práticas violentas de des-cuidado, de opressão e exclusão, e como isso opera como um Sistema naturalizado que se repete como uma estrutura de medicalização da vida e redução da mesma a elementos de controle racional.
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