Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO8.1 - Cronicidade, deficiência e pluralidades na construção de outros possíveis

47475 - A INTERSECÇÃO DE MARCADORES SOCIAIS DA DIFERENÇA E O ENGAJAMENTO POLÍTICO DE MULHERES COM DEFICIÊNCIA NA DEFESA DE DIREITOS
RITA DE CÁSSIA SANTOS DE SANTANA - ISC/UFBA, MARCELO EDUARDO PFEIFFER CASTELLANOS - ISC/UFBA


Apresentação/Introdução
A despeito das lutas por inclusão social, a discriminação por gênero e o capacitismo continuam presentes nas experiências de mulheres com deficiência, no Brasil. Sobretudo quando entrecruzados com outros marcadores sociais, gênero e deficiência proporcionam diversas particularidades de vivências e subjetividades. Nas últimas décadas, parte desta minoria social vem se engajando no ativismo social pela defesa de direitos, inclusive pautando questões relacionadas a outros marcadores sociais da diferença que se interseccionam nas suas próprias experiências de vida. O protagonismo dessas mulheres em ações coletivas vem produzindo, dentre outros efeitos, novas pautas e desafios importantes para os movimentos sociais e políticas públicas. Portanto, torna-se importante conhecer aspectos relacionados ao ativismo dessas mulheres, tanto do ponto de vista científico quanto social, já que tal compreensão pode colaborar para a reflexão sobre formação de novas lideranças, renovação do movimento social e fomentar o desenvolvimento de uma sociedade mais inclusiva com novas pautas convergentes com demandas e especificidades desta população.

Objetivos
Conhecer as motivações de mulheres com deficiência relacionadas ao início e/ou manutenção do seu engajamento político por direitos.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada através de 24 entrevistas semiestruturadas com mulheres ativistas com deficiência. Tais entrevistas foram realizadas e gravadas pela primeira autora e posteriormente transcritas na íntegra para análise. A partir da análise temática de conteúdo, foram identificados os temas emergentes mais relevantes para a exploração da intersecção entre gênero e deficiência nos fatores motivacionais relacionados com o engajamento político. A investigação teve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA), sob o parecer de número 3.662.939.

Resultados e discussão
Os relatos indicam que o reconhecimento do capacitismo nas interações sociais cotidianas foi frequentemente apresentado como uma forma de legitimação das ativistas com deficiência. As posturas discriminatórias perante a deficiência foram narradas como um grande causador de sofrimento psíquico, de desvantagens no acesso a direitos e organização da rede de apoio das entrevistadas. Por isso, no transcorrer de suas trajetórias de vida, as participantes se empenharam a elaborar estratégias de enfrentamento, modificando sua postura perante o outro e o mundo. No que tange ao gênero, apesar do reconhecimento de que a intersecção com este marcador influencia questões importantes de suas vidas, a identificação de desvantagens pela assimetria de gênero nas relações sociais estabelecidas nas suas próprias trajetórias de vida foi citada pela expressa maioria das participantes, mas não foi unanimidade nos relatos colhidos. Ainda assim, todas as entrevistadas ratificaram o entendimento de que o entrecruzamento gênero-deficiência frequentemente coloca a mulher com deficiência em maior desvantagem social, sendo fundamental a necessidade de pautas de reivindicação específicas para este segmento. Mesmo sendo reconhecida a potência da intersecção dos marcadores, a maioria das participantes apresentou a experiência pessoal com o capacitismo como maior motivação para o engajamento no ativismo social. Somou-se a isto, o desejo de colaborar para ampliação do empoderamento de outras pessoas com deficiência, os processos individuais de legitimação e normalização e o compartilhamento de experiências de discriminação e/ou luta com outras pessoas com deficiência. As trajetórias de ativismo foram marcadas pela construção e aprofundamento de conhecimentos e do desenvolvimento da sua identidade. Assim sendo, de modo geral, o desenvolvimento de uma concepção ampliada sobre a deficiência, gênero e suas intersecções sustentou o interesse pela ação coletiva. Além disso, quanto à manutenção do engajamento, o desejo de perceber mudanças sociais foi uma motivação frequentemente mencionada, assim como a consciência da importância da sua atuação política para o fortalecimento do movimento social.

Conclusões/Considerações finais
Ratifica-se as mulheres com deficiência enquanto potentes atores sociais. Suas motivações para o engajamento político ultrapassam os domínios de benefícios individuais, alcançando aspectos coletivos, inclusive o interesse pela formação de novas lideranças, fortalecimento do movimento social e impacto positivo em políticas públicas para este segmento socioeconomicamente oprimido. Outras produções científicas precisam ser feitas, trazendo as mulheres com deficiência como protagonistas, refutando a opressora ideia de superação e reconhecendo-as como sujeito de direitos. Além disso, tais estudos podem ser úteis para formulação de políticas que proporcionem efeitos benéficos no combate à normalização do capacitismo e discriminação por gênero.