01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO11.1 - Envelhecimento, pandemia de Covid-19 e interseccionalidades |
46416 - ATENÇÃO A PESSOAS IDOSAS LGBTQIA+ EM ILPI: O OLHAR DE GERENTES DE ILPI DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO WELLINGTON RICARDO NAVARRO TORELLI - USP, THAÍSSA ARAUJO DE BESSA - USP, BIBIANE GRAEFF - USP
Apresentação/Introdução O envelhecimento da população em escala mundial se reflete na maior necessidade de políticas públicas específicas para as pessoas idosas em níveis nacional e internacional. No entanto, grupos minoritários da população idosa ainda padecem de relativa invisibilidade em determinados contextos, sendo vítimas de preconceito e discriminação múltipla, como é o caso das pessoas LGBTQIA+. No Brasil, onde predomina uma cultura cis-heteronormativa, pessoas idosas LGBTQIA+ são negligenciadas em seus direitos e podem ser invisibilizadas nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI).
Objetivos Compreender o olhar dos gerentes das Instituições de Longa Permanência para Pessoa Idosas (ILPI) conveniadas com o município de São Paulo (SP) quanto ao acolhimento da população idosa LGBTQIA+.
Metodologia Pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória por meio de grupos focais realizados em 2022 com gerentes (ou profissionais por eles indicados) de ILPI conveniadas à prefeitura SP. A amostra foi não probabilística, por conveniência. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa CAAE nº58875422.7.0000.539. Foram propostas 03 datas para a realização dos grupos e os participantes que aceitaram participar da pesquisa foram distribuídos de acordo com sua disponibilidade. As entrevistas seguiram um roteiro semiestruturado e foram analisadas sob a luz da Análise de Conteúdo de L. Bardin
Resultados e discussão Os grupos focais tiveram um total de 12 participantes. A análise resultou em 03 categorias: Preconceito, Barreiras e Estratégias. Quanto ao preconceito, os participantes identificam os residentes como agentes do preconceito, e não outros membros da equipe ou familiares, e embora poucos casos de preconceito e discriminação contra a população idosa LGBTQIA+ em ILPI tenham sido narrados, muitos foram os relatos de homotransfobia por parte dos residentes contra funcionários. O reconhecimento da existência de preconceito contra pessoas LGBTQIA+ em ILPI e de situações discriminatórias narradas encontram similaridade em registros da literatura internacional, que destaca a existência de um padrão cis-heteronormativo no funcionamento destes equipamentos que se manifesta, por exemplo, nas omissões no momento da admissão e do acolhimento de pessoas idosas LGBTQIA+. Na categoria barreiras, há uma invisibilidade da demanda pelo acolhimento de pessoas idosas LGBTQIA+. As crenças religiosas e morais, a falta de conhecimento e contato com pessoas LGBTQIA+, assim como o mito da velhice assexual também aparecem enquanto barreiras. O despreparo dos profissionais para lidar com a sexualidade dos residentes é também constatado em estudos internacionais e no caso das pessoas idosas LGBTQIA+, a sexualidade ou a identidade de gênero dissidente sofrem dupla negligência, pois os parâmetros cis-heteronormativos rechaçam sua existência na velhice, considerando que a velhice é predominante heterossexual e cisgênera. A falta de uma estrutura inclusiva aparece nos formulários de uso interno, já que em nenhuma das ILPI, de acordo com os participantes, havia campo para o registro da orientação sexual, da identidade de gênero e do nome social. Quanto às estratégias, a necessidade de capacitação dos funcionários bem como de criação de ILPI exclusiva ou friendly a pessoas LGBTQIA+ visando a proporcionar acolhida qualificada a todos foi unânime entre os participantes.
Conclusões/Considerações finais A incipiente literatura científica sobre as velhices LGBTQIA+ no país somada à supervalorização da juventude na comunidade LGBTQIA+ dificultam a visibilidade e criação de políticas públicas que assegurem direitos às pessoas idosas LGBTQIA+. É preciso ampliar estudos com coleta de dados sobre essa realidade nos equipamentos de assistência social e saúde no Brasil, que contribuam para a ampliação do conhecimento sobre a temática das velhices LGBTQIA+, para que não mais se ouça a fala dos profissionais que atuam nestes locais: “não temos essas pessoas aqui”.
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