01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO12.1 - Epistemologias da Saúde desde o Sul: Pensamento crítico latino-americano e a virada decolonial |
47471 - DETERMINAÇÃO HISTÓRICO-TERRITORIAL DOS PROCESSOS SAÚDE-DOENÇA E MORTE EM TERRITÓRIOS DE VIOLÊNCIAS URBANAS: RELEITURAS A PARTIR DO PENSAMENTO CRÍTICO LATINO-AMERICANO ELIS BORDE - UFMG, MARIO HERNÁNDEZ ÁLVAREZ - UNAL
Apresentação/Introdução A forma como a violência urbana costuma ser abordada deixa lacunas e fragmenta nossa compreensão na medida em que costuma se reduzir à associação de fatores e quantificação do sofrimento. Argumentamos que é preciso resgatar uma visão integradora a partir do pensamento crítico latino-americano que nos permita compreender como as diferentes violências urbanas que se configuram como parte de um modelo de cidade característico do “neoliberalismo realmente existente” no Sul Global, produzem mal-estar, doença e morte.
Objetivos Neste trabalho buscamos explorar a determinação histórico-territorial dos processos saúde-doença e morte em territórios urbanos marcados por violências em duas cidades latino-americanas a partir de uma abordagem integradora e crítica. Partimos de uma revisão da Medicina Social e Saúde Coletiva latino-americana, particularmente dos conceitos “modos de vida”, “subsunção” e “determinação social” e da Geografia Crítica latino-americana, em especial, dos debates sobre “território-territorialidade-territorialização” e conflitividade.
Metodologia Trata-se de um estudo de caso comparativo realizado entre 2016 e 2020 nos bairros Maré (Rio de Janeiro, Brasil) e San Bernardo (Bogotá, Colômbia) a partir de 46 entrevistas semiestruturadas com moradores do bairro, líderes comunitários e pesquisadores e 4 grupos focais. Foi utilizada a análise de conteúdo, modalidade temática. Também foi realizada uma revisão narrativa da literatura sobre violência urbana, homicídios e conflitos territoriais urbanos.
Resultados e discussão Os dois casos apresentam a violência urbana como sintoma de conflito social, cujos processos insalubres envolvem e produzem a morte, multiplicando a violência. Os casos mostram a imbricação de formas implícitas e explícitas de violência urbana que se configuram como resultado do (des)ordenamento territorial imposto pelo modelo dominante (neoliberal, racista, patriarcal) de cidade, incluindo violências implícitas em ameaças de despejo, intervenções necropolíticas policiais-militares racistas, dinâmicas do narcotráfico e das milícias e a morte lenta imposta à infraestrutura dos bairros assolados pelo capital, que configuram mal-estar e produzem “vidas fraturadas”.
Para uma compreensão sensível da violência urbana e seus impactos, é necessário ampliar os referentes e métodos de análise. É fundamental compreender o “(des)ordenamento” territorial e a polarização urbana para situar o mal-estar, a doença e a morte e sua distribuição desigual.
Conclusões/Considerações finais A abordagem histórico-territorial permitiu revelar processos de determinação social dos processos saúde-doença nos territórios marcados por violências urbanas, traçou territorialidades e temporalidades do modelo de sociedade/cidade e evidenciou suas contradições. Desta forma mostrou como as diversas práticas que sustentam, defendem e imponem o modelo neoliberal literalmente se “incorporam”, geram mal-estar e doença e violências que (de)formam e eliminam determinados corpos e territórios do espaço urbano.
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