46658 - EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL: APONTAMENTOS A PARTIR DA EXTENSÃO POPULAR CÉSAR AUGUSTO PARO - UNIFESSPA
Apresentação/Introdução A extensão é uma das bases de atuação das universidades brasileiras, que, juntamente com o ensino e a pesquisa, formam o tripé universitário ensino-pesquisa-extensão.
A discussão da extensão universitária nos reporta a uma reflexão sobre a própria universidade. Nascida no seio de uma sociedade contraditória, a universidade tem se constituído como um espaço de contradições em diversas dimensões, tal qual a da sua relação com a própria sociedade. Ao mesmo tempo que as produções científicas e tecnológicas têm contribuído para a resolução de certos problemas sociais, estas também repercutem no agravamento de diversos outros, como exploração, degradação ambiental e uso do conhecimento como instrumento de opressão e legitimação dos setores dominantes. Ademais, critica-se o modo como a universidade tem se relacionado com as mudanças sociais, por vezes se adaptando e produzindo uma acomodação ao status quo.
Em contraponto à universidade asséptica, isolada e descompromissada, alguns grupos acadêmicos, a partir da propositura da democratização do saber e uma inserção científica pelo trabalho social, passaram a desenvolver ações extensionistas voltadas para as camadas populares, com o direcionamento das ações de ensino e pesquisa na busca pela realização dos direitos sociais e humanos dos setores sociais subalternos.
Objetivos Compreender os desafios e as possibilidades da extensão universitária em contribuir com processos de transformação da sociedade.
Metodologia A partir de uma revisão de literatura não-sistemática para apresentar o estado da arte desta temática na literatura nacional, traçamos aspectos históricos sobre a constituição da instituição universitária e o modo como as práticas extensionistas compuseram o ethos universitário, bem como apresentamos algumas das tipologias existentes nos estudos sobre extensão universitária, com ênfase na extensão popular, que tem sido a perspectiva mais afinada com o horizonte ético-político-pedagógico de construção de uma sociedade justa e solidária.
Resultados e discussão Mesmo com os avanços no arcabouço legal, em que se destaca o reconhecimento constitucional da extensão no tripé universitário e a formulação de uma política nacional alinhada a uma relação dialógica entre universidade-sociedade com vistas à transformação social, as práticas extensionistas de um modo geral ainda têm sido predominantemente orientadas por um caráter difusor de conhecimento, com fluxos comunicativos unilaterais, de uma universidade que ainda endogenamente permanece fechada em si, ao invés de se articular de maneira mais efetiva com a comunidade.
Dentre os dilemas existentes na contemporaneidade relativos à relação extensão-universidade-sociedade, há a relação subalterna da extensão em detrimento do ensino e pesquisa, sendo que ela é apontada, por vezes, como “função menor” ou “terceira função”, que recebe, inclusive, uma destinação de carga da atividade docente menor que as distribuídas para as atividades didáticas e as investigativas. Deste modo, faz-se necessário a compreensão da extensão como uma ação acadêmica de forma efetiva, que deve ser incorporada com maior pujança no processo de trabalho dos professores universitários e da própria progressão docente.
Para além de ser uma função com menos atenção, há ainda a visão dicotômica dos processos envolvidos no ensino, na pesquisa e na extensão, pela qual estas três esferas convertem-se em atividades em si mesmas, dotadas, inclusive, de distintos status acadêmicos, que, mesmo quando coexistem dentro das universidades, são mormente tratadas de forma independentes, ao invés de engendrada a sua necessária interdependência. Daí a importância de ser afirmada a organicidade da indissociabilidade desses processos como fundamentos da universidade.
Por vezes, a prática de extensão se dá numa ação pela ação, que resulta numa relação sem nenhum significado para a comunidade. Estas se configuram, por exemplo, em práticas assistencialistas que buscam resolver determinados “problemas sociais”. Nestas situações, o pensamento crítico não configura como um princípio da ação extensionista, o que afasta a oportunidade de gerar maior reflexividade sobre o vivido para avaliar as mudanças que se fazem necessárias para construir outro mundos possíveis, de bonitezas e de menos desigualdades sociais.
Conclusões/Considerações finais A problematização dos desafios enfrentados na relação universidade-sociedade e a proposição de ações que visem superá-los demandam um compromisso práxico de ação-reflexão-ação de todos os atores envolvidos no cotidiano extensionista, incluída aqui a comunidade não universitária incorporada nestas ações. Deste modo, um dos caminhos para inédito-viabilizar a construção de processos de transformação social parece também passar pelo exercício coletivo da reflexão crítica e densa sobre as práticas extensionistas experienciadas, lidando com as tensões e contradições cotidianas da prática para fazer surgir o novo, uma vez que, conforme nos provoca Freire, “é pensando a prática que aprendo a pensar e a praticar melhor”.
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