Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO14.1 - Gênero, cuidado, saúde e trabalho

47479 - A COVID-19 EXPERIENCIADA: ADOECIMENTO E EXPERIÊNCIA PÚBLICA DESDE UMA ANTROPOLOGIA VISUAL DA SAÚDE
GEISSY DOS REIS FERREIRA DE OLIVEIRA - UFPB, RUANNA GONÇALVES SILVA - UFPE, MÓNICA FRANCH - UFPB


Apresentação/Introdução
Durante o ano de 2021, desenvolvi junto com Ruanna Gonçalves e outras três interlocutoras, no âmbito do mestrado em Antropologia pela Universidade Federal da Paraíba, uma pesquisa orientada à compreensão de experiências de adoecimento por Covid-19, no contexto de emergência sanitária, vivenciadas por mulheres domiciliadas na cidade de João Pessoa/PB, com aporte da Antropologia da Saúde e Visual, em que foi elaborado um conjunto de fotografias com Ruanna.

Objetivos
No contexto dessa pesquisa, centrada no adoecimento e na vida em meio à pandemia, buscamos compreender e abarcar no texto da dissertação e em um conjunto de fotografias, o modo como o adoecimento por Covid-19 é experienciado, significado e refletido por Ruanna, desde sua narrativa. O enfoque da citada pesquisa, e logo, do ensaio fotográfico, remete à Covid-19 vivenciada por Ruanna e também a uma experiência pública em torno da Covid-19.

Metodologia
É com Ruanna, portanto, que elaboro conjuntamente essa investida visual. Em sua condição de experiente (ANDRADE; MALUF, 2017), Ruanna narra suas próprias experiências de adoecimento, comigo dialogadas numa narrativa verbal. Primeiro li e ouvi as experiências de Ruanna, narradas via WhatsApp, para em seguida formular o roteiro semiestruturado de fotografias a serem produzidas, enviado na sequência para Ruanna, também via WhatsApp, e lido momentos antes do ensaio fotográfico. Portanto, as fotografias partem da escuta, da narrativa experiencial. Mesmo na presença, seguíamos (e seguimos) em contexto de pandemia, o que demandou um fazer campo outro, e também um fotografar outro. Este roteiro semiestruturado emerge do contexto de emergência sanitária, no sentido de reduzir o tempo do encontro, quando eram incentivadas medidas preventivas de distanciamento social, à nível de município e estado. À medida em que fotografávamos, víamos juntas, de tempos em tempos, as fotos no visor da câmera, e refletíamos os rumos do ensaio, metodologia desenvolvida por Geissy (OLIVEIRA, 2018). Neste ensaio, acessamos a fotografia, de estilos expandido e fotoperformático, como capturas artísticas, antropológicas e experimentais de experiências desse tempo histórico, a partir do registro de rastros da pandemia.

Resultados e discussão
É próprio deste trabalho, não a análise de imagens já produzidas, e sim a criação de novas imagens pandêmicas, que podem ser, elas próprias, recursos terapêuticos no processo de elaborar o adoecimento de Covid-19 para quem o experiencia, ao mesmo tempo em que permitem tanto aportar dimensões indizíveis desse processo, como ampliar as linguagens em que temos acesso à experiência do adoecimento. Tais elaborações produzidas no âmbito e em alinho com a citada pesquisa de mestrado, foram elaboradas num entre-lugar em que se encontraram a Antropologia Visual, a Antropologia da Saúde e a Arte, que tenho pensado atualmente como uma Antropologia Visual da Saúde. Campo emergente que se propõe abarcar produções/reflexões antropológicas que se debruçam sobre questões relativas à imagem, ao corpo e a processos de adoecimento e saúde. A própria proposição de uma Antropologia Visual da Saúde, resulta também deste fazer imagético, situado no âmbito da citada pesquisa de mestrado.


Conclusões/Considerações finais
No Brasil da morte por Covid-19, e de boicote às ciências humanas, como políticas de Estado no contexto do bolsonarismo (MALUF, 2021), fazer pesquisa antropológica sobre experiências de adoecimento de mulheres pela Covid-19 diz ainda de um fazer político. Ao aportarmos as experiência de adoecimento por Ruanna, também antropóloga e artista, advogamos pela importância da escuta de experiências, que acontecem de forma indissociável dos marcadores sociais da diferença que nos atravessam enquanto indivíduos situados em determinado território e seus contextos morais, políticos, econômicos, dentre outros. Também o caráter artístico, de fotoperformance e experimentação do ensaio fotográfico, vêm falar artepoliticamente da experiência de Ruanna, do contexto sociocultural, e da experiência coletiva de adoecer por Covid-19 e vivenciar uma pandemia, num cenário de desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS). Resulta também desta pesquisa e deste fazer imagético, tanto uma crítica ao processo de apagamento e numerificação das experiências com a Covid-19, quanto à política de morte engendrada no governo Bolsonaro em tempos de pandemia. Quanto ao cuidado em contexto de emergência sanitária, me parece, a partir da pesquisa, que ele é acionado pelos interlocutoras enquanto estratégia preventiva à Covid-19, mas nem por isso deixa de trazer sobrecarga a nós mulheres, uma vez que mobiliza o marcador social de gênero, como uma gama de estudos socioantropológicos vêm afirmar, na chave do binômio sobrecarga e invisibilidade às agentes do cuidado, o que aponta, portanto para a necessidade de o cuidado ser alvo de políticas públicas de saúde.