01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO14.1 - Gênero, cuidado, saúde e trabalho |
47848 - AS EXPERIÊNCIAS DAS MULHERES QUE GESTARAM NO PRIMEIRO ANO DA PANDEMIA DA COVID-19 NO BRASIL THAIS DIAS CARVALHO MARTINS AZEVEDO - IFF / FIOCRUZ, IVIA MAKSUD - IFF / FIOCRUZ
Apresentação/Introdução O Brasil é um dos países que possui as maiores taxas de mortalidade materna por COVID-19 do mundo, e chegou a representar 8 de cada 10 mortes maternas relatas pela doença. As gestantes, a princípio, não foram definidas em estudos como grupos de risco e morte. Mas, após ser observado elevado risco de morbimortalidade materna, em abril de 2020 a OMS incluiu gestantes e puérperas como grupo de risco para a doença. O aumento dos impactos e mortes maternas estão associados com a ineficiência dos sistemas de saúde e a incapacidade de gerenciar a pandemia. Além disso, seus efeitos adversos sobre saúde materna e perinatal não se reduzem à morbimortalidade produzida pela doença, mas a todo o contexto e transtornos provenientes das medidas de contenção e controle do vírus, que resultaram na interrupção dos serviços de saúde considerados como não essenciais e nos vimos frente a um dos maiores problemas de saúde pública internacional das últimas décadas. Com este estudo buscamos responder a nossa pergunta de partida: “Como foi a experiência de gestar na pandemia da Covid-19?” a partir do olhar das mulheres. Para isso, percorreremos um caminho em que abordaremos sobre o acesso, cuidado e emoções vivenciados por mulheres, dialogando com autoras e autores dos estudos sócio-antropológico sem interface com a área de Saúde Coletiva.
Objetivos O objetivo deste trabalho é apresentar resultados parciais proposto pela pesquisa que consistiu em registrar memórias de mulheres que gestaram no primeiro ano da pandemia da COVID-19 no Brasil. Em específico, intentamos compreender as experiências de mulheres que gestaram no primeiro ano da pandemia da COVID-19 no Brasil; discutir como a pandemia da COVID-19 e as políticas/ orientações/ normativas a ela relacionadas afetaram o percurso gestacional das mulheres e descrever e discutir os arranjos relacionados ao Itinerário Terapêutico de mulheres que gestaram neste período, em busca do acesso ao cuidado. Como eixos de análise consideramos o binômio SUS X saúde suplementar, bem como o pertencimento social das gestantes, de acordo com os marcadores raciais, idade, renda/classe social, escolaridade, ocupação e religião.
Metodologia Tratou-se de uma perspectiva qualitativa, delineada nos períodos que ocorreram a primeira e segunda “onda” da doença no país. Baseamo-nos num dos principais conceitos centrais em estudos socioantropológicos da saúde, o Itinerário Terapêutico, como referencial teórico-metodológico. Realizamos entrevistas individuais baseadas em roteiros semiestruturados, que nos auxiliou a compreender sobre as experiências das mulheres. Assim, entrevistamos onze mulheres que gestaram entre março de 2020 a março de 2021 e que residiam no Estado do Rio de Janeiro. Para selecionar este grupo, trabalhamos na lógica de rede de relações, primeiro divulgando um convite breve e explicativo sobre a pesquisa entre contatos da pesquisadora e orientadora e posteriormente selecionando intencionalmente as mulheres para participação, visando correlação entre os membros desta população. Os dados produzidos durante as entrevistas foram transcritos na íntegra.
Resultados e discussão Foram entrevistadas cinco mulheres atendidas pelo SUS, e seis mulheres atendidas pelo sistema de saúde suplementar, com diferentes pertencimentos e contextos sociais. De uma forma geral, a gestação durante a pandemia da COVID-19 foi um evento social implicado por sensações desagradáveis relativos à dificuldade de acesso aos serviços e cuidados na gestação, tanto no âmbito da atenção quanto em relação à rede de apoio. Considerando os relatos das mulheres a partir de suas experiências pessoais, foram identificados nas entrevistas aspectos relacionados aos medos, incertezas e inseguranças enfrentados e as trajetórias em busca do acesso ao cuidado.
Conclusões/Considerações finais A gestação e o parto são momentos descritos como de grande carga emocional na literatura, mas, devido à pandemia, observamos que novas preocupações surgiram. Além de provocar o medo concreto da morte, a COVID-19 também envolveu diversos outros dilemas e conflitos como questionamentos sobre as condições dos locais de parto e o risco da exposição ao vírus em hospitais e maternidades, o direito à acompanhante, os cuidados e apoio após o parto, entre outros. O isolamento social trouxe o sentimento de desamparo e abandono, e intensificou a sensação de insegurança decorrentes das repercussões econômicas e sociais da pandemia em larga escala. Foi possível notar um maior impacto nas trajetórias das mulheres que acessaram o SUS, principalmente em relação ao sistema de referenciamento para níveis de maior complexidade quando comparado a mulheres atendidas na rede privada de saúde.
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