01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO14.1 - Gênero, cuidado, saúde e trabalho |
48047 - REFLETINDO SOBRE O EFEITO DAS EPIDEMIAS/PANDEMIAS NA SAÚDE DA MULHER/GESTANTE NO BRASIL HELLEN FERREIRA DA SILVA SANTOS - UFBA, TATIANA OLIVEIRA - UFBA, EMILY LIMA CARVALHO - UFBA
Apresentação/Introdução Crises sanitárias pandêmicas são eventos que geram impactos na população de forma distinta, tendo como fator de influência vulnerabilidades preexistentes e os marcadores sociais que atravessam cada sujeito. Os impactos destes cenários, não se relacionam apenas aos processos de adoecimento vinculados à contaminação, mas ao fato de se somarem às consequências do adoecimento, vulnerabilidades das mais diversas origens: sociais, ambientais, econômicas e políticas. Esses aspectos se sobrepõem e pioram os processos saúde-doença das populações vulneráveis, tornando-as verdadeiras sindemias. Essa perspectiva pode ser observada ao se analisar como a pandemia de Covid-19 e a epidemia de Zika Vírus tiveram maiores repercussões para mulheres gestantes, que diante das necessidades do seu quadro e dos riscos a que estavam expostas, necessitavam que os serviços de saúde tivessem como prioridade cuidados efetivos para este público.
Objetivos Refletir sobre como a epidemia do Zika e a pandemia da COVID -19 impactaram a saúde da mulher/materna.
Metodologia Realizou-se pesquisa teórico-reflexiva, de cunho exploratório, a partir de uma revisão narrativa de estudos que abordam a saúde materna nesses contextos tendo como prioridade descrever as aproximações e discrepâncias entre a pandemia de Covid-19 e Zika Vírus. Assim, as reflexões estabelecidas nestes estudos surgem enquanto ponderações das autoras acerca dos impactos que contextos sindêmicos têm gerado na saúde materna e como isto tem sido percebido enquanto um padrão diante das necessidades de saúde específicas desse público.
Resultados e discussão Observa-se que existem repercussões para mulheres gestantes que são comuns aos contextos das crises sanitária provocadas pela Covid-19 e pelo Zika vírus, entre estas: culpabilização das mulheres quando contaminadas pelo vírus, não sendo ofertado suporte efetivo diante dos riscos comprovados; divulgação de informações divergentes, incoerentes e até falsas pelos meios de comunicação e mídias sociais resultando em medos e até negação dos fenômenos; morosidade na construção de protocolos; construção de protocolos com modelos de cuidados verticalizados, sem reconhecimento das vulnerabilidades sociais envolvidas e sem participação das mulheres; aumento e sentimentos negativos relacionados ao medo do parto, de contaminar-se e da possibilidade de violência obstétrica.
Salienta-se ainda que na pandemia de Covid-19 houve o direcionamento de medidas legalmente validadas para que mulheres gestantes ou que cuidavam de crianças pequenas pudessem fazer jus ao trabalho remoto. Ocorre, no entanto, que esse acesso só foi verdadeiramente permitido àquelas que possuíam trabalhos formais. Àquelas que estavam na informalidade precisaram de assistência governamental, a demora em sua concessão, no entanto, levou essas mulheres a se colocarem em situações de risco para contaminação por Covid-19. Um movimento semelhante quanto à proteção governamental foi observada na epidemia de Zika vírus, o acesso a repelentes, por exemplo, foi insuficiente para mulheres que dependiam dos serviços públicos de saúde e coincidentemente essas eram as mulheres que residiam em áreas de maior risco para a contaminação por Zika vírus.
|As distinções estão relacionadas às diferentes formas de contaminação: a pandemia de Covid-19 se trata de um vírus respiratório de alta transmissibilidade, enquanto que na epidemia de Zika vírus a contaminação ocorria pelo mosquito Aedes aegypti com diferentes desfechos. No caso da Covid-19 para gestantes se observou: atrasos no diagnóstico e nas hospitalizações, o que resultou em aumento da mortalidade materna, não sendo muitas vezes validados os sintomas como referentes ao quadro. Já no caso da Zika, mulheres contaminadas não tiveram autorização para a interrupção da gravidez, que só é autorizada em casos específicos e cujo acesso só ocorreu para mulheres de maior poder aquisitivo, que puderam sair do país para praticar aborto, como decisão própria, o que se apresenta como discrepância entre as classes.
Conclusões/Considerações finais O presente trabalho pretende a partir de uma perspectiva comparativa entre contextos sindêmicos, apresentar como a relação gênero e saúde se encontra desigual no que se refere a doenças infecciosas de relevância sanitária. Observa-se um campo de grandes perdas, negligências e necessidades de ações efetivas pelo Estado. A saúde materna, que se encontra enquanto um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, na atual conjuntura tem sofrido prejuízos significativos ao invés de melhorias. Dessa forma, a assistência às gestantes tem sido atravessada por subtração de direitos já instituídos e por um funcionamento da saúde materna que não valida as necessidades destas mulheres, partindo do que é posto por elas enquanto importantes.
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