Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO15.2 - Promoção, educação e comunicação em/na saúde

46270 - JUVENTUDES LGBTIA+ E A PROMOÇÃO DE SAÚDE MENTAL EM TERRITORIALIDADES PERIFÉRICAS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DO FESTIVAL DAS JUVENTUDES NO GRANDE BOM JARDIM
LEVI DE FREITAS COSTA ARAÚJO - UFC, MARTA CLARICE NASCIMENTO OLIVEIRA - UFC, CARLA JÉSSICA DE ARAÚJO GOMES - UFC, MAYARA RUTH NISHIYAMA SOARES - UFC, LAISA FORTE CAVALCANTE - UFC, BRUNA RIBEIRO DE SOUSA - UFC, JOÃO PAULO PEREIRA BARROS - UFC, LARISSA FERREIRA NUNES - UFC, NATÁLIA MATOS DE SOUZA - UFC


Contextualização
No Brasil, segmentos juvenis, em especial, negros e LGBTIA+, são as principais vítimas de violências, sendo essa, uma questão relevante de Saúde Pública. Destaca-se tanto o aumento de mortes violentas na região Nordeste, quanto o sucateamento de setores das Políticas Públicas nos últimos anos, limitando, por exemplo, o acesso à Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e, consequentemente, a garantia do direito à saúde. Como resultado desses dois fatores, tem-se a produção de uma necropolítica direcionada à corpos negros, periféricos e dissidentes da cisheteronormatividade. A fim de enfrentar isso e promover ações de saúde e cuidado em territórios periféricos de Fortaleza/CE, o Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação (VIESES), do departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, realiza diversas ações desde 2018 no território do Grande Bom Jardim, composto por 5 bairros, que estão entre os 20 bairros com menor IDH da cidade. Devido à insuficiência dos serviços de saúde disponíveis nesse território, que não conseguiam atender às juventudes mais vulnerabilizadas pelas violências, junto às dificuldades de acesso desse segmento a tais equipamentos, impostas por conflitos territoriais, a estratégia adotada pelo VIESES, para fortalecer práticas de cuidado e promoção de saúde junto a jovens naquele contexto, foi desenvolver ações descentralizadas e em parceria intersetorial com equipamentos de educação e cultura, organizações não governamentais atuantes na defesa de direitos humanos, como o Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza que tem como uma das frentes, o coletivo juvenil Jovens Agentes de Paz.

Descrição
O Festival das Juventudes é um dos frutos advindo dessas parcerias com coletivos juvenis, artistas e equipamentos sociais do território desde 2018. Direciona-se, sobretudo, a estudantes de escolas públicas de ensino médio. As atividades envolvem apresentações artístico-culturais, gincanas e rodas de conversa com pessoas convidadas, geralmente moradoras do território, assim como oficinas multi-artísticas que visam desenvolvimento de habilidades, troca de experiências e discussões de temáticas importantes para as juventudes, como direito à cidade, construção de resistências e respeito à diversidade.

Período de Realização
O Relato enfoca na sua 5ª edição, ocorrida nos dias 13 e 27 de maio e 3 e 17 de junho de 2023. Ele abrange um conjunto de atividades que costumam ocorrer em sábados quinzenais durante os meses de maio e junho

Objetivos
Objetiva-se apresentar a experiência do “Festival das Juventudes: Arte, Cultura e Direitos Humanos”, realizado no Grande Bom Jardim, na periferia de Fortaleza, refletindo sobre sua importância na promoção de saúde mental de juventudes LGBTIA+

Resultados
Nesse ponto, vê-se a representatividade presente nas pessoas convidadas para facilitar as rodas de conversa, geralmente LGBTIA+ e/ou negras. No decorrer do festival de 2023, percebeu-se a presença de juventudes diversas, que sentiam-se confortáveis para afirmar constantemente suas identidades de gênero e/ou orientações sexuais. Salienta-se, a partir disso uma reflexão vinculada à consideração de dispositivos de cuidado territorializado como importantes promotores de saúde mental, sobretudo para as juventudes LGBTIA+, o que traz reflexões sobre uma clínica ampliada, que reivindica propostas de cuidado capilarizadas, territorializadas e que escapem da captura realizada pelo dispositivo clínico/hospitalocêntrico tradicional.

Aprendizados
A promoção da saúde mental pode ser pensada através da construção de vínculo, cultura, arte e criação de outros modos de subjetivação a partir do contato com outras possibilidades existenciais. A presença de um dispositivo no território que viabiliza a experimentação destas possibilidades em segurança, mostra-se fundamental, apostando no encontro, mobilização, partilha de experiências e na criação de redes afetivas, não só entre estudantes, mas também, com referências artísticas da própria comunidade. Ademais, o espaço do festival também surge como um meio possível de discussão de temáticas que muitas vezes não encontram espaço no ambiente escolar, atuando como fator protetivo frente a questões que atingem esses segmentos.

Análise Crítica
Destarte, evidencia-se a importância de dispositivos locais no enfrentamento à violência e na garantia de direitos, articulando-se em torno da pauta da promoção de direito à saúde de juventudes LGBTIA+, problemáticas caras às políticas de educação, lazer, saúde e sistema de justiça. Tendo como guia a potência das práticas e reivindicações de movimentos sociais e coletivos juvenis que atuam a partir da arte e da cultura, dispositivos como o Festival têm suscitado a possibilidade de promoção de cuidado em saúde mental de base territorial, apesar das precarizações impostas pelo sucateamento da RAPS. Salienta-se ainda, a importância da cooperação entre a Universidade e esses espaços para a promoção de saúde mental como potência de vida e reexistência.