Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO15.2 - Promoção, educação e comunicação em/na saúde

46522 - PROMOÇÃO DA SAÚDE DE PESSOAS TRANS ATRAVÉS DAS PRÁTICAS ESPORTIVAS: DESAFIOS E POTENCIALIDADES
JOÃO BATISTA DE OLIVEIRA JUNIOR - UFSC, RODRIGO OTÁVIO MORETTI-PIRES - UFSC


Apresentação/Introdução
A saúde, em seu sentido amplo, abrange vários aspectos da vida e vai além do biológico, envolvendo trabalho, educação, lazer, acesso à saúde e outros direitos (BUSS, 2007). No Brasil, saúde é direito de todos, mas grupos minoritários enfrentam obstáculos devido a condições desfavoráveis ligadas às suas identidades.
A transexualidade desafia as normas binárias de gênero (BENTO, 2008), resultando em discriminação, violência e uma batalha por direitos básicos para as pessoas trans. Abordar a promoção da saúde amplia a compreensão e a ação, permitindo lidar com os diversos problemas sociais enfrentados por elas.
As lutas atuais das pessoas trans envolvem questões jurídicas como nome social, acesso a terapias hormonais e uso de banheiros de acordo com a identidade de gênero. Essas lutas refletem a necessidade de superar as limitações binárias de sexo e gênero, esse trabalho tem o intuito de pensar as demandas envolvendo a transexualidade para além do contexto legal e dos direitos fundamentais, sobre o âmbito da promoção da saúde.
A participação de pessoas trans em práticas esportivas enfrenta desafios devido a uma perspectiva biológica e binária predominante, que reproduz normas sociais. Isso resulta em várias barreiras para a inclusão das pessoas trans nesse contexto.


Objetivos
Compreender como se dá a inserção das pessoas trans nas práticas esportivas no âmbito da promoção da saúde


Metodologia
Trata-se de pesquisa qualitativa, por meio de grupos focais online síncronos, no Cisco Webex Meetings realizado com mulheres travestis e transexuais e homens trans que participam ou já participaram de alguma prática esportiva.
Utilizou-se a Análise Temática para o tratamento dos resultados, que identifica temas recorrentes apontados pelos participantes.
Todos os procedimentos previstos na legislação brasileira vigente foram adotados, seguindo o projeto aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFSC, sob o CAAE 24963919.4.0000.0121.


Resultados e discussão
Realizaram-se dois grupos focais online síncronos: o Grupo 01, composto por 09 mulheres travestis e transexuais, com idade média de 32,2 anos, sendo 07 brancas e 02 pretas; e o Grupo 02, composto por homens trans, com idade média de 23,4 anos, sendo 03 brancos, 01 preto e 01 não declarado.
Os resultados indicaram que a participação das pessoas trans em práticas esportivas ocorre em um ambiente conflituoso e discriminatório, revelando a presença de transfobia nos diversos espaços sociais. A principal barreira identificada está relacionada à cis-heteronormatividade, uma vez que os esportes são concebidos com base em uma divisão binária de gênero.
Como resultado, as pessoas trans enfrentam várias barreiras para se envolverem nas atividades esportivas, tais como: acesso aos vestiários, a separação de esportes para "homens" e "mulheres" desde a infância; indivíduos que não possuem uma "passabilidade" de gênero enfrentam maiores desafios para se integrarem a grupos esportivos; mulheres trans são frequentemente excluídas com base em supostas vantagens físicas; homens trans encontram dificuldades em se inserir nas práticas esportivas, especialmente quando não possuem características masculinas alinhadas a um padrão cis-heteronormativo.
Apesar das diversas barreiras apontadas, as pessoas trans relataram potencialidades da vivência esportiva, tais como: inclusão social, perspectiva de vida diferente, um local de acolhimento, pertencimento, reconhecimento, cuidado e bem-estar e ainda como uma forma de trabalho.
Essas experiências apontam as práticas esportivas enquanto espaços que podem ser produtores de saúde no contexto de vida das pessoas trans, sendo um espaço de exercício de direito, reconhecimento, espaço de lazer e compartilhamento.


Conclusões/Considerações finais
A inserção das pessoas trans no contexto esportivo requer análises críticas que vão além do enfoque biologicista e do esporte de alto rendimento. É necessário repensar o esporte considerando seus aspectos sociais e as múltiplas construções de significado, uma vez que o binarismo de gênero reforça a exclusão. Nesse sentido, a promoção da saúde emerge como uma perspectiva relevante para analisar esse fenômeno.
Embora as narrativas dos participantes do estudo evidenciam várias barreiras enfrentadas pelas pessoas trans na participação em práticas esportivas, também são mencionadas diversas potencialidades. Portanto, é essencial promover a equidade e a inclusão das pessoas trans no esporte, garantindo oportunidades justas de engajamento em diferentes modalidades esportivas.

Referências
BENTO, B. O que é transexualidade São Paulo: Brasiliense, 2008. Primeiros passos.
BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A.. A saúde e seus determinantes sociais. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 17, n. 1, p. 77–93, jan. 2007.