01/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO15.2 - Promoção, educação e comunicação em/na saúde |
47016 - POPULAÇÃO DE TRANSEXUAIS E TRAVESTIS NO CONTEXTO DO ACESSO À SAÚDE E AUTOMEDICAÇÃO COM HORMÔNIOS CLARISSA FIGUEREDO BRAGA - UFPE, FRANCISCA SUELI MONTE MOREIRA - UFPE, KARINA PERRELLI RANDAU - UFPE
Apresentação/Introdução O Brasil é o país com o maior número de crimes letais registrados contra a população trans no mundo. Comportamentos discriminatórios às orientações sexuais e identidades de gênero, quando ocorrem dentro dos serviços de saúde, constituem barreiras simbólicas ao acesso, sendo por isso considerados como determinantes de saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS) visa garantir o atendimento integral de saúde das pessoas transgênero, desde o uso do nome social, acesso à hormonização e cirurgias de adequação do corpo biológico à identidade de gênero social. No entanto, o desejo por um rápido processo, somado às barreiras de acesso, levam à redução da procura pelos serviços de saúde do SUS e à automedicação com altas doses de hormônios. Os riscos à saúde com o uso indiscriminado de hormônios são elevados, e tais efeitos podem implicar em complicações a exemplo de alterações tromboembólicas, aumento da pressão arterial, alterações hepáticas e problemas ósseos.
Objetivos Esta pesquisa de revisão de literatura teve como objetivo identificar e analisar a produção científica sobre o uso de hormônios em pessoas transgêneras do território brasileiro, a partir da automedicação.
Metodologia Nesta revisão de literatura sistemática foram utilizadas as bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCieLO), National Library of Medicine (PUBmed) e o buscador de bibliotecas científicas Google Scholar. A pesquisa não exigiu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), por ser uma revisão bibliográfica e ter sido feita somente através de dados disponibilizados eletronicamente.
Resultados e discussão Como resultado da pesquisa, foram selecionados cinco artigos que estudaram algum aspecto sobre o uso de hormônios entre a população de transexuais e travestis do Brasil, sendo cada um deles realizado em um estado diferente: Carrara et al. (2019) - Rio de Janeiro; Hanauer e Hemmi (2019) - Minas Gerais; Krüger et al. (2019) - Distrito Federal; Costa el al. (2021) - São Paulo; e Silva et al. (2022) - Bahia.
Todos os artigos estudados nesta revisão apresentaram que a maioria das mulheres trans e travestis que participaram dos estudos faziam, ou já fizeram ao menos uma vez na vida, uso de hormônios não prescritos. Em contraste, a maioria dos homens trans do estudo de Carrara (2019) relataram utilizar prescrição médica, demonstrando que havia algum acompanhamento profissional.
Pode-se inferir que a diferença na forma de obtenção dos hormônios entre os gêneros, em parte ocorre devido à grande dificuldade dos homens trans em obter testosterona sem prescrição, fazendo-os recorrer ao acompanhamento profissional, bem como pelo contexto social das mulheres trans e travestis, as quais sofrem um forte processo de estigmatização, discriminação, além da falta de profissionais qualificados em atender essa demanda.
Silva e colaboradores (2022) apontaram que a maioria das participantes eram jovens de cor autodeclarada negra, 77% eram trabalhadoras sexuais e 83% indicaram ter sofrido algum tipo de discriminação por sua identidade de gênero. Das participantes que fizeram uso nos últimos três meses, 68,1% utilizaram hormônio não prescrito de uma a sete vezes na semana.
Krüger (2019) e Costa (2021) trouxeram que o tipo de hormônio mais amplamente utilizado, entre as mulheres trans e travestis, no que se refere ao uso não prescrito, é a combinação de estrogênio e progesterona. Esse resultado pode estar relacionado ao fácil acesso nas farmácias que dispensam anticoncepcionais sem a necessidade de prescrição médica.
Hanauer e Hemmi (2019) relataram que o uso de hormônios representa uma “nova vida” para pessoas trans, e que proporciona uma “boa passabilidade social”, sendo esta a capacidade de ser visto de acordo com a identidade de gênero com a qual se identifica. Refletindo assim, a importância da ampliação do acesso e acompanhamento no processo de hormonização dessa população.
Conclusões/Considerações finais Na literatura científica foi possível encontrar artigos que levantaram questões referentes ao uso indiscriminado de hormônios por pessoas transexuais e travestis, na maioria das vezes por consequência das transfobias, estigmatização, falta de sensibilidade e despreparo dos profissionais, barreiras que os afastam dos serviços de saúde.
É importante que as lideranças municipais reconheçam as necessidades de melhoria no acolhimento e cuidado dessa população, ampliando as capacitações dos profissionais sobre as temáticas de gênero, sexualidade e saúde, incentivando assim a cultura de respeito à diversidade e uma atenção à saúde qualificada para a população trans. Além disso, há necessidade de mais estudos voltados para as reais condições de saúde das pessoas que usam hormônios de forma indiscriminada, para fortalecer a luta pelos direitos e maior visibilização dessa população no âmbito da saúde.
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