Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO16.1 - Temas de Saúde Reprodutiva

46450 - A IMPORTÂNCIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS EM SAÚDE NA FORMAÇÃO MÉDICA: EXPERIÊNCIAS A PARTIR DE UM INTERNATO EM SAÚDE COLETIVA NA ÁREA DE OBSTETRÍCIA
STEPHANIA G. KLUJSZA - IESC/UFRJ, JOÃO VINÍCIUS DOS SANTOS DIAS - IESC/UFRJ


Contextualização
O presente trabalho tem o objetivo de compartilhar a experiência de ensino em Saúde Coletiva no internato rotatório em obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Reconhecendo a Saúde Coletiva como campo de conhecimentos e atuação multiprofissional com papel estratégico nas discussões de questões do processo saúde e doença, na própria organização da assistência e nas necessidades sociais de saúde, o internato de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da UFRJ é coordenado pelo Instituto de Saúde Coletiva (IESC). Após uma reformulação em 2018 e em conformidade com as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Medicina, o internato passou a abranger cinco áreas: Clínica Médica, Cirurgia, Pediatria, Medicina de Família e Comunidade e Ginecologia/Obstetrícia.
Em cada uma dessas áreas, é prevista a inserção da Saúde Coletiva em carga horária de 4 horas semanais, buscando promover no interno a reflexão acerca da relevância e aplicabilidade dos conhecimentos deste campo na prática profissional.


Descrição
O rotatório de obstetrícia é realizado na Maternidade Escola da UFRJ e desde julho de 2022 passou a ser coordenado por integrantes da área de Ciências Sociais e Humanas em Saúde do IESC.
As ciências sociais e humanas são fundamentais na formação médica por ampliarem sua visão para além dos aspectos biológicos e clínicos da saúde, proporcionando uma compreensão mais ampla e abrangente dos aspectos sociais, culturais e éticos relacionados à saúde e ao cuidado médico.
Dessa forma, a ênfase do internato em obstetrícia é a discussão de temas a respeito da saúde reprodutiva das mulheres, mais especificamente os que envolvem a gravidez, o parto e puerpério. Oferecendo recursos para que os internos possam questionar o ensino da medicina, buscar informações de maneira crítica e lidar com os aspectos subjetivos referentes à saúde e ao cuidado.
Para tanto, optou-se por aulas e atividades com temas fixos, sempre com assuntos de grande relevância para a formação médica e, frequentemente, negligenciados nesses espaços de conhecimento. Outras aulas são temas variáveis, sempre com uma abordagem interseccional e em interface com o conceito de justiça reprodutiva. As aulas são propostas de diferentes formas, podendo ser expositivas, a partir de dinâmicas ou atividades em grupos e, com frequência, utilizam-se de recursos audiovisuais, como documentário e materiais online. São ministradas pelos autores e por professores convidados de diversas áreas como saúde pública, antropologia, fisioterapia, psicologia, enfermagem, serviço social e distintas áreas da medicina, acreditando na importância da produção de um conhecimento transdisciplinar e integrado.


Período de Realização
De julho de 2022 até o presente momento.


Objetivos
Relatar a experiência do internato de Saúde Coletiva em Obstetrícia onde são enfatizadas discussões da área da ciências sociais e humanas em saúde, além de contribuir para as reflexões acerca da formação médica.


Resultados
Como resultado, a experiência proporcionou para os autores grande satisfação, assim como para os alunos, que por diversas vezes afirmaram o quanto os conteúdos foram significativos para as suas formações. Com frequência ouve-se: “nunca ninguém tinha dito isso para nós”. E, nesse processo, também se apresentaram as dificuldades dos futuros médicos. Desde o pouco conhecimento sobre a história da medicina e dos processos de patologização do corpo da mulher, passando pelo desconhecimento das legislações vigentes no que se refere aos direitos da gestante e parturiente, falta de conhecimento a respeito do propósito de existência dos conselhos de medicina e até das faltas de recursos dos médicos para lidar com o manejo dos pacientes. O que deixa evidente que o ensino da medicina ainda permanece muito focado no saber-poder exercido por essa figura.

Aprendizados
A importância das ciências sociais e humanas na formação médica para ampliação das referências de cuidado.
O internato tem se revelado também um espaço de acolhimento para o graduando de medicina que neste momento de sua formação passa a lidar diretamente com casos e situações clínicas o que, por vezes, gera receios e inseguranças.


Análise Crítica
As atividades do internato têm possibilitado uma ampliação dos referenciais de cuidado na formação médica, indo além da dimensão biológica e reconhecendo os determinantes sociais e culturais, as dimensões interseccionais de gênero, raça e classe envolvidas no cuidado em saúde e a valorização do protagonismo da mulher nos processos reprodutivos.