Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO16.2 - Enfrentamento e prevenção das violências contra as mulheres

45154 - A EPIDEMIA SILENCIOSA DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E O PAPEL DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: UM PROJETO DE INTERVENÇÃO
JÚLIA DE ALMEIDA ROFFÉ BORGES - FIOCRUZ, ANA LUÍSA KUEHN DE SOUZA - UFRJ, CHARLENE DE ABREU SILVA - FIOCRUZ, ANTONIA ROSEANNE DO NASCIMENTO SOARES, CRISTIANE BATISTA ANDRADE - FIOCRUZ, IEDA MARGARETE DA SILVA DE SIQUEIRA, KELLY ALESSANDRA SEGABINAZZI, IGOR SILVA LIMA, TAYLLANY ZIMMERER SILVEIRA - SMS MESQUITA


Apresentação/Introdução
Os dados sobre Violência Obstétrica (V.O.) ainda são frágeis no SUS, sendo difícil descrever e reconhecer a magnitude desse tipo de violência que atinge as mulheres e suas famílias. Uma equipe de residentes multiprofissionais em Saúde da Família, em uma Unidade Básica de Saúde no Rio de Janeiro, identificou, a partir de atendimentos em grupo e individuais com gestantes no cenário de prática, relatos regulares de V.O. Também foram verificadas as ausências de ações para prevenção e acolhimento destes casos.

Objetivos
Objetivo geral: Discutir a problemática da V.O. vivenciada por mulheres assistidas por uma equipe de Saúde da Família, no município do Rio de Janeiro - RJ; Objetivos específicos: Elaborar um instrumento de coleta de dados para a sistematização dos casos na Atenção Primária à Saúde; Desenvolver ações de cuidado para ofertar assistência às mulheres que sofreram violência obstétrica; Propor ações individuais e coletivas que contribuam para a prevenção da violência obstétrica na atenção primária à saúde.

Metodologia
A abordagem metodológica escolhida para este trabalho foi o Projeto de Intervenção (PI). O PI é uma pesquisa-ação, na qual os atores implicados participam simultaneamente e colaboram na definição de um dado problema, cujo objetivo consiste em solucioná-lo ou, pelo menos, elucidar os problemas da situação observada. O ponto de partida do PI é a identificação da situação-problema, sua problematização, busca de explicação e proposição de soluções.

Resultados e discussão
Para a construção do descritor do problema, foram selecionadas todas as mulheres com filhos de até dois anos assistidas por uma eSF. A partir desta seleção, foi feita uma busca ativa nos prontuários eletrônicos, nos quais a equipe leu os registros das consultas de pré-natal e puerpério, em busca de relatos de V.O. Em seguida, os achados foram registrados e sistematizados em uma planilha no Excel®. A planilha possuía como colunas/dados registrados: Nome (Mulheres gestantes atualmente, puérperas e mães de crianças de até 2 anos); Raça/Cor (BA (branca)/ PA (parda)/ A (amarela) /Pr (preta); Beneficiária do PBF/FC (Sim/Não); História gestacional; Relatos sobre o parto e assistência na maternidade; Indícios de violência obstétrica/ Falha na assistência (Sim/ Não/ Indeterminado/ Primeira gestação).
Foram encontradas 96 mulheres. Em 8,3% dos prontuários foi encontrado relato de experiência prévia de V.O. Em 27% dos casos, os dados eram indeterminados (ausência de relatos sobre as gestações prévias, o que impossibilita afirmarmos a inexistência de episódios). O que mostra uma ausência de dados em praticamente 1⁄3 dos casos, havendo uma possível diminuição na porcentagem do indicador. Por exemplo, se em 100% dos casos indeterminados, houvesse a presença de episódios de V.O. que não conseguimos captar, o indicador subiria de 8% para 25%. Por isto, considera-se que há uma insuficiência de dados sistematizados sobre o tema, nos prontuários eletrônicos.
A V.O. é um problema abrangente, que envolve diferentes níveis do SUS e outros segmentos sociais. A partir da sua análise podemos elencar diversas causas, porém, para criar a intervenção, elegemos dentre estas, aquelas com maior potencial para provocação de mudanças e sobre as quais a APS teria, de fato, governabilidade para colocar em prática. São elas: 1) Ausência de ações de qualificação e sensibilização dos profissionais acerca do tema; 2) Ausência de ferramentas de sistematização de casos de V.O.; 3) Ausência de ações sistematizadas relacionadas à prevenção da V.O.; 4) Ausência de sistematização de ofertas de assistência para mulheres que sofreram V.O.
Para cada causa-crítica escolhida, foram elencadas ações, recursos necessários, produtos a serem alcançados, prazos e responsáveis. Em seguida, 2 ações foram escolhidas para monitoramento. O monitoramento foi guiado pelas perguntas avaliativas: A ação proposta atingiu seu objetivo junto ao público alvo? As atividades propostas foram implementadas conforme o esperado?

Conclusões/Considerações finais
A humanização da assistência, desde o início da gestação, parto e nascimento, deve ser o modelo preconizado e proposto para incluir as necessidades das mulheres, recém-nascidos e seus familiares. Independentemente do nível da atenção à saúde, o serviço prestado para esse público tem que conciliar os avanços tecnológicos, com os aspectos sociais e culturais relacionados ao parto, e condizentes com os direitos das usuárias. Particularmente, a APS deve estar apta a reconhecer e enfrentar os casos de violência contra as mulheres grávidas. Para tal, o modelo do serviço de saúde prestado precisa estar organizado e ter sua missão institucional alinhada com o envolvimento e aderência de gestores responsáveis com o tema. Uma vez que se trata da relação entre a mulher e o profissional de saúde, carregando muitas subjetividades a serem analisadas.