Comunicação Oral

01/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO16.2 - Enfrentamento e prevenção das violências contra as mulheres

46333 - REDE DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA ONTRA AS MULHERES: O PAPEL DO SETOR DA SAÚDE
JOSIANE NUNES MAIA - UEL, MARSELLE NOBRE DE CARVALHO - UEL


Apresentação/Introdução
A violência contra as mulheres e toda a complexidade que envolve esse tema está em evidência na área da saúde coletiva, pois a violência não afeta apenas quem a sofre, mas traz sequelas para a mulher, para a família e para a sociedade. A identificação deste problema demanda a assistência no sistema de saúde, muitas vezes em diferentes níveis de atenção, e necessita de articulação intersetorial. A violência doméstica representa um enorme desafio para as equipes dos serviços de saúde, pois a maioria dos profissionais não está adequadamente treinada para enfrentar o problema. No entanto, os serviços atendem no dia a dia casos de mulheres em situação de violência, e ainda que muitas vezes não reconhecidos como violência, resultam em aumento da procura pelo serviço e gera baixa resolutividade.

Objetivos
Diante desse contexto no qual a violência é causadora de danos para as mulheres essa pesquisa teve como objetivo analisar o papel do setor da saúde na rede de enfrentamento à violência contra a mulher, na perspectiva dos profissionais da rede de enfrentamento a violência contra as mulheres.

Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo, de caráter exploratório e analítico, sendo a amostra intencional, realizado em um município do norte do Paraná. A pesquisa contou com a participação de 28 integrantes da rede de enfrentamento local. Para obtenção dos dados utilizou-se as técnicas da observação participante, o diário de campo, a análise documental e a entrevista na qual utilizou-se de um roteiro semiestruturado elaborado pelas autoras, contendo 31 questões. O período de coleta dos dados ocorreu entre abril e agosto de 2021. Para a análise dos dados utilizou-se a análise de conteúdo de Bardin. As duas categorias identificadas na análise foram: potencialidades e desafios na atuação do setor da saúde no enfrentamento à violência contra as mulheres.

Resultados e discussão
O trabalho em rede emergiu como potencialidade do setor da saúde no enfrentamento a violência contra as mulheres. Observa-se que devido ao processo de trabalho que conta com fluxos e protocolos de atendimento organizados sobre as bases de políticas públicas e a diversidade da composição dos profissionais dos serviços de saúde, há maior facilidade na realização do trabalho intersetorial, o que colabora no combate à violência. A participação e o comprometimento do setor da saúde na rede de enfrentamento evidenciaram-se como potencialidades que favorecem na prática a execução de políticas públicas voltadas para o enfrentamento à violência contra as mulheres. As demandas da saúde mental emergiram como um desafio, pois envolvem questões relacionadas a construção de fluxos, planejamento de políticas públicas específicas, atendimento emergencial fragmentado sem oferta de tratamento contínuo, e ainda o fato do município contar com apenas um Centro de Atendimento Psicossocial. Outras situações encontradas foram a insuficiência de recursos humanos e de infraestrutura, dificuldades em acolher e compreender os casos e a desarticulação com a rede de atenção psicossocial local. Questões que não são exclusivas do município estudado, em outros municípios observa-se dificuldade no acolhimento a mulheres em situação de violência pelas equipes. Assim, constituem barreiras ao acolhimento de demandas em saúde mental e impedem a garantia de continuidade da atenção no âmbito psicossocial e jurídico. A pandemia da Covid-19 surgiu das análises como um desafio no enfrentamento a violência contra as mulheres, revelando as fragilidades do setor da saúde e provocando a reorganização dos serviços que priorizaram o atendimento a casos suspeitos ou confirmados do coronavírus. O aborto legal foi identificado como um procedimento que enfrentou muitas barreiras. Houve um aumento da procura pelo aborto legal durante a pandemia, porém o serviço de saúde do município onde o procedimento é realizado não obteve melhorias e nem ampliação do seu espaço físico. O que aconteceu é que o espaço que aguardava a contratação de profissionais para atender maior número de mulheres que buscassem o procedimento do aborto legal, foi utilizado para o atendimento aos pacientes com coronavírus.

Conclusões/Considerações finais
O estudo reconhece que as potencialidades evidenciam a necessidade de fortalecimentos das práticas pontuadas para que elas sejam mantidas, melhoradas e até mesmo ampliadas, e que as questões identificadas como desafios recebam um olhar focado dos gestores, docentes, profissionais e acadêmicos sobre a urgente necessidade de fortalecer as políticas públicas e a rede de enfrentamento a violência contra as mulheres. Sugerimos a educação permanente como ferramenta transformadora das práticas profissionais para o enfrentamento desses desafios e buscamos estimular discussões e reflexões sobre o papel setor da saúde que envolve diversos saberes e presta atendimento a situações extremamente complexas como a violência contra as mulheres.