46698 - “ISSO PODE SALVAR A VIDA DELA”: APLICATIVO MÓVEL (EU DECIDO) DE APOIO À DECISÃO E PLANEJAMENTO DE SEGURANÇA PARA MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA POR PARCEIRO ÍNTIMO MARCOS CLAUDIO SIGNORELLI - UFPR, ROZELI MARIA MATEUS VICELLI - UFPR, RITA ESTELA SALINO - UFPR, MARIA AMÁLIA CARVALHO GUIMARÃES - EMORY UNIVERSITY, JAINY DA COSTA ROSA - UFPR, MARYANA ARANTES - UFPR, SANDRA MARQUES PRADO - CASA DA MULHER BRASILEIRA DE CURITIBA, DABNEY P. EVANS - EMORY UNIVERSITY
Apresentação/Introdução A violência por parceiro íntimo (VPI) representa grave ameaça à saúde e segurança das mulheres, necessitando urgentemente de estratégias acessíveis e eficientes para lidar com esse problema. Dispositivos auxiliares de apoio à decisão e planejamento de segurança on-line (SDA, do inglês “Safety Decision Aids”) são ferramentas promissoras no apoio às mulheres em situação de VPI. Os SDA vêm sendo utilizados e avaliados em diversos países como EUA, Austrália, Canadá e Quênia. No entanto, pouco se sabe sobre seu uso potencial no Brasil, país com taxas alarmantes de VPI e feminicídio, e onde nenhum SDA foi rigorosamente testado até o momento.
Objetivos Objetivou-se desenvolver o protótipo de um SDA adaptado às necessidades das mulheres brasileiras em situação de VPI (denominado “Eu Decido”), investigando as percepções das principais partes interessadas (mulheres em VPI e profissionais que as atendem) sobre a viabilidade dessa estratégia para a realidade brasileira.
Metodologia A partir de estudo de viabilidade realizado anteriormente (2018-2020) na Casa da Mulher Brasileira (CMB) de Curitiba, desenvolvemos o protótipo, adotando metodologia qualitativa (2021-22), ouvindo mulheres em situação de VPI e profissionais que as atendem na CMB, ao longo de todo processo. Para isso, foram adotados quatro eixos consecutivos de pesquisa: 1) tradução e adaptação transcultural (TAT) do conteúdo do SDA disponível em inglês para o português brasileiro, conduzindo-se entrevistas cognitivas individuais (n=12) para equivalências semântico-idiomática, experiencial e conceitual; 2) apresentação e discussão do conteúdo traduzido em três grupos focais (GF) com 18 participantes (n=18); 3) revisão do conteúdo, incorporando as sugestões das participantes dos GF, e revisão técnica jurídica conduzida por acadêmicas e docente do Curso de Direito, vinculadas à Clínica de Direitos Humanos da universidade; 4) o conteúdo revisado foi inserido no aplicativo móvel “Eu Decido”, criando-se elementos gráficos, que passaram por nova rodada de discussão em três GF com 20 participantes (n=20). Em todas etapas, o conteúdo qualitativo foi transcrito e realizada análise temática de categorias emergentes, cotejada por teorias de gênero, feminista e de saúde coletiva. O estudo foi aprovado por comitê de ética e somente participaram mulheres em situação de VPI que não estavam em crise, seguindo-se as diretrizes da Organização Mundial da Saúde para pesquisas com esse grupo.
Resultados e discussão Os resultados indicaram que a maioria das participantes considerou o Eu-Decido viável, destacando seu potencial para sensibilizar as sobreviventes de VPI e a inclusão de recursos de segurança e recursos visuais como principais vantagens da ferramenta. No primeiro eixo realizamos a TAT de instrumentos que ajudaram as mulheres na avaliação de riscos e prioridades para tomada de decisão, incluindo: Escala de “Estratégias e Comportamentos de Segurança”; “Preparo para a Tomada de Decisão”; e uma versão adaptada da “Escala de Conflito Decisório” para VPI. Nos GF emergiram como categorias temáticas: a) questões jurídicas – maior explicação de questões jurídicas inseridas no SDA, caso as mulheres decidam deixar o relacionamento abusivo, por exemplo, divórcio/partilha do patrimônio, guarda compartilhada dos filhos, alienação parental, e como acessar a justiça quando não podem pagar advogadas; b) linguagem - o SDA deve ter linguagem simples, concisa e com informações atualizadas da rede intersetorial, informando as usuárias sobre os serviços oferecidos; c) integração com a rede - o SDA precisa interligar as mulheres aos serviços especializados da rede, onde equipes treinadas possam ouvi-las e apoiá-las, caso optem por atendimento presencial; d) a CMB como recurso chave – as participantes destacaram que o aplicativo pode potencializar o papel da CMB no cuidando das sobreviventes, permitindo o follow-up on-line de casos presenciais atendidos. A equipe da CMB levantou preocupações sobre a adequação do conteúdo e linguagem do aplicativo para mulheres com baixo nível de escolaridade e os riscos de segurança associados ao uso independente, defendendo o uso facilitado do Eu Decido junto com profissionais treinadas para contornar esses desafios. As sobreviventes, no entanto, elogiaram a confidencialidade e a flexibilidade associadas ao uso independente, sugerindo que mais pesquisas deveriam investigar a viabilidade dessas modalidades, incluindo a integração potencial em ambientes de atenção primária à saúde, dada a disponibilidade limitada de CMB em todo o país.
Conclusões/Considerações finais Os resultados fornecem elementos significativos sobre o uso de SDA online no Brasil, enfatizando a importância de centrar as vozes das sobreviventes em todas as fases da pesquisa de intervenção em VPI. Na próxima fase, testaremos uma versão reformulada do Eu Decido (versão 2.0) com mais mulheres, para entender melhor como ferramentas digitais podem ser implementadas para apoiar as sobreviventes de VPI.
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